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Mais uma vez vemos um horizonte com condições favoráveis para o Brasil acelerar a retomada do crescimento econômico a partir do próximo ano, mas o ambiente para novas aberturas de capital segue burocrático, anacrônico e dispendioso.
Novamente temos um clima otimista com o ano que está por começar, o que não deixa de ser positivo diante da instabilidade do cenário internacional e das incertezas do quadro político interno. Os agentes de mercado e os principais centros de pesquisa, entre eles o Fundo Monetário Internacional, projetam um crescimento entre 2% e 2,3% para o Produto Interno Bruto brasileiro em 2020.
Entre os fatores citados para esta alta estão: redução mais acelerada na taxa de juros, flexibilização da política monetária, o que é compatível com o significativo grau de ociosidade da economia brasileira, e uma melhora nos indicadores de confiança, tantos dos empresários quanto dos consumidores.
Soma-se a isso, a aprovação da Reforma da Previdência e a Reforma Administrativa, que está em discussão no Congresso Nacional e que, ao que tudo parece, está sendo bem aceita pelos parlamentares. Cabe citar ainda ações bem mais objetivas pelo governo como o lançamento do plano de incentivo a emprego para jovens e a liberação de recursos do FGTS para aumentar o poder de compra do trabalhador.
Empresas estão investindo
Certamente, se não fosse o clima de insegurança política e jurídica gerado logo após a posse do novo Governo, teríamos, em 2019, um crescimento superior aos 0,9% projetado para este ano. Sondagem realizada pela Abrasca no segundo trimestre e publicada em nosso Anuário Estatístico das Companhias Abertas, mostra que as empresas se programaram para investir mais em 2019. O montante estimado por 67 companhias chega a R$ 430,7 bilhões, valor 25% superior aos R$ 344,2 bilhões previstos em 2018.
Das dez empresas que irão investir mais este ano, os destaques são a Ferbasa (437,7%), o Banestes (307,5%) e a Restoque (284,9%). Cabe ressaltar também a Vale, que pretende gastar R$ 16,5 bilhões, aumento de 28%; Eletrobras R$ 7,70 bilhões, alta de 24% e a Petrobras R$ 314,53 bilhões, mais 24,5%.
A Sondagem mostrou ainda que em 2018, apesar do baixo crescimento, as companhias abertas voltaram a investir, após dois anos de retração. As 127 empresas consultadas aplicaram R$ 401,75 bilhões, o que significou um aumento de 3,3% em relação a 2017, quando foi registrada queda de 20% no montante de recursos.
Dos 21 setores avaliados, 14 aumentaram os gastos e sete reduziram. Os setores que mais investiram foram: Tecnologia da Informação (165,27%); Construção Civil (97,86%); Lazer e Turismo (87,94%); Papel e Celulose (39,51%), Siderurgia e Metalurgia (38,63%). Os recuos mais expressivos ocorreram em Máquinas e Equipamentos (-25,95%), Energia Elétrica (-17,74%), Holdings (-15,36%) e Serviços Médico-Hospitalares (-12,87%).
INVESTIMENTOS POR SETOR | |||
SETOR | 2017 (R$ MILHÕES) | 2018 (R$ MILHÕES) | VARIAÇÃO (%) |
AÇÚCAR E ÁLCOOL | 3.542,0 | 3.683,4 | 3,99% |
ALIMENTOS E BEBIDAS | 8.244,6 | 10.319,0 | 25,16% |
ATACADO E VAREJO | 4.965,8 | 5.754,4 | 15,88% |
BANCOS E CRÉDITO | 10.802,9 | 12.453,2 | 15,28% |
CONSTRUÇÃO CIVIL | 1.991,8 | 3.940,9 | 97,86% |
EDUCAÇÃO | 1.143,2 | 1.508,7 | 31,97% |
ENERGIA ELÉTRICA | 25.271,0 | 20.789,0 | -17,74% |
HOLDINGS | 2.314,2 | 1.958,8 | -15,36% |
LAZER E TURISMO | 65,5 | 123,1 | 87,94% |
MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS | 2.855,0 | 2.114,0 | -25,95% |
MINERAÇÃO | 13.245,7 | 13.092,0 | -1,16% |
PAPEL E CELULOSE | 7.914,0 | 11.040,6 | 39,51% |
PETRÓLEO E GÁS | 257.057,5 | 258.051,5 | 0,39% |
SANEAMENTO | 5.541,7 | 6.551,5 | 18,22% |
SERVIÇOS FINANCEIROS | 884,0 | 828,1 | -6,32% |
SERVIÇOS MÉDICO-HOSPITALARES | 827,5 | 721,0 | -12,87% |
SIDERURGIA E METALURGIA | 2.359,5 | 3.270,9 | 38,63% |
TECIDO, VESTUÁRIO E CALÇADO | 400,0 | 362,0 | -9,50% |
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO | 446,0 | 1.183,1 | 165,27% |
TELECOMUNICAÇÕES | 25.519,3 | 29.459,9 | 15,44% |
TRANSPORTE E LOGÍSTICA | 13.510,7 | 14.551,0 | 7,70% |
TOTAL | 388.901,9 | 401.756,1 | 3,31% |
Outra Sondagem realizada pela Abrasca e publicada no nosso Anuário mostra estabilidade na taxa de emprego nas companhias abertas. No final do ano passado, 3,22 milhões de pessoas trabalhavam nas 273 companhias abertas pesquisadas, o que representou aumento de quase 1% versos uma queda de 4% na comparação 2017/2016.
