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Por muito boas e fundamentadas razões, olhamos para o ano recém-iniciado voltado para os grandes desafios que o governo, com uma política diferenciada dos anteriores, colocará em prática. A torcida para que acertem é grande!
Não faço julgamentos precipitados, mesmo por que nos cabalísticos 100 dias de Macron e Macri, com grandes celebrações, vimos, posteriormente, a popularidade de ambos despencar.
Voltando ao nosso quadro, meu julgamento, por diferentes razões, irá requerer certamente um período de avaliação mais longo, sem esquecer que os primeiros dias sejam indicativos de tendências. O importante é acertar no atacado e relevar os erros no varejo! Alguns desacertos nesse período inicial, foram amplamente noticiados pela imprensa, não preciso aqui repeti-los. Lembro, por exemplo, a decisão da saída do Pacto Global de Migração, que tinha recebido o apoio do governo Michel Temer, foi revertida. Confesso que não entendi nenhuma explicação plausível.
Mas o que me proponho hoje é colocar em pauta uma visão global de negócios para 2019. Ao final do ano recebemos um sem número de previsões, seja de órgãos internacionais, reputadas instituições financeiras, empresas de consultoria, analistas conjunturais, etc.
A que mais chamou atenção foi a da ATKEARNEY. Prepararam um documento com 10 previsões para 2019, a exemplo do que haviam feito para 2018. Certamente, algumas questões, que na opinião de seu Conselho de Políticas de Negócios Globais, até então não me haviam despertado atenção.
Vamos a elas, e concluirei com meus comentários específicos.
1. Intensificação da guerra comercial EUA x China
Ao longo de 2018, o presidente norte-americano Donald Trump impôs tarifas às importações da China. Pequim retaliou com a elevação de tarifas aos produtos americanos e criou um ambienta mais restritivo na China. Mais de 50% das empresas nos EUA afirmam estar enfrentando mais burocracia e inspeções pelas autoridades chinesas. Em dezembro as administrações Trump e Xi concordaram com uma trégua temporária, mas que seguramente retomará forças em 2019. Como resultado, as empresas precisam repensar suas estruturas de suprimentos.
COMENTÁRIOS: o tema EUA X China, pelo visto, transcende aspectos de uma guerra comercial. Nesse xadrez mundial de disputa de poder, é “briga de cachorro grande”. Precisamos ter cuidado e prudência para não assumir posições ideológicas de curto prazo que possam ter repercussões econômicas negativas posteriores para nosso comércio internacional como um ator global.
2. Destaque das Bitcoins no mercado de criptomoedas
Em 2018, todas as criptomoedas perderam muito valor, depois da bolha especulativa em 2016 e 2017 – as dez principais perderam mais de 80%de seu valor conjunto entre janeiro e setembro. A queda se deveu em boa parte a questões ligadas a segurança. O Bitcoin, que em 2016 respondia por 90% de todo o mercado de criptomoedas, viu sua representatividade cair para 33% em fevereiro deste ano. Aos dez anos, completados em outubro de 2018, a moeda deve retomar crescimento em 2019, à medida que as altcoins, como são conhecidas as moedas alternativas ao Bitcoin, perdem a confiança dos investidores. A isso pode-se somar uma regulação menos rígida do setor.
COMENTÁRIOS: Estava entre muitos que achavam que as criptomoedas seria um modismo! Estou revendo minha posição a respeito! Vieram para ficar e quando nosso craque Ronaldinho disse que lançaria sua criptomoeda é para ficar com as ‘barbas de molho’.
3. Inovações trazidas para amenizar a crise do lixo
Tornou-se impossível ignorar a dificuldade de lidar com o desperdício em 2018. Tanto é que, ao longo do ano, a China e outros países asiáticos impuseram limites à importação de plásticos. Apesar dos esforços, essas proibições ainda são muito pouco para resolver o desafio representado por esse material, bem como os problemas trazidos pelo imenso volume de lixo produzido em todo o mundo. Segundo o Banco Mundial, a produção global de lixo crescerá 70% entre 2016 e 2050. O desperdício de comida representará a maior parcela desse lixo, mas o crescimento do e-commerce tem gerado um aumento exponencial no descarte de papelão e outros materiais utilizados para empacotar mercadorias. Nos países emergentes, cerca de 90% do lixo é descartado ilegalmente ou queimado. O mundo está reconhecendo essa crise e vem promovendo esforços para criar a economia circular, capaz de reduzir, reutilizar e reciclar o lixo de maneira mais eficiente. Em 2019, devemos ver uma aceleração das iniciativas de inovação para processos de gerenciamento do lixo em todo o mundo.
COMENTÁRIOS: Lixo: tema muito bem levantado pela análise do Global Business Politic Council. Certamente, novas soluções terão que ser encontradas e precisamos ficar alertas. Há que buscar soluções tecnológicas. Os aterros sanitários no Brasil estão no limite.
4. Regulamentações para o enxofre impactando a indústria do transporte marítimo
A Organização Marítima Internacional (IMO) trabalha em novas regulamentações ligadas ao enxofre que terão implicações significativas sobre a indústria de transporte marítimo – e em 90% do comércio global que depende dele. A partir de janeiro de 2020, por exemplo, entra em vigor uma regulamentação que proíbe o funcionamento de navios que utilizem combustível com 0,5% de enxofre ou mais em sua composição. Os navios podem fazer adaptações para reduzir emissões, mas devido ao alto custo (entre US$ 1 milhão e US$ 10 milhões por navio), atualmente menos de 3% da frota global já realizou esse investimento. Esse cenário deve levar a um ambiente de transição em 2019, que pode trazer impactos para além da indústria de transporte marítimo. A cada dia que passa, os valores do combustível ganham volatilidade nas refinarias. As empresas de transporte já começam a alertar para a potencial falta de combustível e os gastos adicionais com combustível estimados em US$ 60 bilhões até 2020.
