As mulheres estão ganhando cada vez mais espaço em setores da economia que eram predominantemente masculinos. Agora esse movimento começa a chegar ao mercado financeiro e de capitais. O último Raio X do Investidor Brasileiro realizado pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) com dados de 2020 mostra que 40% dos brasileiros são investidores. Desse total, 45% são mulheres. O ambiente de juros baixos que prevaleceu ao longo de todo ano passado contribuiu também para o aumento dos investimentos em Bolsa de Valores. De acordo com dados da B3, no fim de janeiro deste ano - último dado disponível - eram mais de 5 milhões de investidores no mercado de ações, sendo 1.2 milhão de contas de mulheres.
Para Christianne Bariquelli, superintendente de Projetos Educacionais da B3, a facilidade de acesso a diferentes produtos, novas tecnologias e disseminação de conteúdos sobre educação financeira e investimentos com linguagem descomplicada ajudaram a atrair mais investidores para a Bolsa de Valores. “Além de atingirmos a marca de 1.171.028 milhão de mulheres em renda variável, vale ressaltar que esse público, historicamente, começa a investir com valores maiores que os homens”, comenta a representante da B3.
“O último trimestre de 2021, por exemplo, mostrou que a mediana - comportamento da maior concentração da base de investidores - do primeiro investimento das mulheres foi de R$ 62, enquanto dos homens, foi de R$ 44”, destaca Christianne.
Ainda de acordo com os dados da B3, a maioria das mulheres investidoras tem entre 16 e 35 anos, representando mais de 40% do total das contas. “Importante ressaltar que se concentra um grande volume de investidoras entre 36 e 45 anos, com mais de 320 mil CPFs.”
A administradora de empresas Beatriz Pereira Carneiro Cunha, 53 anos, faz parte deste universo que começou a investir bem cedo. “Com 14 anos, fui emancipada e recebi antecipadamente quotas de uma empresa Ltda., e com 19 anos comecei a investir – comprar, vender, permutar – e fazer minhas próprias escolhas”, conta.
Com a experiência de quem já guarda recursos há mais de três décadas, Beatriz Cunha ensina que, antes de investir, é importante aprender a economizar, poupar e aí sim partir para o investimento. “É um processo. É uma adoção inevitável de escolhas: troca do usufruto de alguns benefícios no momento presente para o momento futuro”, comenta.
“De uma certa forma com pouca idade fui abençoada de poder começar sem ser do zero e com um mindset de economizar. Dificilmente trocava o longo prazo pelo curto prazo”, diz a administradora, que se intitula amante dos números, curiosa e corajosa.
“Gosto muito do mundo de business, é desafiador e lhe dá um aprendizado contínuo, seja nas perdas, nos ganhos, nas parcerias, nos modelos de negócios e, principalmente, nas relações estabelecidas”, avalia Beatriz Cunha. “Enfim, você tem que dividir interesses para multiplicar resultados. E assim gradativamente vou formando uma carteira múltipla de investimentos”, complementa. Ela conta que em 2016 começou a investir em ações de empresas listadas na Bolsa de Valores; em 2019 resolveu migrar parte dos seus recursos para as criptomoedas; em 2020, as startups entraram na carteira; e em 2021 o foco passou a ser a formação educacional da nova geração.
Sua meta inicial com os investimentos era criar valores e consequentemente obter o retorno financeiro. “Fomentar e incentivar o empreendedor através de investimento anjo em startups, que hoje grande parte é feita através do Urca Angels. Investir em companhias que genuinamente respeitam e promovem o ESG (meio ambiente, social e governança), a diversidade e a inclusão. Investimentos que geram empregos e valores à sociedade”, diz. Ela destaca que sua meta não é estática. “Outro objetivo que percebo que estou no caminho certo, é um investimento de longo prazo que não gera retorno financeiro mas gera um valor único: a Educação. Invisto na ‘Parceiros da Educação’, uma entidade que busca melhorar a aprendizagem dos alunos de escolas públicas e tem mostrado ser bastante eficiente em seu propósito”, conta a executiva.
Quem também começou a investir cedo foi a advogada Isabella Diniz Junqueira Bueno Ferraz, 27 anos. Ela tinha apenas 18 anos quando realizou suas primeiras aplicações. “Minha família é empreendedora no mercado financeiro e no agronegócio. Meu pai, além de produtor rural, é gestor de fundos de investimento e sempre nos ensinou a importância de poupar, organizar-se financeiramente e depois investir. Tenho este exemplo em casa e foi um processo muito natural”, afirma Isabella.
