Ponto de Vista

LIVES SERÃO O ‘NOVO NORMAL’ NO BALANÇO DE RESULTADOS? por Melissa Angelini

Não é de hoje que a tecnologia vem transformando positivamente o mercado de capitais brasileiro, com ferramentas que agilizam e facilitam o dia a dia de profissionais do setor e de investidores. A pandemia de Covid-19 acabou por acelerar esse processo, e temos visto um movimento de empresas no sentido de oferecerem formatos diferentes para a divulgação de seus balanços trimestrais.

Se no passado os encontros presenciais limitavam o acesso de interessados para algumas dezenas de pessoas, não é errado dizer que os tradicionais calls via telefone, usando apenas áudio, também não estão explorando o potencial de publicização dos balanços empresariais. Essa discussão tem se tornado cada vez mais relevante na área de RI.

A tecnologia tem sido fundamental para que as empresas mantenham a transparência e comunicação com os acionistas, jornalistas e outros interessados em acompanhar o desempenho dos balanços trimestrais, ao mesmo tempo em que cumprem seus compromissos de governança com os órgãos reguladores. O mundo das "lives" e o "novo normal" também chegou ao mercado de RI.

Um estudo divulgado no começo deste ano pelo MZ Group, líder global em disponibilizar tecnologias e criar plataformas para a divulgação de resultados, mostra que a CVM registrou 736 comunicações de "lives" para manter os investidores e os principais atores do mercado, informados sobre seus balanços, fatos relevantes e outros anúncios de governança. Esse número foi 316% superior ao registrado em 2020.

O pico de reuniões virtuais com vídeo foi entre agosto e setembro. O MZ Group também registrou que o número de reuniões públicas via videoconferência vem aumentando a cada trimestre. De acordo com o último estudo da empresa, mais de 43% das teleconferências realizadas no terceiro trimestre de 2021 foram realizadas no formato vídeo.

A pesquisa mostra ainda que os Diretores Presidentes das empresas foram os que mais participaram das "lives'' (mais da metade delas), seguidos pelos Executivos de RI, e os CFOs. Essa informação aponta outra tendência importante, a de que o mercado de RI está pedindo também profissionais mais preparados na comunicação dos balanços, com características de porta-voz e treinamentos de média, capazes de passar segurança quando são questionados ao vivo.

Entre a vanguarda no uso de tecnologias como essas no RI nacional estão GOL, Petrobras, Carrefour, CSN e Riachuelo.

Os tradicionais roadshows e non deal roadshows (NDR), por exemplo, deixaram o corpo-a-corpo entre executivos e investidores, para serem agora virtuais. Inclusive, muitos IPOs foram realizados completamente de maneira virtual. Mesmo com o potencial fim da pandemia, devemos continuar utilizando o vídeo para diversas interações.

É verdade que nada substitui o encontro presencial, especialmente na hora de discutir estratégia e passar a mensagem da transparência, um dos motivos pelos quais essas tecnologias só passaram a ser usadas a partir da pandemia, mesmo estando disponíveis há anos. Mas é fato que a tecnologia abre outras ofertas, como a de poder rever os vídeos, ou assisti-los depois do evento, sem o habitual transtorno de ter de se deslocar em um mundo em que o home-office chegou para ficar, e ainda de maximizar o tempo dos executivos.

Por outro lado, não há mais espaço para executivos de RI que falam difícil. Tanto executivos como investidores contam com inúmeras possibilidades além dos vídeos, webinars e lives com especialistas. Os acionistas têm agora à disposição canais de diálogo e ferramentas que antes não existiam. Imaginemos um mercado de capitais sem fóruns de discussão, sem grupos de WhatsApp ou de Telegram. Desde essa perspectiva, a tecnologia amplia o networking e oferece mais segurança ao poder fazer consultas e resolver dúvidas por tantos canais.

Uma comunicação virtual permite que investidores que tinham problemas para se deslocar até as reuniões presenciais ou dificuldade para se expressar em público tenham acesso às informações, abrindo ainda mais o espaço para mais gente interessada em entrar no mercado.

A tecnologia no mercado de capitais já está gerando um boom de investidores "Pessoa Física" no Brasil, uma tendência que vem evoluindo há cinco anos. Para constar, eram 814 mil investidores em 2018 que atingiram a impressionante marca de 5 milhões de CPFs registrados pela B3 este ano, sendo que esse número é ainda ínfimo se considerarmos o tamanho da população brasileira. Todos sabemos que, hoje, basta ter um celular à mão para investir.

A tecnologia e o avanço das comunicações a partir das redes sociais também tem permitido chegar a potenciais investidores com educação financeira, através de vídeos curtos, como Stories ou o Reels, e informações mais diretas e simplificadas. Todos esses canais estão disponíveis em modernos websites dedicados de RI, onde é possível encontrar de forma organizada e objetiva todos os documentos, balanços e informações de fatos relevantes.

Os principais eventos do mercado, como o encontro anual do IBRI, do NIRI e do IBGC, por exemplo, também tiveram suas versões virtuais, ou híbridas, assim como as assembleias, que passaram a ser digitais. E assim como aconteceu na maioria das áreas, os órgãos reguladores precisaram agir para se adaptar e evitar que a máquina do mercado de capitais parasse.

Além de criar uma comunicação de conexão direta entre empresas e investidores, a interação criada pela tecnologia oferece mais credibilidade e transparência, humaniza a comunicação e reforça uma imagem positiva da companhia, interessada em manter o diálogo e oferecer os detalhes de seus balanços, democratizando assim a informação para o mercado.

Por isso, está claro que cada vez mais acionistas vão exigir o uso de recursos visuais na divulgação de balanços e que cada vez mais empresas vão aderir às lives - em detrimento dos calls por áudio. Neste novo nível de maturidade do mercado de investimentos e do segmento de RI, ganha mais quem conseguir fazer seu conteúdo chegar aos investidores de forma mais didática, dinâmica, transparente e, principalmente, abrangente.


Melissa Angelini
é Diretora de RI da Procaps Group.
mangelini@procapsgroup.com