O XIX Seminário Internacional do CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) aconteceu nos dias 14 e 15 de setembro de 2022, em plataforma digital fechada, promovendo debate sobre normas contábeis internacionais para relatórios financeiros e de sustentabilidade, entre outros temas.
O evento teve início com breve apresentação de Haroldo Reginaldo Levy Neto, coordenador geral do XIX Seminário Internacional CPC, que ressaltou a importância das entidades-membro do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, além de agradecer o trabalho dos demais coordenadores, palestrantes, moderadores, patrocinadores e colaboradores.
Haroldo Levy passou a palavra para o primeiro palestrante responsável pela abertura do evento: Aécio Prado Dantas Júnior, Presidente do CFC Conselho Federal de Contabilidade) e Membro do Conselho Curador da FACPC (Fundação de Apoio ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis).
Abertura
Aécio Prado Dantas Júnior cumprimentou as entidades-membro do CPC e do CBPS (Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade), além de “toda a classe contábil brasileira, os mais de 526 mil profissionais e as mais de 82 mil organizações contábeis de todo o país”. “É extremamente importante que possamos discutir temas relevantes em relação a questões de sustentabilidade. Nós vamos viver agora um novo momento. Todas as adequações estatutárias, regimentais, foram feitas para recepcionar esse novo Comitê, o CBPS. A criação do CBPS foi estabelecida por meio da Resolução CFC n.º 1.670, de 9 de junho de 2022.
“Temos, agora, essa missão de trabalhar na normatização, definir padrões de informações relacionadas à sustentabilidade, naturalmente alinhadas às práticas internacionais definidas pelo ISSB (International Sustainability Standards Board). Então, é uma missão extremamente importante que temos agora, além da já feita com muita maestria pelo CPC, nessa luta incansável pela convergência da Contabilidade brasileira aos padrões internacionais”, declarou Aécio Prado Dantas Júnior.
Na sequência, a palavra foi passada para Haroldo Levy, que apresentou Valdir Coscodai, Presidente do Conselho Curador da FACPC (Fundação de Apoio ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis), que salientou “a importância do seminário, além da intensa e eficaz atuação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis nos últimos 17 anos, desde sua criação em 2005. Os relevantes ganhos para o Brasil na área contábil devem ser creditados ao trabalho que se realiza pelo CPC na adoção das normas internacionais emitidas pelo IASB (International Accounting Standards Board)”.
Coscodai destacou as discussões em audiências públicas, além de debates em grupos de trabalho promovidos por entidades e associações, além da participação ativa em entidades afins. É importante ressaltar, que, nos últimos anos, temos sido cada vez mais proativos nos trabalhos, tanto em termos de participação no processo de construção de novas normas, quanto no aprimoramento de normas existentes”.
Concluída a abertura do evento, Haroldo Levy retomou a palavra para realizar homenagens a profissionais que participaram ativamente do processo de implantação das normas contábeis internacionais no Brasil.
Homenagens
Foram homenageados com uma placa por relevante participação no processo brasileiro de implementação das normas internacionais de contabilidade: Ariovaldo dos Santos, como Membro do CPC; Idésio da Silva Coelho Junior, como Coordenador de Operações do CPC, atuando também como Vice-Presidente Técnico do CFC (Conselho Federal de Contabilidade); Marcelo Barbosa, como Presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), sempre apoiando os trabalhos do CPC; Ricardo Tadeu Martins, como Membro do CPC, atuando também como Presidente da APIMEC (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) Nacional e Membro do Conselho Curador da FACPC no processo brasileiro de implementação das normas internacionais de contabilidade; e Welington Rocha, como Presidente do Conselho Curador da FACPC, atuando também como Presidente da FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).
Haroldo Levy realizou duas homenagens póstumas com placas enviadas às famílias de Luiz Carlos Vaini (in memoriam), por sua relevante participação como Coordenador de Operações do CPC, atuando também como Vice-Presidente Técnico do CFC; e de José Carlos Bezerra da Silva (in memoriam), como Membro Convidado do CPC e Membro do Conselho de Vogais da FACPC, atuando também como Superintendente de Normas Contábeis e de Auditoria da CVM. Levy ressaltou que ambos contribuíram no processo brasileiro de implementação das normas internacionais de contabilidade. “Infelizmente, nós temos tido perdas importantes de amigos e de grandes profissionais desse mercado todos os anos”, destacou Haroldo Levy.
