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Administradores brasileiros se preocupam pouco com planejamento sucessório de conselheiros e CEOs. Pesquisa do GNDI mostra que o Brasil também fica para trás em quesitos como avaliação formal do board e transparência sobre remuneração de administradores
O Global Network of Director Institute (GNDI), rede internacional que congrega os principais institutos de conselheiros e de governança de 21 países e regiões, conduziu em 2018 sua primeira pesquisa global. O resultado da Global Director Survey, além de traçar um importante panorama das principais preocupações de conselheiros de administração e profissionais de governança, serve também de alerta ao Brasil. O levantamento mostra que nossos administradores se preocupam menos com planejamento sucessório para cargos-chave, poucos avaliam formalmente o conselho de administração e ainda é baixo o índice de transparência sobre a remuneração dos administradores.
Para dimensionar os resultados, importante ressaltar que a pesquisa considerou as respostas de 2.159 conselheiros de administração e profissionais de governança de 17 países, dos quais 8% são brasileiros ou atuam aqui. Entre os respondentes no país, 42% informaram que, nos últimos dois anos, os conselhos em que atuam não discutiram sobre os próprios planejamentos sucessórios. Na amostra global, o mesmo índice ficou em 23%. A sucessão do principal executivo (CEO) também tem recebido pouca atenção: no Brasil, 58% dizem que não discutem a sucessão do CEO ou só discutem quando a posição está em aberto, enquanto na amostra global 68% informaram que as discussões são parte do planejamento estratégico ou acontecem de maneira proativa em um processo de planejamento formal e de revisão regular.
No quesito avaliação do conselho, outro sinal amarelo se acende. Apenas 20% dos respondentes brasileiros informam que suas empresas avaliam formalmente o funcionamento do conselho de administração, enquanto na média global o índice é de 42%.
Em relação à divulgação sobre a remuneração de conselheiros e do principal executivo, o índice global é quase duas vezes maior que o brasileiro (59% contra 32% para os conselheiros e 51% versus 27% no caso do CEO). Ainda que consideremos somente a divulgação voluntária – haja vista que na amostra brasileira há uma preponderância de empresas de capital fechado (não obrigadas a divulgar esses dados) em relação à amostra global (61% x 36%) –, o índice no Brasil é quase três vezes menor que o internacional (7% contra 21% para os conselheiros e 6% versus 16% no caso do CEO).
Já sobre a divulgação da participação por gênero no conselho e na diretoria executiva, 78% dos brasileiros informaram não realizar qualquer tipo de divulgação, enquanto globalmente esse número fica em 45%.
Embora haja essas discrepâncias entre os índices brasileiros e globais, há alguns pontos nos quais estamos, praticamente, no mesmo patamar. Um desses aspectos é a baixa participação de conselheiros em programas de desenvolvimento e educação continuada, importantes ferramentas para aprimoramento constante do profissional para potencializar seu desempenho no colegiado e capacidade de contribuição com a organização. Apenas 21% dos respondentes nas duas amostras indicam participar frequentemente ou muitas vezes desse tipo de atividade.
Em questões envolvendo tecnologia também há bastante alinhamento entre os conselheiros brasileiros e os demais sobre quais mais afetarão as suas organizações nos próximos anos: inteligência artificial, big data e internet das coisas.
Apesar disso, em relação à utilização de ferramentas tecnológicas no exercício de suas funções e seu preparo para lidar com essas novas preocupações, as diferenças reaparecem. Dentre os respondentes brasileiros, 40% concordam que seus conselhos possuem altos níveis de compreensão sobre segurança e riscos cibernéticos (globalmente esse índice é de 53%). Menos de um terço (27%), no entanto, informou que seus conselhos fazem uso de data analytics em seu processo de tomada de decisão, enquanto internacionalmente esse número chega a 52%. Quanto ao uso de big data a disparidade é um pouco menor, pois mesmo internacionalmente a tecnologia ainda é pouco utilizada: 19% na amostra brasileira contra 28% na amostra global.
Além desses aspectos, a pesquisa abordou também questões econômicas, sociais e relacionadas a confiança nos negócios. O relatório completo traz os resultados agregados por continentes, mas me preocupei em trazer neste espaço alguns destaques relativos à amostra brasileira da pesquisa e mais diretamente relacionados aos aspectos de governança, a fim de contrastá-los aos resultados globais (ambos os documentos estão disponíveis no Portal do Conhecimento do IBGC).
Afinal, na competição por recursos, sejam eles financeiros ou humanos, num mundo cada vez mais integrado e globalizado, não basta nos compararmos com quem está ao nosso lado. É fundamental ter uma visão mais ampla e esta primeira pesquisa global do GNDI é um passo nesta direção. Se avaliarmos o Brasil em relação ao seu passado nem tão distante, certamente já evoluímos muito. Mas a comparação internacional nos mostra que esse movimento pode ainda não ter sido suficiente. Temos um longo caminho pela frente.
Luiz Martha
é gerente de Pesquisa e Conteúdo do IBGC e representante do instituto no Policy Committee do GNDI.
comunicacao@ibgc.org.br