Comunicação

GERAÇÃO Y & Z NA B3: O QUE ISSO MUDA NA COMUNICAÇÃO DAS EMPRESAS?

O crescente aumento de Pessoas Físicas cadastradas na B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), investindo seus recursos em renda variável e nas demais opções que a Bolsa permite é notório, constante e, em minha opinião, irreversível. Segundo pesquisa da B3, divulgada no final do ano passado, comparado a 2019, houve um acréscimo de 82% desse tipo de investidor, que somou mais de 3 milhões de Pessoas Físicas em 2020.

A pesquisa expôs o perfil dos investidores PF (Pessoa Física) em relação à faixa etária do grupo, com 42% entre 24 a 34 anos, seguido de 26% com idades entre 18 a 24 anos. Ou seja, as pessoas com idades entre 18 a 34 anos totalizam 68% dos investidores PF, número significativo para evidenciar a popularização dos investimentos em renda variável e que, consequentemente, apresenta uma nova realidade às companhias de capital aberto.

Tais investidores fazem parte das chamadas Gerações Y e Z, os chamados “Nativos Digitais”, caracterizados pelo alto contato com tecnologias ligadas à Internet e mídias sociais. Esse perfil que adentra o mercado de capitais concentra-se mais facilmente com informações exibidas sob o uso de imagens, animações, vídeos e sons, uma vez que desenvolveram a capacidade de foco em diversas mídias, simultaneamente.

Ou seja, se prende a atenção por pouco tempo. O TEDx Talks, grande exemplo de exposição de ideias postado via YouTube, segue o modelo para prender a atenção dessa nova geração; a tática adotada por meio de uma pesquisa científica consiste em palestras de no máximo 18 minutos, tempo suficiente para que os assuntos sejam desenvolvidos e que a energia cerebral gasta seja compatível com a absorção do conteúdo. O resultado positivo desse método é comprovado pelos mais de 30 milhões de inscritos no canal.

Logo, para atender a esse número crescente de investidores que apresentam essas características, além do montante de R$ 374,16 bilhões em aplicações, é importante que as empresas moldem sua comunicação para que seja atraente a esse “novo” público. E isso já está acontecendo.

Conforme um estudo realizado pelo MZ Group sobre as divulgações de resultados referentes ao 4° trimestre de 2020, foram levantadas informações sobre uma possível tendência no mercado, as videoconferências, que substituem as teleconferências realizadas por meio de ligações, empregando apenas a voz como meio de interação. O número de videoconferências já é 10% maior do que utilizado no trimestre anterior e vem crescendo desde o começo de 2020. Para se ter uma ideia da dimensão dessa modalidade, 43% das companhias de Varejo aderiram à nova configuração.

Além das videoconferências, temos também os Reels, vídeos curtos que demonstram os destaques dos resultados de forma rápida e objetiva, e que promete ser uma via para tratar da dinâmica dos investidores Pessoas Físicas, partindo do pressuposto de que não são agentes ou estudiosos ativos do mercado de capitais, o que implica desconhecimento de alguns termos e falta de tempo para ler extensos documentos.

Os vídeos são feitos, geralmente, com animações sobre os gráficos dos resultados que querem colocar em ênfase, ocasionalmente com o adendo de gravação simultânea à apresentação, comentando os números e trazendo insights. Por conseguinte, existem também os vídeos um pouco mais extensos, em que o management da companhia evidencia os principais resultados do trimestre de modo sucinto, com explicações sobre os números e produção, além de acompanhar gráficos pertinentes com qualidade suficiente e direta para os investidores.

Como os sujeitos em pauta geralmente não têm como ofício cargos relacionados ao mercado financeiro, a disponibilidade para acompanhar a empresa nos detalhes de documentos longos é escassa. Sendo assim, os Fact Sheets mostram ser um interessante documento para Pessoas Físicas, em que a empresa compila seus principais dados entre duas a quatro páginas, abrangendo uma breve introdução sobre o negócio, estratégias, resultados, receitas, EBITDA, entre outras informações relevantes.

Com isso, o conselho para as empresas é que invistam em uma linguagem voltada para as Pessoas Físicas e, em especial, as gerações Y e Z, que constituem a majoritária parte dos novos investidores do mercado financeiro. O perfil desses investidores é atraído e concentra-se mais facilmente com vídeos, animações e imagens. Além disso, a elaboração de vídeos curtos e dinâmicos, como os Reels, disponibilizados nas mídias sociais das empresas e que usem uma linguagem apropriada, sem jargões ou termos técnicos, podem ser uma boa opção para demonstrar os resultados de forma rápida e objetiva.


Cássio Rufino
é sócio e diretor Financeiro e de Operações de Relações com Investidores do MZ Group
cassio.rufino@mzgroup.com


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