Ponto de Vista

DIVERSIDADE NO MERCADO FINANCEIRO: DESAFIOS E OPORTUNIDADES

No início do século passado, as empresas eram como máquinas rígidas, movidas apenas pela busca implacável por produtividade e eficiência. A ênfase estava na força bruta, nos números frios que moldavam o cenário empresarial. Contudo, à medida que o tempo avançava, um vento de mudança começou a soprar, trazendo consigo uma transformação profunda no coração das organizações.

Hoje, ao olharmos para o presente, testemunhamos uma grande evolução. As companhias não são mais meros engrenagens de produção, mas sim ecossistemas ricos em capital humano. E essa mudança não ocorreu por acaso, mas sim como resultado da percepção de que valorizar a diversidade é fundamental para o crescimento e a resiliência.

Nossa sociedade é formada por diversas culturas, tradições e perspectivas únicas. Cada indivíduo traz consigo uma bagagem de conhecimento e vivências que enriquecem o tecido social. E essa riqueza não pode ser ignorada no ambiente corporativo. À medida que as empresas abraçam a pluralidade, abrem-se portas para o novo. E isso não é sobre produtividade; é sobre construir um mundo corporativo mais empático, inclusivo e compassivo, por isso se fala tanto em ESG (Environmental, Social and Governance).

A inclusão de diferentes perspectivas, experiências e habilidades no setor de finanças traz benefícios significativos, impulsionando a inovação, a tomada de decisões mais eficazes e a melhoria do desempenho das organizações. No entanto, os dados obtidos no Estudo Global Formulário de Referência 2023, realizado em junho pela MZ, revelam disparidades significativas em relação ao gênero, cor/raça e idade na Diretoria Executiva e nos Conselhos de Administração das empresas analisadas.

Os números revelam um cenário desafiador, pois apenas 13,7% dos integrantes da Diretoria Executiva se declararam do gênero feminino, enquanto no Conselho de Administração esse número foi um pouco maior, atingindo 15,1%. Esses dados refletem a falta de igualdade de oportunidades e a persistência de barreiras que impedem a ascensão das mulheres a cargos de liderança no mercado financeiro.

No que diz respeito à cor/raça, observa-se uma predominância significativa da autodeclaração de brancos tanto na Diretoria Executiva quanto nos Conselhos de Administração, com 82,5% e 83,0%, respectivamente. Essa disparidade evidencia a falta de representatividade étnico-racial e destaca a necessidade de ações afirmativas que promovam a inclusão de pessoas de diferentes origens étnicas e raciais nos mais altos níveis de poder e decisão.

Além disso, a média de idade dos integrantes tanto da Diretoria Executiva quanto dos Conselhos de Administração e Fiscal é superior a 50 anos, com a menor média de idade registrada entre aqueles que pertencem exclusivamente à Diretoria Executiva, totalizando 50,2 anos. Essa concentração etária sugere uma falta de renovação geracional e a necessidade de engajar profissionais mais jovens, trazendo perspectivas frescas e ideias inovadoras para o setor financeiro.

Diante desses dados um tanto quanto preocupantes, é fundamental que as empresas adotem medidas concretas para promover a diversidade e a inclusão no mercado financeiro. Uma comunicação clara, fomento a cultura organizacional inclusiva com ações de endomarketing e marketing digital, políticas de recrutamento e seleção que valorizem a equidade de gênero, a igualdade racial e a representatividade etária devem ser implementadas.

Neste sentido, os CFO’s, cargo mais alto nessa hierarquia, desempenham um papel crucial. As chamadas "soft skills", habilidades emocionais e sociais, tornam-se o alicerce das gestões eficazes. A capacidade de compreender e se conectar com diferentes pontos de vista, de nutrir empatia e de comunicar de maneira clara e inspiradora, tornam-se a marca registrada dos líderes do século XXI.

A McKinsey & Company, uma consultoria de renome, explorou essa mudança no artigo intitulado "As novas fronteiras de atuação do CFO", ressaltando as adaptações necessárias para que esses líderes financeiros continuem sendo relevantes e adicionando valor estratégico às organizações. Ou seja, esses diretores financeiros estão deixando de ser apenas responsáveis pela gestão financeira para se tornarem arquitetos estratégicos. Seu papel ultrapassa as tarefas contábeis tradicionais, à medida que passam a desempenhar um papel ativo na formulação da visão e direção da empresa.

A diversidade no mercado financeiro não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma oportunidade para impulsionar a inovação, melhorar a tomada de decisões e impulsionar o desempenho das empresas. Estudos têm demonstrado que times diversos são mais propensos a buscar soluções criativas, identificar riscos de forma mais abrangente e se adaptar a um ambiente em constante mudança.

Portanto, é fundamental que o mercado financeiro abrace a diversidade como um diferencial competitivo, promovendo a igualdade de oportunidades e a inclusão em todos os níveis hierárquicos. Somente assim será possível criar um ambiente mais justo, equilibrado e próspero para todos os profissionais que buscam atuar nesse setor dinâmico e desafiador.

Cássio Rufino
é CFO e COO da MZ Group.
cassio.rufino@mzgroup.com


Continua...