Opinião

TECNOLOGIA A SERVIÇO DA ÉTICA

As inovações tecnológicas, assim como ocorre em todos os setores, estão revolucionando a atividade de auditoria independente. Nesta, contudo, tais avanços têm um significado muito especial no presente momento, quando o Brasil realiza processo sem precedentes de investigação, denúncias e aplicação de sanções legais nos crimes de corrupção.

A tecnologia da informação, aplicativos e softwares cada vez mais sofisticados, as facilidades de captura e organização de informações e a alta conectividade contribuem para que possamos atender melhor aos anseios da sociedade por mais transparência, lisura e ética nos setores público e privado.

Entretanto, a mesma tecnologia que favorece o desenvolvimento de nossos serviços e as respostas a toda essa demanda por compliance que emana do cenário nacional, também agrava, em seu mau uso por parte de pessoas e organizações predispostas a promover fraudes e irregularidades, elevando os riscos ao sistema financeiro e aos setores público e privado. Nesse contexto, merecem nossa máxima atenção as questões relacionadas à rastreabilidade do fluxo de capitais e à utilização das formas eletrônicas de pagamentos e transferências de recursos, incluindo as moedas virtuais. A lavagem de dinheiro, corrupção e ações que violam a livre concorrência continuam sendo objetos de preocupações.

Auditores independentes e demais profissionais da Contabilidade têm papel relevante no enfrentamento desses atos danosos. Para desempenhar de modo cada vez mais eficaz a sua missão e a sua grande responsabilidade de contribuir para um mundo melhor para se trabalhar e viver, também precisam aperfeiçoar-se e agregar os avanços tecnológicos, no mesmo ritmo das transformações que pautam o mundo contemporâneo.

Cada vez mais, é importante utilizar as inovações tecnológicas e entendê-las como ferramentas de aperfeiçoamento do trabalho. Esse procedimento exige algumas reflexões quanto à recorrente discussão sobre as ameaças da tecnologia, numa abordagem dos riscos de o ser humano ser substituído por máquinas em muitas tarefas e funções. Essa polêmica já deveria estar superada em áreas, como a auditoria e a contabilidade, nas quais a capacidade de análise, a intuição, o discernimento, o conhecimento e a credibilidade são fatores decisivos.

Nada substituirá os profissionais nessas virtudes. Por isso, elas precisam ser preservadas e exercitadas com ênfase, o que significa um avanço no debate da relação homem-máquina. Nesse contexto, a postura de fato inovadora é cuidar muito para que os seres humanos não se comportem como máquinas, sem sensibilidade, ética e preocupação com os indivíduos e a sociedade.

Portanto, assimilar as inovações tecnológicas e entendê-las como ferramentas de aperfeiçoamento do trabalho humano inserem-se nos principais desafios a serem enfrentados. Por isso, a transposição à era digital é tão importante para os auditores independentes quanto toda a educação continuada relativa a avanços como o Novo Relatório do Auditor, o processo de convergência às Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (IPSAS) e o processo de implantação no Brasil da norma Noclar (Responding to Non-compliance with Laws and Regulations), dentre outras iniciativas que têm contado com grande empenho do Ibracon - Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e demais as entidades contábeis.

As tecnologias atuais contribuem para que tudo seja feito de modo mais preciso, rápido, seguro e eficaz. Ou seja, são ferramentas que ajudam os profissionais a atenderem àquilo que a sociedade mais espera deles: a contribuição de seu conhecimento técnico e de seu trabalho para que a ética, a transparência e a lisura no ambiente de negócios e nas relações entre o Estado e a iniciativa privada sejam os elementos basilares de nosso desenvolvimento!

Idésio Coelho
é presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon).
ibracon@ibracon.com.br


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