Na sequência, foi iniciado o primeiro painel do XIX Seminário Internacional CPC, que abordou “Combinações de Negócios; Covenants; Supplier Finance Arrangements e IFRS 9 – Classificação e Mensuração”.
Painel 1
Rogério Mota, Coordenador de Relações Internacionais do CPC e Diretor Técnico do IBRACON (Instituto de Auditoria Independente do Brasil), foi o moderador do painel, resumiu os temas a serem abordados e apresentou o palestrante Tadeu Cendón, Board Member do IASB (International Accounting Standards Board).
Mota enfatizou que “diferentemente de alguns temas que são específicos, ou para uma indústria, ou para uma realidade internacional e distante da brasileira, todos os assuntos selecionados para o painel, de fato, impactam diretamente grande parte das empresas no cenário nacional”.
Tadeu Cendón abordou temas que estarão sendo objeto de análise e alterações das normas internacionais de contabilidade como: Combinações de negócios – divulgações e impairment; Classificação de passivos não circulantes com covenants; Risco sacado (Supplier Finance Arrangements); e IFRS 9 – Classificação e mensuração.
Cendón discorreu sobre o andamento do projeto de revisão da norma que trata do assunto Combinações de Negócios. De acordo com Cendón, os preparadores do IASB estão revendo as opiniões preliminares divulgadas no Discussion Paper. O board member do IASB tratou ainda sobre a classificação de dívida de longo prazo quando há cláusulas de covenants, o que pode acelerar a exigência. Cendón comentou, também, o projeto de Risco Sacado (Supplier Finance Arrangements) e a pós-implementação da IFRS 9, norma que introduz novas exigências para medir a deterioração de ativos financeiros, além de um novo modelo de classificação e mensuração.
Haroldo Levy, Coordenador Geral do XIX Seminário Internacional CPC, anunciou, então, o Painel 2: “Reflexões sobre a contabilização de Criptoativos”.
Painel 2
Paulo Roberto Gonçalves Ferreira, Superintendente de Normas Contábeis e de Auditoria da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), foi o moderador do segundo painel do XIX Seminário Internacional do CPC e ressaltou que o debate sobre a contabilização de Criptoativos tem o intuito de apresentar o que já existe sobre o tema no mundo, no que se deve pensar para avançar no Brasil sobre o assunto e eventuais providências que devem ser tomadas no que tange à Contabilidade.
“Quase todas as pessoas têm ouvido falar dos problemas ocorridos em diversas jurisdições, as fortes oscilações, problemas até de fraudes, ou seja, é um ambiente desafiador, não só para a área contábil, que é o foco aqui do nosso tema, como para os Bancos Centrais. Enfim, o tema ligado a criptoativos é extremamente abrangente. Nós vamos focar naquilo que é de nossa competência, a discussão de reconhecimento, mensuração e divulgação contábil desse evento econômico”, salientou Paulo Gonçalves Ferreira.
Por sua vez, o palestrante José Luiz Ribeiro de Carvalho, Vice-Presidente do GLENIF/GLASS (Grupo Latinoamericano de Emisores de Normas de Información Financiera / Group of Latin American Accounting Standard Setters), explanou definições sobre criptoativos e tipos existentes, como os tokens não fungíveis, Security Tokens e Utility Tokens.
"As criptomoedas são destinadas como um meio de troca e possuem um valor particular, assim como as moedas fiduciárias tradicionais. Por outro lado, os tokens utilitários são ativos não monetários, e mais semelhantes a um bilhete ou cupom. As criptomoedas são nativas de um blockchain – como BTC (Bitcoin) ou ETH (Ethereum) – enquanto os tokens são criados como parte de uma plataforma que é construída sobre uma blockchain existente, como os muitos tokens ERC-20 (padrão de desenvolvimento para criação de tokens fungíveis na rede Ethereum)”, relatou José Luiz Ribeiro de Carvalho.
O palestrante Eduardo Flores, Membro do Advisory Council da IFRS (International Financial Reporting Standards) Foundation e Membro Convidado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) / CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), apresentou diversos aspectos da Agenda Decisions do IFRIC 2019 sob a perspectiva de quem detém criptomoedas (holdings of cryptocurrencies), além de algumas breves considerações sob a perspectiva do “minerador”.