Para ela, os investimentos vão lhe garantir um futuro melhor. “Para mim, as etapas de uma vida financeira saudável vão desde organização e planejamento, passando por poupar e chegando em investir. Investir é como uma obrigação, é como se fosse um ‘boleto’ que pago para mim mesma!”, diz.
Seu primeiro objetivo quando começou a guardar recursos era de construir uma reserva de emergência. “Ou seja, ter ao menos seis meses da sua vida guardados para serem utilizados em qualquer emergência”. Isabella Ferraz garante que a meta foi alcançada e atualizada para sua nova realidade, já que ela casou há um ano.
“Agora trabalho em duas frentes para meus investimentos: meus sonhos de curto prazo - que no momento está em finalizar a reforma do meu apartamento e está sendo bem suado - e meus sonhos de longo prazo - quero atingir minha independência financeira antes dos 45 anos”, projeta.
Isabella começou investindo em multimercado, que mescla ativos de renda fixa com um pouco de Bolsa de Valores, e hoje sua carteira é bastante balanceada. Além de multimercados, tem recursos aplicados um fundo de ações com uma carteira bastante variada e também ativos mais arrojados como criptomoedas, que por ser algo ainda muito novo e não claramente regularizado, não passa de 3% do total dos seus investimentos.
Para ela, mais do que buscar informações é preciso contar com o apoio de profissionais especializados. Pessoas competentes que estudaram, tem experiência e principalmente, dedicam seu tempo para estudar os melhores ativos. “São muitas as oportunidades e variedades de opções. Sou advogada de formação e atualmente administro propriedades rurais. É impossível eu conseguir entender o momento de cada empresa disponível, fazer contas, analisar os setores para realizar minhas escolhas”. Ela aconselha as investidoras a não entrarem no efeito manada – fazer o que todo mundo faz, mas depois que fazem, porque certamente já terá perdido o timing.
DEDICAÇÃO
Os dados da B3 mostram que a maior parte das investidoras se encontram no eixo Rio-São Paulo. “Observam-se tendências de maior diversificação na carteira das mulheres ao longo do tempo, sendo que em 2016, 75% das mulheres tinham apenas ações em suas carteiras e hoje esse número caiu para 42%, graças ao aumento considerável nos investimentos delas em BDRs e FIIs”, comenta Christianne Bariquelli.
Além disso, elas estudam mais antes de definirem onde vão aportar seus recursos. A executiva Daniela Maia, 45, é um exemplo disso. “Em 2000 comecei investindo em fundos inicialmente de renda fixa, mas fui ficando mais arrojada ao longo dos anos”, diz ela, ao afirmar que a sua carteira atualmente conta com ações (10%), FIIs (13%), COE (7%), renda fixa (18%), imóveis (32%), startups e outros empreendimentos (20%).
Ela começou a investir para realizar sonhos, como viajar, comprar carro, imóvel, entre outros. “Cada vez que realizava um sonho colocava uma nova meta”, comenta Daniela. “Em 2016 quando os juros começaram a cair comecei a diversificar ainda mais a minha carteira. Investi em empresas e, em 2019, comecei a investir na Bolsa de Valores”. O objetivo, à época, era aumentar o patrimônio para garantir uma “aposentadoria” tranquila e a faculdade dos meus filhos”, diz. “Desde julho de 2021 meu objetivo foi também viver de renda. Para isso tive que modificar o perfil da carteira para receber uma renda mensal”, complementa.
De acordo com Daniela, no início a principal dificuldade é entender os termos e a diferença entre investimentos. Também é importante entender que algumas recomendações geram movimentos nos preços no mercado.
Para a executiva, a parte mais importante é definir o prazo e seu apetite ao risco, pois isso vai definir a melhor ação nos momentos de turbulência. “Nos momentos de crise, muitas vezes o melhor é esperar ou se houver uma mudança real do parâmetro do investimento então deve se sair o mais rápido possível”, recomenda.
“Minha dica para quem está começando é definir seu objetivo, estudar e se informar, começar em posições confortáveis, não arriscar mais de 5% do seu patrimônio, para depois aos poucos conforme for aprendendo e se sentindo mais confiante ir montando uma carteira mais arrojada”, ensina Daniela.
