O ESG, sigla que envolve as boas práticas ambientais, sociais e de governança - começa a influenciar o modelo de remuneração dos executivos de grandes companhias. A tendência, já em debate nos EUA, deve se proliferar no Brasil, mas exige grandes desafios. O maior entrave está na escolha de uma métrica que vai definir o norte a seguir, quando tratamos de práticas como a bonificação.
Muitas perguntas devem ser feitas antes da adoção de um modelo e a maioria tem respostas complexas demais. Ao escolher a métrica a seguir, como mensurar o progresso? Qual a durabilidade de uma métrica? Ora, o que é importante hoje, pode não ser prioridade em alguns anos e a escolha é um dos sinais mais externos do compromisso de uma empresa com ESG. Além disso, o indicador será quantitativo ou qualitativo? Divulgação completa ou não? Parte de um scorecard ou autônomo? Muitas dessas questões logísticas podem ser respondidas reconhecendo onde uma empresa está em sua jornada ESG. Por exemplo, se uma empresa está apenas começando com ESG, talvez uma métrica qualitativa em um scorecard seja a mais apropriada.
O mais comum é que os membros do comitê desejem conhecer o comportamento de mercado antes de estabelecer definições. No entanto, tal princípio, na verdade, está equivocado. Ao invés de olhar para fora, as empresas devem começar sua análise ESG olhando para dentro. Como qualquer métrica, especialmente as não financeiras, a adoção deve ser feita somente após uma consideração cuidadosa do benefício de longo prazo para a estratégia corporativa. Embora as informações dos concorrentes sejam um importante ponto de dados, as empresas não devem perder de vista seus próprios planos.
O vício de olhar para fora antes do que para dentro de casa levou as empresas americanas a, por exemplo, buscar o foco cultural mais amplo na diversidade, equidade e inclusão (DEI). Embora a promoção da diversidade e inclusão por meio da ação corporativa seja, sem dúvida, um bem social, as empresas não devem tratá-las como um complemento. Em vez disso, qualquer métrica incorporada deve ser usada para impulsionar a estratégia corporativa.
A compreensão de qual métrica ESG se encaixa na estratégia corporativa começa com o exame de duas questões. Primeiro, é preciso se perguntar quais ações corporativas beneficiariam as partes interessadas internas e / ou externas. Em segundo lugar, a empresa espera receber algum benefício de longo prazo em troca? Pode haver várias respostas para essas perguntas, mas é importante que o Comitê de Pessoas seja capaz de, eventualmente, articular um benefício externo e interno claro após adicionar o peso extra de uma métrica de remuneração executiva.
Estamos no meio da maior mudança na remuneração de executivos em mais de 20 anos. A oportunidade que essa mudança oferece começa com a métrica que a empresa escolhe. Essa sinalização carrega uma mensagem poderosa para o mundo externo e deve ser considerada no contexto da estratégia e dos valores corporativos. Diante disso, o ESG será um grande diferencial para muitas empresas.
Ronald Bozza
é sócio da BR Rating e da Bozza Soluções Estratégicas em Recursos Humanos, membro independente do Comitê de Pessoas e ESG e da Comissão de Pessoas do IBGC.
rbozza@brrating.com.br