"A relação dos ativos digitais desafia a interpretação de um conjunto de elementos econômicos do século XXI, com normas, sejam elas de regulação de mercado financeiro, regulação de mercado de capitais, regulação tributária, regulação contábil, que são, na sua melhor hipótese, inspiradas no século XX. Então, não é que estamos lidando com mais um assunto, nós estamos lidando com algo que não existia há 20 anos. Ou seja, que não existia no contexto econômico", afirmou Eduardo Flores.
Encerramento do primeiro dia
Após a conclusão do Painel 2, Alexsandro Broedel, Trustee da IFRS (International Financial Reporting Standards) Foundation, iniciou a palestra de encerramento do primeiro dia de evento, abordando questões do cotidiano do profissional de contabilidade e da revolução enfrentada pela área contábil atualmente. “Passamos os últimos dois anos trabalhando na Governança do ISSB e que agora já tem colocado ‘na rua’ suas primeiras propostas de Normativos”, destacou.
Além disso, Alexsandro Broedel afirmou que “a transformação que estamos fazendo é muito maior que o conjunto de normas IFRS no início dos anos 2000. Trabalhei bastante naquela época, com inspiração em normas contábeis já existentes, com diferenças e similitudes, mas que, apesar de divergências e discussões, estávamos tratando de temas que eram de conhecimento de todos. Agora estamos falando de um mundo totalmente novo, em que as informações não eram reportadas pela maior parte das companhias. São informações Ambientais, Sociais e de Governança, que precisam ser construídas com integridade”.
Diante disso, Alexsandro Broedel apontou quatro desafios para os contadores e praticantes das finanças: integridade das informações (muito mais subjetivas e complexas, como, por exemplo, o número de clientes de uma companhia); comparabilidade das informações (precisam ser comparáveis entre empresas e entre setores); escopo da entidade que reporta (divulgação de demonstrações financeiras); e, fundamentalmente, a questão do business model (como as informações sobre sustentabilidade são inseridas ou interagem com o modelo de negócios da companhia).
Haroldo Levy, Coordenador Geral do XIX Seminário Internacional CPC, resumiu os temas debatidos no decorrer dos painéis e foi o responsável por encerrar o primeiro dia de evento.
Segundo dia
No segundo dia do evento, Haroldo Levy apresentou Jorge Gil, Presidente do GLENIF/GLASS (Grupo Latinoamericano de Emisores de Normas de Información Financiera / Group of Latin American Accounting Standard Setters).
Jorge Gil discorreu sobre a história, grupos de trabalho e atividades do GLENIF/GLASS, criado em 28 de junho de 2011, além dos principais objetivos do Grupo, que são: responder a todos os documentos de consulta do IASB/ISSB; interagir com o IASB/ISSB; gerar iniciativas de mudança da região; contribuir para a adoção de normas em cada país; assim como interagir com grupos regionais e participar de encontros mundiais. Gil comentou as iniciativas latino-americanas sobre revisões de normas contábeis internacionais, também, para Pequenas e Médias empresas.
“A missão do GLENIF é gerar, de forma organizada, uma voz unificada da região perante o IASB e o ISSB”, concluiu Jorge Gil.
Painel 3
Após a palestra do Presidente do GLENIF/GLASS, foi iniciado o Painel 3 com o tema “ISSB (International Sustainability Standards Board)”.
O painel teve a moderação de Marta Pelucio, Presidente da ANEFAC (Associação Nacional de Executivos) e Membro do Conselho de Vogais da FACPC, que fez uma apresentação sobre o ISSB.
O ISSB foi criado, em 03 de novembro de 2021, pela IFRS Foundation na COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), em Glasgow (Escócia), com o objetivo de emitir normas de divulgação de sustentabilidade. Também apresentou algumas informações sobre a atuação da ANEFAC nessa temática.
“Fizemos um estudo no Congresso da ANEFAC e o que notamos é que a maioria dos participantes acredita que a regulação por parte do ISSB será positiva, tanto do ponto de vista dos preparadores das demonstrações contábeis, como por parte dos usuários, para que as informações sejam comparáveis para utilizar na tomada de decisão de investimentos. Portanto, é possível notar o grande desafio que o ISSB vai enfrentar no desenvolvimento de normas de sustentabilidade. Será fundamental para a busca do equilíbrio e transparência das informações ESG (do inglês Environmental, Social and Governance; em português, ASG – Ambiental, Social e Governança)”, afirmou Marta Pelucio.
