Mal se consolidou como uma nova forma de fazer negócios, o ESG começa a receber os primeiros ataques. Recentemente, um acionista do Starbucks processou os conselheiros e executivos da companhia sob o argumento de que suas ações afirmativas em benefício de grupos raciais minorizados violam o princípio da igualdade consagrado na legislação norte-americana. A Unilever acaba de anunciar a troca de seu CEO, acusado por alguns investidores de foco excessivo na agenda ESG em detrimento do negócio.
A crise energética causada pela guerra da Ucrânia vem impondo novos desafios à transição energética, colocando em xeque a descontinuação acelerada dos combustíveis fósseis.
O debate parece encaminhar-se para uma polarização entre duas visões opostas: de um lado, aqueles que vêem a agenda ESG como prejudicial às empresas e seus acionistas; de outro, os que a consideram vantajosa para os negócios. Uma discussão nesses termos, além de superficial, é inócua.
É inegável que as empresas têm um papel fundamental na construção de um futuro mais justo, inclusivo, sustentável e próspero. A pergunta correta a se fazer é: qual a abordagem ESG mais eficaz para cada empresa, capaz de gerar valor para seus acionistas, demais stakeholders e para a sociedade em geral, com o menor prejuízo possível – e quem sabe até impacto positivo – para o meio ambiente?
Estratégias ESG que geram valor são inteligentes e têm algumas características em comum.
Em primeiro lugar, elas estabelecem prioridades claras, focando em temas materiais para o negócio, ou seja, questões sociais, ambientais e de governança que os stakeholders esperam que a empresa enderece e que a empresa precisa gerenciar para assegurar sua longevidade e rentabilidade.
Em segundo lugar, elas consideram o grau de maturidade da organização e dos demais stakeholders nos temas a serem endereçados e partem de um alinhamento na alta liderança sobre o propósito da empresa e sua ambição ESG. Metas excessivamente ambiciosas podem gerar descrédito e não contribuir para o engajamento dos vários públicos.
Por fim, para que se transformem em realidade, as estratégias ESG devem ser suportadas por uma Governança Sustentável, ou seja, processos decisórios e de acompanhamento adequados, incluindo o envolvimento dos altos níveis de liderança na criação e execução da estratégia; estruturas organizacionais, como Comitês de Sustentabilidade; processos internos que sustentem a implementação consistente das várias frentes de ação; e capacitação dos líderes e demais envolvidos em temas de ética e sustentabilidade ambiental e social.
Não existe ESG ruim para a empresa, existem estratégias ESG equivocadas ou mal implementadas. Ser ético e sustentável exige visão estratégica, inteligência de negócio e capacidade de inovar. Exige que as empresas saibam desenhar e executar estratégias que incorporam variáveis sociais, ambientais e de governança de forma a gerar valor para todos os stakeholders, inclusive os acionistas, no longo prazo.
Quando a agenda ESG não gera valor para a empresa, é muito provável que uma destas situações esteja ocorrendo: a estratégia adotada seja pesadamente ancorada em filantropia pura; não exista alinhamento na alta liderança sobre o propósito e a ambição ESG da organização; ou a estratégia não esteja sendo implementada corretamente.
Ser ético e sustentável jamais deverá ser prejudicial à empresa ou aos seus acionistas.
Claudia Pitta
é consultora e professora de Ética Organizacional e ESG, fundadora da Evolure Consultoria, mentora e sócia da plataforma digital CompliancePME, diretora do IBRADEMP e coordenadora de sua Comissão ESG e membro da Comissão de Ética do IBGC.
claudia.pitta@evolureconsultoria.com.br