Relembrando a teoria contábil, a Demonstração do Valor Adicionado (DVA) é um demonstrativo contábil que tem por finalidade evidenciar a riqueza que foi gerada por uma companhia em um dado período e a forma como ela foi distribuída entre os diversos agentes envolvidos (“stakeholders”) no processo de produção. O conceito de riqueza que está na base da DVA corresponde à diferença de valores entre aquilo que a empresa produziu e os bens/serviços que ela utilizou nesse processo, gerados por terceiros.
Quando a companhia coloca no mercado seu produto/serviço, ele valerá mais do que a soma dos fatores adquiridos para sua produção. Esse valor que a empresa “adicionou” durante o processo é a riqueza gerada.
O que a DVA faz é detalhar de que forma essa riqueza foi distribuída entre colaboradores, fornecedores, agentes financiadores, acionistas e governo, ou seja, entre todos os agentes que participaram, diretamente ou indiretamente, da sua geração. É, portanto, uma forma de mostrar como a empresa contribuiu para o PIB do país.
As informações que serão aqui apresentadas foram produzidas tendo como base as DVAs consolidadas de 284 companhias abertas listadas na B3 nos anos de 2017 a 2019, extraídas do Banco de Dados SABE, com o objetivo de medir o valor distribuído aos principais “stakeholders”: Pessoal, Governo, Agentes Financiadores (Capital de Terceiros) e Acionistas (Capital Próprio).
DISTRIBUIÇÃO DE VALOR (2017 a 2019)
A planilha abaixo ilustra a evolução dos valores distribuídos do total de 284 Companhias listadas na B3 de 2017 a 2019, sendo 258 empresas (não financeiras) e 26 bancos.
DVA (R$ Bi) | Nº Cias | 2017 | 2018 | 2019 | TOTAL |
Empresas | 258 | 896 | 1.117 | 1.022 | 3.036 |
Bancos | 26 | 135 | 145 | 154 | 434 |
TOTAL | 284 | 1.031 | 1.262 | 1.176 | 3.469 |
DVA (R$ Bi) | 2017 | 2018 | 2019 | ||||||||||||
Pessoal | Gov | K Terc | K Prop | Outros | Pessoal | Gov | K Terc | K Prop | Outros | Pessoal | Gov | K Terc | K Prop | Outros | |
Empresas | 191 | 375 | 243 | 79 | 4 | 204 | 424 | 287 | 192 | 5 | 220 | 403 | 244 | 114 | 33 |
Bancos | 49 | 20 | 5 | 60 | 0 | 49 | 20 | 5 | 72 | 0 | 58 | -1 | 5 | 92 | 0 |
TOTAL | 240 | 395 | 248 | 139 | 4 | 253 | 444 | 291 | 264 | 5 | 278 | 402 | 249 | 207 | 33 |
Nos três últimos anos foram distribuídos quase R$ 3,5 trilhões aos diversos stakeholders das companhias abertas listadas na bolsa de valores brasileira.
Observe que o stakeholder mais favorecido em termos quantitativos e absolutos foi o Governo, que teve os maiores valores distribuídos pelas 284 companhias (Empresas + Bancos) nos últimos três anos. Só em 2019 foram R$ 402 bilhões para o “leão”!! Por outro lado, os Acionistas foram os que receberam a menor fatia do bolo, R$ 207 bilhões em 2019.
Em 2019, as 10 maiores distribuições de valor por Empresas totalizaram R$ 527 bilhões, 52% do total distribuído pelas não financeiras. Este montante, em ordem decrescente, foi originado pelas seguintes empresas: Petrobras, Ambev, JBS, Eletrobras, Telef Brasil, Petrobras BR, Vale, Neoenergia, CPFL Energia e Cemig. E as 10 menores distribuições de valor, em ordem decrescente, por Empresas totalizaram R$ 2,1 bilhões negativos, pelas seguintes empresas: Renova, PDG Realt, Bradespar, OSX Brasil, Viver, Tecnisa, Rossi Resid, Saraiva Livr, Inepar e Technos.
No mesmo ano, as 5 maiores distribuições de valor por Bancos totalizaram R$ 135 bilhões, 87% do total distribuído por eles. Esta soma veio dos seguintes bancos, em ordem decrescente: Bradesco, Brasil, Santander BR, Itauunibanco e BTGP Banco. O Banco Pine foi o único a distribuir valor negativo de R$ 149 milhões em 2019.
EVOLUÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE VALOR (2017 a 2019)
Em termos relativos, houve um expressivo acréscimo de distribuição de valor de 2017 para 2018, em especial para os Acionistas (Capital Próprio) que tiveram um aumento de 89%. O mesmo não ocorreu de 2018 para 2019, onde somente os colaboradores (Pessoal) tiveram aumento de 10% na distribuição de valor. Todos os demais stakeholders tiveram perdas, sendo a maior a dos Acionistas de quase 22%.
Os gráficos a seguir ilustram a evolução da distribuição de valor nos últimos 3 anos das 284 companhias analisadas.
Fonte: SABE Ensina © | Powered by Maestro
CONCLUSÃO
Em abril de 2018, publicamos um artigo no Blog SABE intitulado “27 Empresas destruíram R$ 6 bilhões em 2017”. A principal conclusão foi que de 255 empresas não financeiras em 2017, 228 distribuíram R$ 904,7 bilhões de valor adicionado positivo (criação de valor) e 27 empresas distribuíram R$ 6,1 bilhões de valor adicionado negativo (destruição de valor).
Em 2019 o número de empresas não financeiras que destruíram valor caiu para 21 com um valor bem menor de R$ 2,3 bilhões, caracterizando assim uma boa notícia. Entretanto, a queda de 8,5% na distribuição de valor de 258 empresas, de 2018 para 2019, foi expressiva, de R$ 1.117 bilhões para R$ 1.022 bilhões. Por outro lado, a distribuição de valor de 26 bancos aumentou 6,5%, de R$ 145 bilhões para R$ 154 bilhões, no mesmo período. No total, somando Empresas e Bancos, a queda foi de 6,8%.
Estimamos que as perdas de distribuição de valor de 2019 para 2020 sejam maiores devido aos efeitos negativos da Covid-19, mas isso só o tempo dirá...
Luiz Guilherme Dias
é CEO e fundador da SABE | Inteligência em Ações da Bolsa.
lg.dias@sabe.com.br