Posteriormente, a Presidente da ANEFAC apresentou o palestrante Arturo Rodríguez, Senior Market Leader for Ibero-America da IFRS (International Financial Reporting Standards) Foundation.
Arturo Rodríguez apresentou a IFRS Foundation, uma organização sem fins lucrativos, respaldada pelo G20 (grupo formado pelos Ministros de Finanças e chefes dos Bancos Centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia). Também detalhou: a minuta da IFRS S1, com seus requisitos gerais; a minuta da IFRS S2, focada em questões sobre mudanças climáticas; a necessidade de uma taxonomia digital; e algumas das atividades que serão realizadas no curto e longo prazo.
“O ISSB (International Sustainability Standards Board) desenvolverá uma base global de padrões de relatórios sobre sustentabilidade e uma taxonomia digital para sua rotulagem. Ele se concentrará em atender às necessidades de informações sobre sustentabilidade para os investidores. Será possível basear o trabalho em estruturas e padrões existentes em uso global. Isso facilitará a modularidade com requisitos de divulgação jurisdicional ou direcionados para atender às necessidades de públicos mais diversos”, disse Arturo Rodríguez.
No decorrer do Painel 3, foi realizada enquete com a seguinte questão: "A Normatização dos Relatórios de Sustentabilidade deve ser tratada com urgência no Brasil?", sendo que para 92,42% dos respondentes a opinião foi "sim"; e para 7,58%, “não”.
Houve outra enquete com a seguinte questão: "No Processo de Normatização dos Relatórios de Sustentabilidade, as pequenas e médias empresas também deverão ser incluídas?", sendo que para 60,82% dos respondentes, "Sim, o ideal seria o ISSB já normatizar o Relatório de Sustentabilidade para pequenas e médias empresas, a exemplo da IFRS for SME (Small and Medium-sized Enterprises) emitido pelo IASB"; para 30,41%, "sim, mas não deveria ser discutido nesse momento"; e para 8,77%, "não, nunca será viável para pequenas e médias empresas”.
Painel 4
Haroldo Levy anunciou o Painel 4, que abordou o “Mercado de carbono e outras questões climáticas”.
Sebastian Soares, Coordenador do GT (Grupo de Trabalho) de Sustentabilidade do IBRACON (Instituto de Auditoria Independente do Brasil), foi o moderador do Painel 4 e delimitou os aspectos de mercado de carbono e outras questões climáticas apresentadas no debate. "O assunto é bastante extenso ao abordarmos a agenda ESG. Talvez essa questão de créditos de carbono seja uma das temáticas mais desafiadoras. Então, tudo que nós temos visto em termos de regulamentação passa, em um primeiro momento, pela integração de riscos climáticos, ambientais e físicos, e como as empresas devem efetuar divulgações em torno do tema”, declarou Sebastian Soares.
Na sequência, Sebastian Soares apresentou o primeiro palestrante do painel: Breno Figueiredo, Sócio-Fundador da Infrapar Research.
Breno Figueiredo destacou que cuidar do planeta não é mais uma escolha adiável, uma vez que os recursos naturais disponíveis na Terra não são mais suficientes para que a população continue vivendo da forma como consome hoje. Também abordou questões como: crise climática e poluição; desequilíbrios sociais; insegurança alimentar; crise moral e de Governança; além de dissertar sobre possíveis soluções, que passam, necessariamente, por produzir cada vez mais por hectare de terra (mais alimentos), sem recorrer a um comprometimento da área florestal, ou seja, uma combinação entre tecnologia (educação) e economia (capital), com regulamentações ambientais, direitos trabalhistas e padrões legais de contabilização com uniformização de relatos e auditorias, entre outras atitudes.
"Eu venho de uma organização que tem tido a felicidade de trabalhar em todos os elos da cadeia de geração de commodities ambientais. E nós temos enfrentado, no dia a dia, os problemas de contabilização e o lançamento de produtos financeiros que precisam ainda de um avanço regulatório. Hoje, a nossa grande preocupação, seja aqui, seja no exterior, é posicionar, em especial, as equipes que estão responsáveis pela regulamentação desse mercado no mundo todo e pela contabilização dos valores que são necessários para a transformação, que nós estamos enfrentando sobre a natureza desse mercado, a natureza dos créditos e a motivação para métricas relevantes", afirmou Breno Figueiredo.