O incremento da participação de mulheres na Bolsa de Valores, avalia a representante da B3, é mais um passo rumo a equidade e mostra sua relevância ao colocar cada vez mais poder do público feminino sobre seu capital. “O interessante é que, as mesmas características que desaceleram a chegada das mulheres na Bolsa, por exemplo, a necessidade de conhecer melhor antes de começar a investir, podem beneficiá-las como investidoras.” Estudos também mostram que o perfil mais cauteloso das mulheres faz com que elas tenham em seus investimentos retornos melhores que os homens ao longo do tempo. “Então o quanto antes elas se encorajarem para dar o primeiro passo melhor para elas mesmas porque tendem a ser melhores investidoras que os homens”, garante.
“Embora ainda tenha uma grande maioria masculina na Bolsa, há uma sinalização positiva do empoderamento do público feminino. Movimento que começou no início dos anos 2000 e se intensificou especialmente depois de 2008, com uma ascensão mais robusta”, diz Filipe Ferreira, diretor da ComDinheiro, ao lembrar que em 2000, elas representavam 17% do total de investidores na Bolsa e hoje são quase 24%.
“As mulheres são mais conservadoras historicamente, o que torna ainda mais interessante esse movimento da Bolsa porque significa uma quebra de paradigma”, destaca Ferreira. Para ele, as lideranças femininas em empresas listadas na Bolsa ajudam que mulheres olhem mais para o mercado acionário e queiram investir nelas.
A influenciadora Ana Laura Magalhães, 30 anos, que era responsável pelo canal “Explica Ana”, considera que a evolução dos conteúdos mostra um aumento também na representação feminina. “Antes, era incomum mulher falando sobre finanças e também mulheres em cargos de chefia nas empresas. A evolução de novas investidoras acompanha também evolução das pessoas que consomem produto financeiro e a própria evolução do mercado, que está bem mais acessível”, diz.
Ana Laura destaca que as carteiras femininas têm desempenho melhor porque mulheres são mais cautelosas, enquanto que os homens são mais agressivos. “As mulheres por terem sido mais excluídas que os homens na tomada de decisão, elas têm dúvidas mais básicas, mais iniciais, mas o entendimento depois que acontece acaba sendo mais natural, porque a mulher não tem essa sede de arriscar. Para elas, é mais importante ponderar, estudar, riscos e características que pode desenvolver”, avalia.
Celso Sant'Ana, psicólogo financeiro, concorda que mulheres tendem a ser conservadoras. “Há cinco anos, menos de 10% dos meus atendimentos eram de mulheres. Hoje quase 40% do grupo que atendo e me procura são mulheres, isso mostra que o apetite ao risco delas está aumentando”.
Apesar de serem mais conservadoras, o psicólogo comenta que estudos apontam que as mulheres tendem a girar menos a carteira, fazendo menos compras e vendas. “Estudo feito em Londres com 3.000 mulheres durante três anos mostra que elas tiveram rentabilidade maior do que a dos homens e chegaram a bater o índice londrino.” De acordo com Sant'Ana, esse fenômeno de aumento da participação feminina nos investimentos é mundial.
Sidney Lima, analista de investimentos, atribui este movimento à igualdade, que as mulheres têm buscado em todos os setores da economia. “A mulher deixa de ser refém, de ser apenas uma pessoa receptiva, se sentindo mais útil e produtiva. Com as mulheres enxergando a luta pela igualdade, começou a ganhar espaço”.
Os especialistas consideram que as mulheres costumam ser mais centradas, dedicadas e objetivas. Ela vai até o fim para entender sobre determinada estratégia. “Os maiores destaques que tenho nas minhas turmas de mentoria são as mulheres”, destaca Sidney Lima.
Louise Barsi, co-fundadora do “Ações Garantem o Futuro”, considera que ao tomar controle dos seus investimentos as mulheres alcançam a tão sonhada liberdade. “Não existe liberdade sem independência financeira. Há uma conscientização de que ela pode e deve tomar conta da sua própria finança”, avalia. Além dos seus próprios investimentos, Louise faz o gerenciamento do patrimônio da família. “O patrimônio está 100% em Bolsa de Valores e na renda fixa só reserva financeira. Investimento mesmo só em Bolsa.”
Ela conta que o interesse por investimento começou desde cedo. “Costumo dizer que veio da barriga da minha mãe, que trabalhava na área de custódia da Bolsa de Valores. Então, sempre frequentei a Bolsa, corretoras”, diz Louise, que é filha de Luiz Barsi, um dos maiores investidores pessoa física da B3.