Os setores que mais contrataram foram o de Máquinas e Equipamentos (9,69%); Educação (9,51%); Serviços Médico-Hospitalares (7,55%), Lazer e Turismo (3,39%). Os segmentos que apresentaram os maiores percentuais de dispensa de trabalhadores foram: Açúcar e Álcool (-12,21%); Mineração (-4,34%); Construção Civil (-4,24%) e Energia Elétrica (-4,14%).
INVESTIMENTOS POR SETOR | |||
SETOR | 2017 | 2018 | VARIAÇÃO (%) |
AÇUCAR E ALCOOL | 34.681 | 30.445 | -12,21% |
ALIMENTOS E BEBIDAS | 501.847 | 496.060 | -1,15% |
ATACADO E VAREJO | 372.144 | 395.901 | 6,38% |
BANCOS E CRÉDITO | 521.199 | 538.788 | 3,37% |
CONSTRUÇÃO CIVIL | 60.675 | 58.104 | -4,24% |
EDUCAÇÃO | 64.541 | 70.677 | 9,51% |
ENERGIA ELÉTRICA | 206.689 | 198.130 | -4,14% |
HOLDINGS | 18.095 | 18.666 | 3,16% |
LAZER E TURISMO | 7.690 | 7.951 | 3,39% |
MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS | 129.181 | 141.701 | 9,69% |
MINERAÇÃO | 130.575 | 124.914 | -4,34% |
PAPEL E CELULOSE | 60.629 | 60.248 | -0,63% |
PETRÓLEO E GÁS | 193.150 | 193.446 | 0,15% |
SANEAMENTO | 41.999 | 42.455 | 1,09% |
SERVIÇO MÉDICO | 75.058 | 80.722 | 7,55% |
SERVIÇOS FINANCEIROS | 44.478 | 43.595 | -1,99% |
SIDERURGIA E METALURGIA | 103.313 | 103.002 | -0,30% |
TECIDO E VESTUÁRIO | 110.143 | 107.077 | -2,78% |
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO | 27.932 | 27.759 | -0,62% |
TELECOMUNICAÇÕES | 347.635 | 338.453 | -2,64% |
TRANSPORTE E LOGÍSTICA | 125.954 | 129.461 | 2,78% |
UTILIDADES DOMÉSTICAS | 22.663 | 22.146 | -2,28% |
TOTAL | 3.200.271 | 3.229.701 | 0,92% |
A força das companhias abertas
Este cenário um pouco mais favorável teve reflexo imediato no desempenho das companhias abertas em 2018. O lucro líquido consolidado das 357 companhias analisadas para 15ª edição do nosso Anuário atingiu R$289,2 bilhões, com alta de 79,27% em relação ao resultado de 2017.
Este grupo de companhias recolheu, em 2018, R$ 1,21 trilhão em impostos, valor 13% superior ao de 2017, participando com 14,2% da arrecadação fiscal do País. Na formação do PIB nacional, a participação dessas empresas subiu de 16,5%, em 2017, para quase 18% no final do ano passado, evidenciando maior dinamismo e resiliência das companhias abertas à situação ainda difícil do cenário econômico e político do País.
Esses dados evidenciam que, a qualquer estímulo de crescimento, as empresas respondem rapidamente, ou seja, o que falta é um ambiente propício para a retomada da atividade econômica. Mas para isso se concretizar de forma mais longa e duradoura, é necessário prosseguir com as reformas anunciadas, como a Administrativa e a Tributária. Além disso, é relevante um clima de estabilidade política e jurídica para pôr fim às incertezas que travam os investimentos e a entrada de capital estrangeiro no País.
Por que a Abrasca chama a atenção para a urgência de um cenário estável no país?
Estamos assistindo ao encolhimento do nosso mercado de capitais. Hoje, temos 328 companhias listadas na B3 contra 400 em 2007 e 550 em 1996; emissores estão buscando outras formas de financiar seus investimentos.
Evidentemente que motivos como a recessão econômica, fusões e aquisições impactam as companhias abertas. Porém, o número baixo de emissores de valores mobiliários na bolsa também está relacionado à insegurança dos empresários para realizar novos investimentos, diante do imenso custo transferido às companhias abertas com os aspectos regulatórios. Somados, os 11 documentos de preenchimento obrigatório pela CVM contêm cerca de 2000 campos; são 4000 páginas de formulários se considerarmos as companhias mais ativas no mercado brasileiro. Mais de um quilômetro de papel!
Ademais, não há segurança quanto ao futuro. A reforma da Previdência saiu, mas a tributária, que era dada como certa para este ano, sequer começou. Tudo isso faz com que o PIB não ande. Em função desse clima indefinido e do excesso de regulação, vem crescendo o número de empresas que estão optando em abrir o capital na Bolsa de Nova Iorque, o que é uma tendência ruim para o mercado e para o País.
A Abrasca reconhece a vontade do governo de liberar o mercado, mas ainda temos pouco de concreto, muitas vezes por incompreensão do nosso Congresso, a exemplo da MP 892, que desobriga as companhias abertas de publicar balanço em Diário Oficial economizando milhões de reais.
Precisamos aproveitar essa onda liberalizante, porque talvez ela nunca mais volte. As companhias estão prontas para a retomada do crescimento, precisam divisar um horizonte menos incerto e um ambiente regulatório mais estável e seguro.
Alfried Plöger
é presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA).
abrasca@abrasca.org.br