Num momento de tantas indecisões, diante de um cenário instável, um profissional vem se destacando cada dia mais, ajudando na reestruturação da Governança Corporativa junto com o Conselho de Administração, sinalizando as Melhores práticas de Governança Corporativa e as de Mercado, o Governance Officer. Muitos dirão que ele é o guardião da Governança Corporativa, o braço direito do Board, um Executivo C-Level que atravessa a gestão e se empodera no Conselho ou ainda um coringa, que estrutura a GC e dá direcionamentos para o Conselho. Mas na Verdade quem é esse profissional?
Vamos à atualização estabelecida pelo IBGC, 2020: “Governance officer é a nova nomenclatura do secretário de governança. A adequação visa retratar as responsabilidades da função e reflete a evolução da atividade do profissional”
Antigamente falava-se desse profissional como sendo um Secretário e muitos ainda o vêm dessa forma equivocada. Ele poderá ser secretário da RCA ou de comitê, mas isso não o caracteriza um secretário executivo. Ele atua nas mais variadas decisões estratégicas dentro do Conselho e transita na gestão em questões de maiores relevâncias para a Cia. A nomenclatura mudou porque as confusões eram grandes e precisavam cessar para que o verdadeiro brilho desse profissional aparecesse.
Sabemos que ele é a ponte entre a Gestão e o Conselho, independente do seu posicionamento no organograma da Cia. Esse profissional está tão envolvido encontrando soluções e direcionamentos, possíveis riscos e estabelecendo os relacionamentos, que não possui uma rotina diária clara e, por isso, é tão difícil definir os skills técnicos desse profissional. Tem uma coisa que é relevante mencionar, o seu dia a dia, apesar de muito movimentado, a atuação é solitária. A gestão não consegue entender o seu verdadeiro papel e acredita que ele apenas participa das reuniões de conselho. Já o Conselho, mesmo que tenha estabelecido suas funções, escopo e atuações, poderá não se dar conta do que ele realmente tem de desafios no dia a dia.
É de extrema relevância que sua atuação seja corretamente prevista no ato da sua contratação pelo Conselho, que entende a verdadeira importância desse Profissional. Por isso se torna muito importante que o perfil dele esteja bem definido, se não na sua chegada, no meio do caminho, devendo ser atualizado constantemente para que não cause problemas de comunicação equivocada.
O IBGC acredita que a função de Governance Officer é fundamental para o bom funcionamento da governança corporativa e, por isso, encoraja que as empresas também adotem essa mudança de nomenclatura, que vai muito além do que uma simples troca de nomes, mas é um esforço para conscientizar o mercado sobre a relevância que esse profissional possui para o sistema de governança das organizações”. IBGC 2020
Poderíamos afirmar que um profissional como esse é dificilmente substituído por outro. Podemos até substituí-lo com outro perfil e talvez mais adaptável para a Cia, mas não existem dois profissionais iguais, sempre existe uma particularidade para cada profissional. Essa é a beleza relevante do perfil do Governance Officer.
O Governance Officer precisa ficar atento a tudo que acontece dentro e fora das reuniões. Ele analisa problemas, deve ficar atento a gestos, olhares, comportamentos, documentos e indicadores.
Um exemplo clássico dessa atuação com nível sênior é quando ele consegue perceber nas entrelinhas situações que estão veladas. Isso se dá pela experiência adquirida e segurança que tem em agir dessa forma. A atuação orquestrada com delicadeza sem deixar de ser pontual, jogo de cintura para situações complicadas, consegue destacá-lo no mundo corporativo e consequentemente nessa área.
Qual o perfil correto desse profissional? O que as empresas estão buscando?
Difícil dizer qual o perfil correto desse profissional até mesmo porque, depende muito do que a empresa precisa e deseja da atuação dele.
Ele pode ser advogado e ter trabalhado com investigação e compliance e ser direcionado para esse cargo única e exclusivamente por esse motivo, entendendo nesse caso que ele tem todas as outras características de um bom assessor do Governança. Vejam, esse seria o perfil da pessoa ideal que consegue ter análise cirúrgica, perfil observador, intuição baseada em dados e rapidez em tomar alguma decisão ou mesmo levantar dados corretos para que sejam entregues ao Conselho em forma de apresentação ou simples explanação de interação e ciência.
O modus operandi desse profissional muda, de acordo com a empresa, porte, tipo de sociedade ou cultura que esteja instalada. Um Governance Officer de uma Cia Aberta, terá que passar por momentos de adaptação exigidos pela CVM, Bovespa, ABRASCA, onde códigos, informes, comunicações e fatos relevantes são inseridos no dia a dia da Empresa.
Quando começamos a entender os níveis de maturidade desse profissional, conseguimos ver o espelho da empresa que o contrata, o que esperam dele e como o empoderar para tal posição.
Então seria o caminho inverso? Talvez sim, talvez não.