Em 2008, quando ela tinha apenas 14 anos o pai lhe comprou ações da Ultrapar e explicou que elas iriam lhe render cerca de R$ 300 por mês e que a jovem poderia retirar o valor ou investir e aumentar o seu patrimônio. “Assim começou a educação financeira na minha casa. E isso acabou virando um hobby entre pai e filha. Virou uma atividade entre a gente e um jeito de me aproximar, mas também um “vício do bem” porque quando você consegue gerar dinheiro com mais dinheiro, é muito bom. Vi isso e queria pegar os R$ 300 para investir na Bolsa”, conta Louise. “Uma frase que meu pai sempre usa é que “é melhor ser um pequeno dono de um grande negócio do que grande dono de um pequeno negócio”.
No entanto, ela destaca que é importante ter inteligência emocional para investir na Bolsa. “Estudos mostram que em cinco anos você já igualou o que recebe de dividendos com o que você aporta mensalmente, é exponencial esse crescimento”. E lembra que o dividendo é pago com base na quantidade de ações que você tem e não no valor. Por isso, acha importante o foco na quantidade de ações de poucas empresas. “Conhecer a fundo o negócio que você tem na carteira é muito importante. Analisar e acompanhar 20 empresas é muito difícil e você vai ter que delegar. Mas se você tem quatro ou cinco empresas para acompanhar seu trabalho fica mais fácil”, ensina.
Para ela, uma boa opção é investir em companhias boas pagadoras de dividendos no longo prazo, líder nos seus mercados, e que conseguem repassar os custos inflacionários nos seus preços – como bancos, energia, saneamento, seguro e telecom, que são serviços que o consumidor não deixa de pagar.
Juliana Reis, 43 anos, considera que os investimentos financeiros lhe darão tranquilidade financeira. “Sou mãe e solteira, então essa independência financeira é importante e vai me deixar muito mais tranquila e confortável”, diz.
O interesse dela pelos investimentos começou quando o filho ainda era pequeno. “Adoro ler e, com filho pequeno, não tinha muito tempo para isso. Foi aí que comecei a ouvir podcast e a me interessar pelos que falavam sobre investimentos, era algo que eu queria aprender e ainda não tinha tido oportunidade”. O processo de investimento começou há quatro anos, com títulos pré-fixados, multimercados e ETFs. “Com o passar do tempo, fiquei mais confortável e comecei a arriscar mais. Hoje tenho 60% em produtos mais arriscados e 40% em investimentos mais conservadores.”
Os ensinamentos financeiros estão sendo passados para o filho, que, destaca Juliana, é bastante econômico e já entende a importância de guardar recursos. “Ele tem mesada, mas tem que contribuir com as coisas da casa – como colocar a louça na máquina ou retirar o lixo – e, se quiser comprar “besteira” para comer, por exemplo, tem que ser com o dinheiro dele e isso faz ele pensar em como pretende gastar”, diz.
Ela, que mora nos Estados Unidos, explica que lá tem um aplicativo que permite comprar frações de ações. “Estou começando a aplicar com ele usando esse aplicativo para ele aprender sobre investimentos e eu também”, comenta.
A médica Isabela Soares, 23 anos, por sua vez, despertou o interesse pelos investimentos no cinema. “Eu sempre assistia a filmes que tinham o mercado financeiro como temática. Minha principal referência era o “Lobo de Wall Street”, mas eu imaginava que para investir fosse necessário ter milhões. Aliás, acredito que todo mundo pensa que é preciso ter muito dinheiro para investir em ações”, diz. Mas foi a necessidade que levou ela para o mundo dos investimentos.
“Comecei a estudar medicina na UFBA (Universidade Federal da Bahia). Além disso, sou mãe “solo” e precisava de algum trabalho para me manter, mas tinha de ser algo com um horário flexível para conciliar com os estudos”, diz. “Foi quando um amigo, familiarizado com o mundo dos investimentos, me explicou como funcionava o mercado, a Bolsa de Valores, e disse que eu não precisava ter muito dinheiro para começar, mas que o ideal era praticar em uma conta de demonstração para aprender - e só depois começar a aplicar meus recursos”, conta a médica.
Isabela Soares foi, então, em busca de mais informações e assistiu a diversos vídeos na internet. “O problema é que o que eu mais encontrei foram vídeos sobre pessoas que perderam dinheiro. E isso me deixou com bastante receio de investir e acabar fazendo parte desse grupo que teve prejuízo. Por isso, é importante saber filtrar as informações”, alerta.
