Orquestra Societária

EDUARDO RICOTTA, PRESIDENTE DA VESTAS – AMERICA LATINA

O turning point de um regente corporativo
Na seção “Orquestra Societária”, criada em março de 2014 nesta Revista RI, temos procurado, em várias edições, entrevistar executivos e professores de diferentes áreas, que agregam visões preciosas para a reflexão dos leitores e gentilmente reservam seu tempo para compartilhar seus conhecimentos, experiências e visões sobre os mundos corporativo e acadêmico. Desta vez, trazemos uma entrevista com o executivo Eduardo Ricotta Torres Costa, novo presidente para América Latina da Vestas. O entrevistado tem a compartilhar com os leitores percepções afinadas com as premissas de uma Orquestra Societária, ou seja, uma organização que busca vencer no mercado não apenas por meio de bons resultados financeiros, mas atentando a outras variáveis que tornam o desafio de administrar muito maior e gratificante.

Lembramos aos leitores de que a dimensão pessoas – foco da entrevista – é um dos vértices mais críticos da Orquestra Societária. A gestão de pessoas é um dos elementos cruciais de uma orquestra corporativa, exigindo maestros de alto nível, com os quais podemos aprender, especialmente em momentos de mudança na trajetória profissional. Este é o caso do nosso entrevistado: Eduardo Ricotta, como é conhecido no mercado, que acabou de assumir a presidência para a América Latina da Vestas, empresa dinamarquesa, que é grande player do mercado eólico global. Será responsável pelos países onde já existem operações, como Brasil, Chile, Colômbia, Peru, México, Argentina e Uruguai. Liderará, também, a expansão para novos mercados.

A carreira de Eduardo Ricotta é longa e em linha ascendente: trabalhou na Ericsson por 27 anos e suas últimas atuações foram como presidente da Latam South, abrangendo Brasil, Argentina, Chile, Peru e Uruguai e como presidente da empresa em nosso País. Somados os dois cargos são mais de seis anos como presidente.

Engenheiro de formação pela Inatel, fez pós-graduação em marketing na ESPM, fez pós-graduação na FGV, MBA no IBMEC e expandiu seus estudos, passando por importantes centros internacionais de educação executiva: London Business School, The Wharton School, University of Cambrigde, Columbia University NY, Northeastern University, esta última no período de 2020/2021).

Durante sua trajetória corporativa e acadêmica, buscou capacitação em vendas, marketing, operações, planejamento, finanças, gestão de pessoas, entre outros temas, que o prepararam para assumir posições de liderança em corporações multinacionais.

Apesar de sua intensa agenda, foi possível realizar esta entrevista com Eduardo Ricotta para esta edição da Revista RI em um momento muito especial – the turning point: após27 anos trabalhando na Ericsson, o executivo migrou para a Vestas, como presidente para a América Latina. Com a nomeação de Eduardo como novo presidente Latam, a Vestas busca conquistar a liderança na Região, impulsionar a colaboração de pessoas em toda sua cadeia de valor e ampliar a rentabilidade dos negócios. Acompanhe a entrevista.

RI: Fazendo uma retrospectiva, quais foram suas principais realizações?

Eduardo Ricotta: É muito difícil eleger as principais realizações. Começo, então, pela minha família. Constituí-la e ter ao meu lado a minha esposa e as minhas duas filhas me conscientizaram da importância de cuidar das pessoas e dos relacionamentos. Conviver intensamente com elas fez aflorar sentimentos que me ajudaram a entender melhor as pessoas no ambiente de trabalho. Minha família tem sido um locus de muito aprendizado afetivo. E dando continuidade à retrospectiva da pergunta, relaciono aqui algumas oportunidades que tive, tais como: ampliar meus conhecimentos adquiridos desde a minha graduação em Engenharia na Inatel (1993) até, recentemente, na Northeastern University, com a especialização em Administração e Negócios (2020/2021); entrar na empresa que eu desejava, a Ericsson, o que foi uma grande conquista. Propiciou-me diversas experiências e vivências, ali fui muito feliz durante os 27 anos, desde o meu primeiro dia de trabalho; expandir minha atuação profissional, morar fora do Brasil (Suécia por 4 anos), atuar em ambientes distintos, trabalhar em vários mercados. Foram mais de 14 anos no Cone Sul e procurando motivar as pessoas com as quais trabalhei; tornar-me presidente da Ericsson para o Brasil, e depois, para Latam South; e assumir a presidência da Vestas para a América Latina. Estas são algumas das minhas realizações, sem entrar nas conquistas de market share, evolução tecnológica, investimentos em R&D e expansão dos negócios. Comecei pela minha família e concluo com ela, reforçando que sem o seu forte apoio, sem o que tenho aprendido com ela, eu não teria alcançado essas realizações. E esta entrevista é mais uma oportunidade de agradecê-la carinhosamente.