COMENTÁRIOS: Jamais poderia associar que a regulamentação do enxofre pudesse ter tão forte impacto sobre a navegação e consequentemente implicações nos seus custos e repercussões sobre custos nos fretes marítimos.
5. Epidemia global de ansiedade levará a um mercado de novos produtos
Mais de 300 mil pessoas – cerca de 5% da população mundial – sofrem de depressão ou ansiedade, custando cerca de US$ 1 trilhão à economia mundial. Segundo o Gallup 2018 Global Emotions Report, que ouve pessoas de 146 países, o nível de felicidade está em seu nível mais baixo desde que a pesquisa foi criada, em 2006. Para aliviar os efeitos desse cenário, as pessoas estão buscando soluções além de medicamentos. Em 2019, veremos uma proliferação de novos produtos destinados a combater a ansiedade e depressão nas prateleiras, movimentando um mercado multibilionário.
COMENTÁRIOS: E o que dizer da ansiedade? Obviamente, aqui no Brasil temos excelentes razões para estarmos mais do que nunca ansiosos, mas surpreendeu-me que a Global Emotions Report, que reúne 146 países desde 2006 quando a pesquisa foi criada, o nível de felicidades está no seu nível mais baixo. A primeira vez que escrevi sobre o tema FELICIDADE (Essa tal felicidade, Estadão - 17/03/2002) chamou-me a atenção que o maior nível de felicidade não estava nos países mais ricos, mas, supreendentemente, em países de renda mais baixa, como alguns da América Latina e o caso do Butão. Hoje certamente, creio que não seria o caso. Portanto, os fabricantes de Rivotril, Frontal e análogos, irão prosperar.
6. Crise de crédito nos mercados emergentes
Alguns mercados emergentes, como Argentina, Brasil, Paquistão, África do Sul e Rússia passaram por um sério estresse econômico e financeiro como resultado de dívidas externas e desvalorização cambial. O Fundo Monetário Internacional (FMI) tomou medidas importantes, mas a volatilidade deve continuar em 2019.
COMENTÁRIOS: Crise de crédito é sempre um tema controverso, e no caso específico de nosso país, creio que conseguimos em 2018 contornar os aspectos da situação internacional sobre nossa dívida externa e desvalorização. Nossas reservas cambiais tiveram enorme relevância e não cremos que 2019 seja diferente. Sabidamente nossa vulnerabilidade é a dívida interna.
7. Escassez de areia para a indústria da construção
COMENTÁRIOS: A escassez da areia para a indústria da construção pode ter impacto no custo da construção que pode impactar o custo das habitações. Ao longo do tempo já tivemos várias análises que uma de nossas vantagens comparativas era o fato ÁGUA. Não me dava conta que a areia seria uma nova variável relevante.
Os itens 8, 9 e 10 também despertaram minha atenção:
8. Efeitos do relacionamento entre Rússia e China – Será que vão dar os “braços” contra EUA?
9. Uma África mais conectada do que nunca – Será a década da África?
10. Materialização do “Iron Man” real em exoesqueleto (Robótica x Inteligência Artificial) – Ainda não conseguimos imaginar a que seremos levados pelo “homem esqueleto”.
Das previsões que fizeram no ano anterior, para 2018, acertaram em 100% nos seguintes itens:
Para terminar essa incursão sobre 2019 e anos seguintes, cito artigo de Assis Moreira publicado no Valor de 08/01/19 que o “Fórum de Davos” vai ampliar a pressão contra carne bovina. A ideia de estimular substituição de parte do consumo por vegetais como jaca e insetos Pesquisas de Davos, falam ser “food tech” como a carne moída sintética, micro proteínas, sobretudo derivadas de cogumelos. No entanto, a demanda para carne bovina continua elevada no curto prazo.
Já que falamos em Davos, na reunião de janeiro farão um manifesto por nossa ordem global. O manifesto de Klaus Schwab, residente do Fórum Econômico Mundial, enviado aos participantes do Fórum, aponta necessidade de "um novo ordenamento (framework) para cooperação global a fim de preservar a paz e acelerar o progresso sustentável". Insiste na urgência de se redesenhar novas estruturas institucionais internacionais, alertando que "reformas nos processos e instituições existentes não serão suficientes".
O manifesto destaca como o mundo físico vai encolher em comparação a um mundo digital interconectado. A desmaterialização da economia será acelerada com a transição para uma econômica circular e compartilhada. A manufatura será revolucionada pela automação, localização e customização, substituindo as cadeias tradicionais de suprimento.
Boa parte dos empregos vão ser substituídos pela automação artificial. A renda tradicional vinda do emprego será substituída por crescentes tarefas criativas, venture capital etc, o que vai requerer reforma dos sistemas tributários. Todo o sistema educativo precisará ser renovado.
O manifesto alerta para o risco de a 4ª Revolução Industrial ocorrer em duas velocidades, com muitos governos ficando para trás até por não entenderem a urgência de políticas que considerem a nova realidade.
Roberto Teixeira da Costa
é economista e foi o primeiro presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
teixeiradacostaroberto@gmail.com