Entendemos que ele poderá ser contratado por uma empresa que sabe o modus operandi desse profissional, porque entende que ele se encaixa no momento de evolução que se encontra a Governança. E a outra forma seria, esse Governance Officer promover a evolução da Governança e fazer com que o Conselho entenda qual o caminho tomar.
Vejamos, o Governance Officer não é o Guardião da Governança? Então por que ele não poderá promover o crescimento do Conselho, ampliando o raio e o conteúdo de discussões que deverão ser tratadas no Board? Então, com esse pensamento podemos entender que ele participa da estrutura da Governança Corporativa e sua evolução.
Outro exemplo clássico da colaboração desse profissional, é quando ele simplifica conceitos com exemplos para que não tenha nenhuma má interpretação ou dúvida de procedimentos.
Entendemos que o bem maior é a Empresa, uma vez que a comunicação esteja clara e transparente, a governança flui. Sim, ele é responsável por simplificar e conduzir processos.
Precisamos entender que a saúde da Gestão e do Conselho consiste em entendimentos e direcionamentos mais assertivos, para isso, as empresas precisam avaliar, direcionar e desenvolver seus agentes constantemente.
Qual tipo de Profissional a Contratar?
Muitos fazem essa pergunta e mais uma vez não é uma resposta clara, porque o entendimento deverá ser de quem o contrata. Por que alguém de fora que venha pronto do mercado poderá ser melhor, do que alguém que conhece a história da Cia?
Para tudo isso a resposta é: Depende.
Saber a história da Cia, é excelente, mas esse profissional contratado do Mercado poderá entendê-la a qualquer momento, desde que tenha interesse. Os outros skills técnicos desejados ele já possui, basta ouvir o que é necessário e ter estratégia para se adequar rapidamente à história, missão e valores dessa Cia.
O profissional que já atuava em outra área de uma empresa e é convidado a construir uma GC assumindo a responsabilidade da Secretaria de Governança também terá um trabalho grande em se desenvolver, até mesmo porque, uma parte sai de áreas em que não sabem ou não desenvolveram Governança Corporativa e nem da Secretaria, para assessorarem o Conselho e se tornar um Governance Officer.
Nos dois lados são trabalhosos, para isso é necessário muito amor e dedicação à essa profissão, pois os skills técnicos precisarão ser agregados aos comportamentais para que esse profissional possa entender quem ele é, para prosseguir nessa estrada.
O Governance Officer possui um protagonismo grande na estrutura da Governança fazendo com que muitos Conselheiros tenham inteira confiança em deixá-lo com tarefas de cunho estratégico.
Vejam, sem dúvida nenhuma, esse profissional possui grande relevância, uma vez que as pessoas que se sentam na cadeira do Conselho confiam plenamente nesse profissional a ponto de entender que a condução do antes, durante e depois das RCAs, reuniões de Comitês e outras que se façam necessárias será mais organizada, produtiva e assertiva com sua presença e atuação.
Como se tornar um profissional com perfil de grande relevância e empoderamento?
Essa é uma pergunta recorrente no meio da Governança, onde poucos já conquistaram seu lugar ao Sol, mas podemos destacar que estudar, se dedicar, ter planejamento, equilíbrio emocional, escuta ativa, construir sua identidade e assinatura profissional, perfil que desempenha funções acabativas, jogo de cintura para momentos de grande estresse, pontualidade e bons relacionamentos são fundamentais para começar a estrada rumo ao empoderamento.
Como começar? O ideal é planejar no caminho que deseja, cumprir metas, se desenvolver em matérias relevantes e em outras atividades importantes. De tempos em tempos é hora de reanalisar o planejamento, se for preciso deverá mudar a programação e desenvolver outros caminhos.
Como entender meu perfil atual e construir a identidade?
Para entender o seu perfil é preciso antes de tudo ser avaliado, esse profissional pode e deve promover, sugerir temas tais como avaliações, sucessões e remunerações. Quanto mais falamos sobre esses temas no Conselho, mais a evolução acontece. Tudo que é velado, cresce sem nenhum direcionamento uma vez que precisará em algum momento ser tratado de forma evidente.
Sabemos que não adianta ter todos os skills técnicos se os comportamentais ainda estão entre altos e baixos. Entender quem você é, sinaliza um momento de grande descoberta, fazendo o exercício de se voltar para dentro e reconhecer quem você é e para onde deseja ir nessa jornada.
O caminho é longo e ascendente, não é aconselhável pular fases ou entender que se já tem o máximo de desenvolvimento sem ter vivido situações relevantes que determinem os skills corretos.
Percepção, entendimento e desenvolvimento, somente aí, podemos partir para a construção da Identidade e assinatura profissional.
Elsie Sarmento
é advogada, Governance Officer Sênior, Mentora, instrutora e Sócia-Fundadora da Saggezza Corporate Governance.
elsiesarmento@saggezzacorporate.com.br