RI: Neste momento de turning point em sua vida, quais são suas reflexões principais?

Eduardo Ricotta: O mais importante, independente da empresa ou indústria, – é trabalhar com paixão. Sempre gostei demais do que eu faço. Vai além de só trabalhar, é verdadeiramente curtir o trabalho. Isso me faz feliz, é o que me motiva. Trabalhar com paixão é tão importante, que para existirem grandes corporações e empresas, é preciso que existam grandes líderes, grandes talentos, profissionais apaixonados e motivados; eles, sim, possibilitam alcançar o sucesso. A gestão de pessoas deve ser trabalhada com foco no capital humano, em talent aquisition, talent management e criando uma cultura realmente voltada para as pessoas.

RI: Então podemos concluir que o sucesso pode ser resumido em “pessoas apaixonadas”?

Eduardo Ricotta: Na minha opinião, vai além. O sucesso é resultado de um conjunto interconectado de alinhamento entre pessoas, gestão com transparência e respeito, pautado por um código de conduta ética e pela busca de sustentabilidade. Como eu disse anteriormente, eu me sinto feliz com que eu faço e isso faz com que eu me dedique também a entusiasmar as pessoas com as quais trabalho. Como exemplo disso, criei na Ericsson a campanha HAPPY MNDAY, na qual foram distribuídas canecas com a logo da campanha. Foram realizadas atividades conectadas a esse tema: cafés da manhã, conversas e hackathons entre outras, incluindo a troca de ideias envolvendo todos os profissionais da empresa, independentemente do nível hierárquico. Esta é uma das formas que uso para ilustrar o meu jeito de incentivar as pessoas a se sentirem também felizes trabalhando na empresa, independente do dia de semana. Isso possibilitava um maior engajamento entre os profissionais. A realização desta campanha foi motivada justamente porque eu gosto muito das segundas-feiras. Elas significam, para mim: trabalhar com satisfação, felicidade! Não existem somente as chamadas happy fridays – altamente propagadas pelas organizações –, as happy mondays são igualmente importantes e eu quis compartilhar esse sentimento com as pessoas e incentivá-las. Através do joining employees meeting, foram lançadas ideias e atividades conectadas à campanha HAPPY M
NDAY, que foi ganhando corpo dentro da empresa. Acredito que iniciativas como estas são fundamentais para o engajamento das pessoas. Acredito que elas são centros propulsores de tudo o que se faz na empresa e são, portanto, prioridade. Gestão com transparência é outro fator que contribui para o sucesso. Neste contexto, todos sabem os resultados esperados, suas metas, e as ferramentas de trabalho disponíveis para alcançá-las. Compartilhar as informações de forma clara, para que todos entendam e saibam em qual direção estão indo, é condição sine qua non para atingir os resultados planejados. Isso também motiva as pessoas. E mais do que divulgação de um código de conduta ética, é preciso a conscientização dos públicos internos e externos dos elevados padrões adotados pela empresa, direcionados à proteção dos direitos humanos, condições justas de emprego, segurança no trabalho e gestão responsável dos recursos ambientais.

RI: Como você chegou à presidência de empresas multinacionais?

Eduardo Ricotta: Eu jamais pensei em ser presidente quando entrei na Ericsson há 27 anos. Não dá para chegar na empresa querendo assumir o posto mais alto. Ao mesmo tempo, foi minha escolha, desde o início, ser CEO da minha vida profissional, ser responsável pelo meu desenvolvimento em termos de capacitação e decisões sobre os movimentos corporativos necessários. Conduzi minha carreira com transparência, perseverança nos negócios, ética e prioridade na gestão de pessoas. Ao longo da minha trajetória profissional, dei vários passos para frente, e também para trás; corri riscos, que foram essenciais para meu crescimento. Como sempre gostei de estudar, me mantive atualizado, nunca saí da academia e construí uma sólida caixa de ferramentas. Ao longo do tempo, essas ferramentas foram utilizadas para enfrentar novos desafios. Fui ganhando competências, capacitação, e não tive receio de assumir novas posições, quando as oportunidades chegavam. Quando elas surgiam, eu sabia que estava pronto e partia para a batalha. Assim, fui me preparando para atingir meu principal objetivo: ser feliz.