De tanto pesquisar, ela conheceu uma “mesa proprietária” sediada em São Paulo, que treina e contrata profissionais para atuar no day trade. E decidiu entrar em contato com eles. “Achei interessante a proposta de trabalho da empresa e decidi arriscar. Não paguei para aprender. Fiz apenas o curso gratuito que eles ofereciam. Treinei na “conta demo” deles e passei logo no primeiro teste do qual participei. Estou há um ano trabalhando como trader para eles”, conta.
Com o dinheiro que ganhou ao longo desse tempo, Isabela pagou os R$ 12 mil da formatura e manteve as despesas da sua casa. “Moro com minha mãe, que no ano passado ficou desempregada por causa da pandemia. Então, fazer day trade foi algo muito bom para mim. Mas é importante explicar que os ganhos não são fixos. Às vezes eu tiro mais e às vezes menos. Assim, o valor mensal é relativo. Em média eu garanto uma renda entre R$ 2.000 e R$ 3.000 por mês, mas já aconteceu de eu obter resultado negativo e não receber nada”, alerta.
Ela considera que para trabalhar como trader é preciso estar psicologicamente preparado para ganhar e perder. “A grande vantagem, no meu entender, é a flexibilidade. Eu, por exemplo, opero na B3 apenas na parte da manhã, mas poderia operar à tarde, se eu quisesse. Também posso trabalhar em dias alternados, de qualquer lugar usando apenas o celular. Dessa forma, eu consigo conciliar com o meu trabalho como médica no Hospital das Clínicas da UFBA”, diz Isabela.
E a grana extra complementa a renda da família. “Atualmente, uso meu salário como médica para manter a casa e o que eu recebo como trader uso para lazer”, comenta ela. Isabela considera que trabalhar no mercado financeiro expandiu seus conhecimentos,e que agora decidiu investir em bitcoins e em outros produtos de renda variável. “E o fiz de forma responsável, aplicando um valor baixo. Por tudo isso, pretendo continuar atuando como trader”, diz.
A médica destaca que ainda há poucas mulheres trabalhando como trader. “Isso acontece porque nossa cultura faz com que as mulheres se conformem em ficar em casa cuidando dos filhos enquanto o homem trabalha fora para garantir o sustento familiar. Mas não é preciso ser assim. Uma mulher pode ficar em casa cuidando dos filhos e ainda ter sua própria renda atuando como trader.”
“E no dia a dia do mercado também percebo que as atitudes são diferentes. As mulheres aceitam mais o que o mercado rende no dia, enquanto os homens continuam arriscando. Somos mais “pé no chão do que eles”. Acho até que por conta dessa cultura a que fomos submetidas. Mas funciona. Depois que você conseguir lucrar não há porque arriscar perder por pura ganância. Mercado é todo dia. Perdeu hoje, ganha amanhã”, avalia.
A CEO da It Beauty Academy e influencer na área de posicionamento e moda, Flávia Campos, 28 anos, passou a se interessar pela área de investimentos e a querer diversificar sua carteira, quando começou a namorar o seu atual esposo, que trabalha na área financeira. “A partir deste momento, percebi o quanto era importante diversificar meu capital, não só em empreendimentos, mas também no mercado financeiro”, diz. Ela conta que começou aos poucos, com uma quantia não tão alta, para que pudesse ter confiança em alocar cada vez mais do seu patrimônio na Bolsa de Valores.
“Meu objetivo era diversificar meu patrimônio e também ter uma rentabilidade ao longo prazo, pensando justamente em ter rendimentos mensais derivados deles. Sabemos muito bem que aqueles que trabalham lado a lado com o juros compostos ganham, e aquele que vai contra acaba perdendo grandes oportunidades de rentabilização e crescimento do seu patrimônio.”
Após três anos de investimentos, Flávia começou a colher os frutos, mas levou um susto no segundo semestre do ano passado. “Tive prejuízo e isso me preocupou bastante, fiquei aflita mas fui devidamente orientada a ter paciência. Aos poucos aquele lucro que eu tinha voltou e hoje consigo ter mais rentabilidade do que eu tinha no primeiro semestre de 2021”, diz.
Ela segue investindo em ações, mas foi diversificando ao longo do tempo as companhias em que aplica seus recursos. “Coloquei também um valor para especulação em mini contratos de Índice fazendo swing trade.”
Para ela é fundamental ter paciência e persistência. Destaca que não adianta desesperar-se com um momento ou crise. “Como já dizia Warren Buffett: ‘O mercado foi feito para transferir dinheiro dos impacientes para os pacientes’”, finaliza.