Opinião

SUSTENTABILIDADE DITARÁ AS REGRAS DE INVESTIMENTOS

Dados da B3 mostram que o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) apresentou, nos primeiros oito meses do ano, rentabilidade negativa de -3,27%. Percentual pior do que o obtido por quem preferiu investir no Índice Bovespa (Ibovespa), de -0,20%. Já o investidor que escolheu o Índice de Governança Corporativa (IGC) obteve ganho positivo, de 2,21%, bem abaixo da inflação, que até então acumulava alta de 5,67%, mas pelo menos positivo.

De forma geral, os três índices sofrem influência do momento sanitário, político e econômico do Brasil e do mundo. A sociedade quase parou por completo para combater a Covid-19 e isso se refletiu no desempenho das empresas de todos os setores.

A pergunta que muitos fazem é porque o ISE teve o pior desempenho. Justamente o índice que reúne as empresas mais saudáveis pois, além de se preocuparem com a governança, também se preocupam com o impacto de suas atividades no meio ambiente e na sociedade. Isso conferiria a elas maior solidez e menos riscos.

Bom, antes de mais nada, é preciso lembrar que o ISE, assim como os demais, configura-se em um ativo de renda variável, portanto sujeito à volatilidade. E temos de lembrar que a Bolsa como um todo está muito volátil por causa da crise gerada pela pandemia. De 2005, quando foi criado, até 31 de agosto de 2021 o ISE valorizou 294,73% contra 245,06% do Ibovespa, ou seja, teve performance melhor. Sendo assim, podemos concluir que o mau desempenho do Índice de Sustentabilidade é pontual e não reflete o potencial que as empresas integrantes desse índice possuem.

Há uma outra questão a ser considerada e que ajuda a explicar esse resultado atípico. O ISE conta com uma quantidade menor de empresas em comparação com o Ibovespa. Dessa forma, o resultado de cada companhia tem um peso maior na performance geral. Se as maiores pertencerem a segmentos da economia muito afetados pela crise, é possível que elas derrubem o resultado do índice todo. A volatilidade tende a ser maior quanto menos players integrarem o grupo.

Os dados da B3 da carteira teórica do ISE válida para o quadrimestre de setembro a dezembro deste ano mostram que as ações de maior peso são: Americanas ON, Bradesco PN e BRF ON, com participação acima de 3%. Com mais de 2% de representatividade, estão Assai ON, CCR ON e Cemig PN. No acumulado do ano até setembro, três destas empresas apresentam forte desvalorização.

Já o melhor resultado do IGC, por sua vez, é fruto justamente da boa governança, voltada a resultados financeiros e cujas preocupações ambientais e sociais se limitam ao que determina a legislação. São empresas que mantêm uma boa governança, mas com foco exclusivo na lucratividade. Obviamente, isso atrai a atenção dos investidores. Daí o resultado positivo.

Acontece que a sustentabilidade ditará as regras no futuro. À medida que os problemas ambientais ficam mais evidentes e o aquecimento global se torna mais visível, aumenta o número de empresas e de investidores preocupados em reduzir ao máximo os impactos das ações humanas no ecossistema. Não por acaso, megainvestidores como Larry Fink, CEO da Black Rock, maior gestora de ativos do mundo, dão preferência por empresas que têm como prioridade a implantação do conceito ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança).

No Brasil, o investidor que busca rentabilidade associada à responsabilidade ambiental e social, tem a opção de investir em ações das companhias integrantes do ISE, carteira composta por 39 empresas, de 15 setores, listadas na B3 e reconhecidas pelas suas boas práticas de sustentabilidade. O indicador se assemelha ao Índice de Governança Corporativa (IGC), que reflete o valor dos ativos de todas as empresas com governança corporativa diferenciada, e ao Índice Bovespa (Ibovespa), carteira teórica das ações com maior negociabilidade na Bolsa de Valores.

Vale ressaltar, que as regras para inclusão de uma empresa no ISE sofreram mudanças com o objetivo de tornar o processo mais transparente e confiável. Essa mudança de critérios começará a valer em 2022. Se de fato foi bem elaborada vai atrair mais investidores. E isso refletirá positivamente no desempenho do índice em questão. Certamente ele manterá seu histórico de boa rentabilidade.

Tudo bem que, via de regra, resultado passado não é garantia para o rendimento futuro. Porém, a cultura da sustentabilidade está crescendo, se aprimorando e quem entrar agora tende a obter ganhos acima da média no longo prazo. Por esta razão, o investidor que tem dinheiro aplicado no ISE não tem motivos para sair, pois isso representaria perda. O melhor a se fazer é manter o investimento e aguardar o momento de alta. E quem ainda não tem, convém comprar porque está barato. Não há dúvidas de que vale a pena se expor ao ISE.

Marcos Rodrigues
é sócio-diretor da BR Rating e da MRD Consulting.
mrodrigues@brrating.com.br


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