RI: Como você tratou a capacitação das pessoas com as quais trabalhou?

Eduardo Ricotta: Assim como investi em minha capacitação, também promovi a educação corporativa. Sim, investi na capacitação dos profissionais da empresa. Mas hoje em dia, não se pode esperar que exclusivamente a empresa cuide de sua capacitação. Eu nunca esperei a iniciativa da empresa, sempre busquei o que eu queria, pois nem sempre o que você quer é o que a empresa oferece para construção de sua caixa de ferramentas. Sou uma pessoa audaciosa, no bom sentido da palavra, fui atrás dos meus objetivos. Não tive medo de tomar decisões e assumir projetos difíceis, como morar fora do País. Durante quatro anos, trabalhei na Suécia, com a família, quando a minha primeira filha era ainda pequena. Foi um desafio e tanto, mas o encarei, pois aquela era uma oportunidade para expandir minha atuação como executivo, de aprender demais e crescer. Nestas oportunidades, descobri que orquestrar pessoas e a mim mesmo era fundamental para continuar crescendo, sempre buscando ser feliz. Apesar de existirem dias, semanas e meses ruins – é impossível estar tudo sempre bem! – posso dizer de novo: fui feliz na Ericsson desde o primeiro dia de trabalho, por 27 anos. Acredito que deixei um legado relevante para a empresa, que poderá ser continuado, em grande medida, pelas pessoas que ali estiverem.

RI: O que é mais importante na trajetória profissional de um executivo?

Eduardo Ricotta: O que é mais importante? Não necessariamente ser presidente, mas chegar onde você é feliz, independentemente do lugar que esteja ocupando em uma organização. Eu fui feliz trabalhando em uma empresa na qual queria estar, em um trabalho que amava, buscando aprender mais para crescer, pois também amo aprender. Mas eu também acredito que felicidade tem diferentes sentidos para diferentes pessoas. Em suma, busquemos ser felizes. Simples assim.

RI: O que o motivou a fazer esta mudança – sair da Ericsson após 27 anos e assumir a presidência para América Latina da Vestas?

Movi-me de um segmento de indústria para outro, de soluções tecnológicas para telefonia fixa e móvel para soluções em geração de energias sustentáveis, ambos focados em inovação. Uma das razões que me motivaram a assumir este novo desafio foi trabalhar com o propósito de desenvolver green solutions – soluções mais limpas. A Vestas é a maior fornecedora de soluções de energias renováveis no mundo. Vejamos o que tem acontecido no Planeta Terra, os danos causados ao meio ambiente. Mas podemos fazer muito, podemos ajudar a criar um futuro diferente. A Vestas tem o propósito de melhorar a vida da sociedade, com grande impacto positivo, com o desenvolvimento de energias renováveis, que reduzem e reduzirão mais, ou ainda mais, a emissão de CO2. Atualmente, os jovens querem trabalhar em empresas com propósito. O compromisso com o ESG - Environmental, Social and Governance contribui para um mundo melhor e atrai os melhores talentos. Isso se conecta com meu novo ciclo profissional: me faz feliz estar presente em um novo setor, com alto potencial de crescimento e capaz de ajudar a criar um futuro sustentável para o nosso Planeta.

Finalizamos esta entrevista desejando a Eduardo Ricotta sucesso em sua nova jornada. Eduardo, seja feliz, e que o seu futuro seja pleno de realizações focadas em um mundo melhor!


Cida Hess
é economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestre em contábeis pela PUC SP, doutoranda pela UNIP/SP em Engenharia de Produção - e tem atuado como executiva e consultora de organizações.
cidahessparanhos@gmail.com

Mônica Brandão
é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como executiva e conselheira de organizações e como professora.
mbran2015@gmail.com


Continua...