No painel 4, foi realizada enquete "Sobre a temporalidade do movimento ESG e seus efeitos sobre os registros contábeis das empresas, sendo que 90,17% dos respondentes consideraram "uma mudança estrutural dos processos produtivos que exigirá novas métricas e métodos de contabilização"; para 7,69%, "mais uma obrigação regulatória que apenas gera mais registros para fiscalização e controle"; e para 2,14%, "uma moda passageira que já está se diluindo e não trará maiores demandas aos registros contábeis".
Sebastian Soares apresentou, na sequência, a segunda palestrante do painel: Bruna Camargo Ferrari, Sócia do escritório Lobo de Rizzo Advogados.
Bruna Camargo Ferrari abordou algumas perspectivas sobre o mercado de carbono, passando para a parte contábil e, ao fim, para alguns impactos tributários.
“Existem, hoje, diversas possibilidades de reconhecimento e mensuração dos ativos, seja no País, seja no exterior, por falta de regulamentação contábil específica. Neste cenário, falta comparabilidade e padronização dos impactos nos balanços das companhias”, frisou Bruna Camargo Ferrari.
"O que nós temos percebido muito na conversa com diversas companhias, inclusive já tendo estado em algumas delas, é, de fato, como nós vamos contabilizar os créditos de carbono. Nós vamos reconhecer como qual ativo? Em qual momento? Como nós vamos mensurar esses ativos? Como nós vamos continuar a mensurá-los e a reconhecê-los? Quer dizer, eu reconheço o valor inicial e depois eu continuo a reconhecer como valor de mercado? Como eu vou manter essa contabilização desse ativo? Como eu vou fazer se eu estiver em um mercado voluntário e não no mercado regulado? E se eu for para o mercado regulado, como de fato eu vou reconhecer esse ativo inicialmente – que seria o permissivo, como a gente receberia – e, posteriormente, se eu passar a negociar esse permissivo num balcão, será que, então, eu vou tratar como um título de crédito?”, indagou Bruna Ferrari.
Foi por meio desses questionamentos que Bruna Camargo Ferrari expôs diversas perspectivas de natureza jurídica e de reconhecimento contábil durante a sua apresentação.
“Acho que as perguntas expostas anteriormente estão na mentalidade de todos que de certa forma se deparam, seja com a implementação de tecnologias para reduzir a emissão de gases do efeito estufa e, assim, gerarem também, vamos dizer assim, ou um Net Zero ou uma adicionalidade ou algo positivo. Nesse primeiro momento, nós também pensamos em créditos de carbono, não só pela redução como pela compensação das emissões realizadas, por exemplo, via plantio em áreas de desmatamento e reflorestamento. Mas não é porque nós temos uma base florestal que, necessariamente, temos títulos e créditos de carbono. Nós temos que também partir de certos critérios de adicionalidade. Então, todos esses pontos estão em torno dessa nossa conversa”, concluiu Bruna Camargo Ferrari.
Encerramento
As palestras de encerramento ficaram por conta de João Pedro Nascimento, Presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), e Edison Arisa Pereira, Coordenador Técnico do CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) e Presidente da FACPC (Fundação de Apoio ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis).
João Pedro Nascimento elogiou as discussões realizadas nos painéis do evento, ressaltou a importância de buscar reconhecer o valor dos ativos verdes, por exemplo, com base em discussões sobre ativos ambientais de vegetação nativa, que são, na realidade, uma nova tendência. Destacou a taxonomia dos ativos ambientais e o esforço que deve ser feito para que todos entendam que a preservação não deve ser tratada como um passivo, que gera custo de manutenção, mas como um ativo que trará benefícios. E ressaltou a importância do diálogo entre o mundo financeiro, o mundo jurídico e o mundo contábil, especialmente para conscientizar que alguns ativos não podem ser simplesmente tratados como um terreno, uma fazenda ou um imóvel qualquer, mas como verdadeiros ativos ambientais.
