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AS NOVAS CAPACITAÇÕES NECESSÁRIAS AOS CONSELHEIROS DE ADMINISTRAÇÃO

Os novos modelos de liderança enfatizam cada vez mais as chamadas soft skills. Já vai longe o tempo em que os líderes eram valorizados exclusivamente por sua experiência prévia, educação formal e capacitação técnica. O momento em que vivemos, caracterizado por volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, referidas frequentemente pelo acrônimo VUCA (em inglês), demandam autoconhecimento, empatia e habilidade de relacionamento.

Há pouco tempo, escrevi um artigo em que abordava uma situação que muito me desafia em minha atuação como coach, que são os líderes arrogantes. E fazendo uma reflexão, percebi que esta também é uma situação comum no âmbito dos conselhos de administração.

A arrogância se assemelha a uma espécie de cegueira. A pessoa se torna impenetrável, passa a não considerar a opinião dos demais, acredita que não tem mais nada a aprender e perde a capacidade de fazer leituras do contexto. Da mesma forma, não tolera bem a diversidade, de pessoas ou de posicionamentos – aspecto que vêm sendo enfatizado como forma de obter melhores resultados.

Uma das origens da arrogância é a autoconfiança, essencial para um líder que precisa ter paixão e acreditar no que faz, correr determinados riscos e persuadir os demais em muitas situações. O problema é quando ela ultrapassa os limites e se transforma em altivez, levando o conselheiro a perder a capacidade de provocar reflexões e prejudica o relacionamento entre seus pares. Tudo isso, vale lembrar, em um órgão de natureza colegiada.

Numa dinâmica realizada por integrantes de comissões temáticas do IBGC, no ano passado, para avaliar como as questões comportamentais afetam a tomada de decisões dos conselhos, uma das situações mais comuns identificadas foi o chamado efeito manada. Ele ocorre quando um membro proeminente defende uma ideia e todos o acompanham. Um conselheiro arrogante amplia o risco deste tipo de situação ao impor sua posição aos demais. E, impedindo que expressem seus pontos de vista, seja seguido pelos demais por receio do enfrentamento.

A postura arrogante é uma forma de camuflar inseguranças e evitar questionamentos. Assim como, não ter que assumir erros. Um líder arrogante tem necessidade e orgulho de falar sobre todas as suas conquistas passadas, mas reluta admitir sua participação em situações malsucedidas.

Dentro da organização, as avaliações e as pesquisas de clima têm contribuído para identificar e solucionar situações que envolvem exageros comportamentais. No nível dos conselhos, ainda precisamos avançar na avaliação de aspectos comportamentais.

Hoje já não basta deter o conhecimento e dominar habilidades que permitem ser capaz de trazer boas soluções técnicas. É fundamental estar aberto a mudanças, saber ouvir e refletir sobre posições não apenas diferentes, mas, muitas vezes, disruptivas.

Atitude e adaptabilidade a contextos totalmente novos devem ser as capacidades valorizadas daqui para a frente em potenciais membros de conselhos de administração. Assim, o colegiado estará realmente habilitado a avaliar criticamente o desempenho e os resultados passados para propor correções ou novos caminhos que a organização deve percorrer. Conselhos de administração devem reunir times, não estrelas.

Vicky Bloch
é conselheira de administração do IBGC.
comunicacao@ibgc.org.br


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