“Os temas que foram discutidos no XIX Seminário Internacional CPC são absolutamente fundamentais. Assistindo ao último painel, eu atentamente refletia sobre algumas questões que me incomodam atualmente com esses assuntos. Eu acho importante que o Brasil, as suas lideranças e os seus acadêmicos e intelectuais assumam o protagonismo da pauta”, afirmou o presidente da CVM.
“O Brasil é um manancial de oportunidades no que diz respeito a uma matriz energética limpa. Essa é uma discussão que vai envolver posteriormente uma aplicabilidade a que nós estaremos sujeitos, e eu queria muito que nós estivéssemos, de alguma maneira, assumindo um protagonismo maior nessa discussão, até para poder ajudar na definição de políticas públicas que ultrapassem as fronteiras geográficas e que vão ser aplicadas na nossa realidade”, concluiu João Pedro Nascimento.
Por sua vez, Edison Arisa enfatizou os principais temas discutidos durante o XIX Seminário Internacional CPC, ressaltou as homenagens concedidas aos profissionais no primeiro dia do evento, e frisou o engajamento do público com perguntas aos palestrantes e participação ativa nas enquetes.
Arisa destacou a recente criação no Brasil do órgão para tratar das divulgações dos aspectos de sustentabilidade: o CBPS (Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade). Da mesma forma que o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), o CBPS tem representação de diversas entidades do mercado brasileiro, cujo objetivo será a emissão de normas alinhadas ao padrão internacional do ISSB (International Sustainability Standards Board), afirmou Arisa.
“Uma reflexão importante que fica é a seguinte: se nós não interferirmos, no bom sentido, em como as normas são conduzidas, ou são alteradas, depois nós não teremos muito como reclamar. Temos que participar desse processo. O CPC tem participação ativa, fazendo comentários, reuniões, discussões com o IASB, por meio dos nossos Grupos de Trabalho, a cada alteração a ser realizada”, frisou Edison Arisa.
Ao final, Haroldo Reginaldo Levy Neto, Coordenador Geral do XIX Seminário Internacional CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), ressaltou a importância das entidades-membro do CPC: ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas); APIMEC BRASIL (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil); B3 (Brasil, Bolsa, Balcão); CFC (Conselho Federal de Contabilidade); FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras); e IBRACON (Instituto de Auditoria Independente do Brasil), que foram as realizadoras do Seminário.
Haroldo Levy enalteceu o trabalho dos demais coordenadores do XIX Seminário Internacional do Comitê de Pronunciamentos Contábeis: Edison Arisa, Eduardo Flores, Eliseu Martins, Guillermo Braunbeck, Nelson Carvalho e Verônica Souto Maior. Além disso, agradeceu a todos os palestrantes, moderadores, participantes e colaboradores. Lembrou que o evento conta, para fins de educação continuada, com os critérios de pontuação: APIMEC BRASIL com 2 créditos, CFC/CRCs com 6 pontos e IBGC com 3 créditos, concedidos aos participantes que cumpriram no mínimo 75% de participação (6 horas) no XIX Seminário Internacional CPC.
Ressaltou a importância dos patrocinadores: Master - Ânima Educação; B3 (Brasil, Bolsa, Balcão); Deloitte; Grant Thornton; KPMG; PwC; Simonaggio Certeza Técnica; SMS Brasil / Sênior - Cielo; EY; FBC (Fundação Brasileira de Contabilidade) / Pleno - BDO; CPQD; FEBRABAN; Luz Publicidade; MOORE; Parker Russell; ULTRA e Wulaia. Assim como o apoio de divulgação do Portal Acionista e da Revista RI, além da participação dos Assessores de Comunicação das entidades e dos profissionais de mídia.
Enfatizou, ainda, as entidades que ofereceram apoio institucional ao XIX Seminário Internacional CPC: ABEL; ABRACICON; ABRACONEE; ABRAPP; AMEC; ANBIMA; ANCEP; ANCORD; ANEFAC; CORECON-SP; CRA-SP; CRC-CE; CRC-GO; CRC-MG; CRC-MT; CRC-PB; CRC-PR; CRC-RN; CRC-RS; CRC-SC; CRC-SP; FEA-RP/USP; FECONTESP; FGV - Instituto de Finanças; IBEF-SP; IBGC; IBRI; SESCON-SP; SINDCONT-SP; e SINDICONT-Rio.
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