A pauta deste artigo é sobre a importância da energia renovável que sustenta o enfrentamento das mudanças climáticas. Entender o cenário atual local e global, as oportunidades e os desafios para o desenvolvimento de negócios que orientam novos métodos no processo de transição energética justa, alinharão o rumo estratégico de ação do setor de energia perante a sociedade.
Em um contexto global comparado ao local, historicamente, a matriz energética mundial depende muito mais de fontes não renováveis, principalmente os combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural. Existe forte expectativa de conscientização crescente sobre os impactos ambientais dessas fontes e um movimento em direção às energias renováveis em várias partes do mundo. Dados da Enerdata indicam que a geração de energia renovável continuou a se expandir, com a solar crescendo 27% e a eólica 13% ampliando a transição para fontes mais limpas de energia. Dados de 2021, apontam o Brasil em uma posição importante no ranking mundial.
A matriz energética brasileira tem algumas características distintas da matriz global considerando depender fortemente de usinas hidrelétricas para suprir parcela significativa da produção de eletricidade no país. Utilizamos mais fontes renováveis que no resto do mundo e somos líderes na produção e uso de biocombustíveis, principalmente o etanol de cana-de-açúcar.
Apesar de possuirmos reservas substanciais de petróleo e gás natural, percebemos um esforço para desenvolver outras fontes de energia e reduzir a dependência externa.
O Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2023 apresentado em 2014 pelo Ministério de Minas e Energia - MME e pela Empresa de Pesquisas Energéticas – EPE, ressaltou a continuidade da forte presença das fontes renováveis na matriz energética brasileira, projetando aproximadamente 86% de geração por fontes renováveis em 2023, além de importantes sinalizações para orientar as ações e decisões voltadas ao equilíbrio entre as projeções de crescimento econômico do país e a necessária expansão da oferta, de forma a garantir à sociedade o suprimento energético com adequados custos, em bases técnica e ambientalmente sustentável. Segundo o Balanço Energético de 2022 do MME, dados apontam uma matriz energética de fontes renováveis de 84,1%, bem próximo ao apontado em 2014. No início de Maio/2023, a ANEEL apontou crescimento da matriz elétrica brasileira graças a expansão das energias eólicas e solares.
No início do mês de agosto, participei do Engie Day, evento realizado pela Engie no Museu do Amanhã no Rio de Janeiro. O evento trouxe especialistas de diversas áreas em painéis que proporcionaram reflexões sobre a transição energética por diferentes ângulos, segmentando a agenda em debates relevantes sobre a expansão da oferta de energia no Brasil, descarbonização da indústria, as fronteiras da energia, transição energética justa e a DE&I no setor de energia. Saí do evento positivamente impactada e bastante motivada considerando que na Engie Brasil o movimento começou há mais de 10 anos a partir do primeiro inventário de gases de efeito estufa atingindo recentemente a descarbonização do portfólio da empresa com a saída dos ativos a carvão.
Heloisa Borges Esteves, Diretora de Estudos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis na Empresa de Pesquisa Energética (EPE) citou que “A diversidade de fontes energéticas é um pilar fundamental na jornada da transição energética brasileira. Cada país (aí incluído o Brasil) possui um conjunto de recursos próprios que podem definem sua estratégia rumo a um futuro que equilibre o famoso trilema da busca por segurança energética, sustentabilidade e garantia de acesso à energia.”
O Balanço Energético 2022 traz o seguinte panorama para a oferta interna de energia apontando que os maiores consumos são demandados pelos transportes e indústrias chegando a 60%.
Balanço Energético 2022 (ano base 2021)
Fonte: Ministério de Minas e Energia
Para incentivar a transição energética brasileira, o Brasil conta com a Política Nacional dos Biocombustíveis, conhecida como RenovaBio e desde 2019 valem as metas nacionais anuais de descarbonização para o setor de combustíveis, a fim de incentivar o aumento da produção e da participação de biocombustíveis na matriz energética de transportes do país.
Luciana Nabarrete, Diretora de Pessoas, Processos e Sustentabilidade da ENGIE, ressalta que “A transição energética é um processo multisetorial e colaborativo, um efeito da cadeia de valor como um todo. Uma pessoa ou uma empresa não podem fazer essa jornada sozinha – essa é uma trajetória traçada em conjunto (...) Por meio do letramento e do estabelecimento de metas práticas, apoiamos fornecedores na transição energética com programas específicos. Atuamos junto da indústria e dos clientes para entender seus desafios e temos um portfólio de produtos verdes que podem ser utilizados para a compensação das emissões que não podem ser evitadas.”
A transição energética surge como uma transformação no jeito de produzir e consumir energia, visando reduzir a dependência das fontes fósseis, por meio da adoção de fontes mais limpas e renováveis. Enfim, parceiros e impulsionadores da transição energética com foco em ESG, inovação e transformação compartilham como o Brasil está tornando o futuro de amanhã diferente hoje. Algumas empresas se destacam por soluções direcionadas a cada setor de demanda.
Para ilustrar, a Raízen, produtora de derivados da cana-de-açúcar em larga escala, como etanol e bioeletricidade. A Siemens Energy adota tecnologias inovadoras para descarbonizar os sistemas globais de energia com soluções para a transformação da indústria levando a transição para processos sustentáveis. A Engie Brasil apoia na construção das cidades do amanhã e o desenvolvimento de diferentes negócios, tornando-os mais rentáveis e sustentáveis por soluções customizadas e expertise em consumo consciente sendo capaz de tornar os espaços urbanos mais atrativos com soluções que fortalecem a segurança pública, melhoram a mobilidade e promovem eficiência energética. Outras empresas também aparecem em destaque trazendo soluções potencializadoras da energia renovável, de mobilidade elétrica ao hidrogênio verde, aplicáveis no mercado brasileiro. De fato, o mercado de energia é bastante dinâmico, e novas empresas e soluções podem surgir apontando casos de sucesso e impactos positivos no contexto brasileiro.
Apesar disso, a regulação do mercado livre de energia exige atenção pelos desafios presentes com a entrada de novos consumidores no mercado livre de energia a partir de 2024, e com a adoção de tecnologias que contribuem para modernizar o setor. O novo desenho do mercado de energia a ser enfrentado pelo setor é a reorganização dos grupos de consumo e de fornecimento de energia. No próximo ano, qualquer cliente com demanda de alta tensão (acima de 500 kW) terá a liberdade de escolher seus fornecedores, um benefício que, até então, era exclusivo a grandes consumidores, como indústrias.
Dessa forma, faz-se necessário que os projetos de descarbonização e energia renovável tenham regras bem claras sendo mandatório aprimorar os aspectos regulamentares garantindo alternativas e complementares aos modelos atuais de uso da energia. Segundo Leandro de Carvalho, painelista no Engie Day, “Para alcançarmos esses objetivos necessitamos de diversos aprimoramentos regulatórios, como por exemplo: correção das distorções mercadológicas na competição entre as fontes; redução da sobrecarga tarifária nos consumidores que atualmente não tem condições de migrar para o mercado livre; e estabelecer uma remuneração adequada aos serviços complementares das hidrelétricas.”
Acelerar a transição energética justa para a sociedade pelo uso racional de energia e redução de gases de efeito estufa, contribui para uma economia neutra em carbono com empresas de renome no setor apoiando com soluções viáveis os seus clientes, fornecedores e parceiros em prol da transição energética .
Ao final, os aspectos regulatórios exigem atenção e definição, mas a leitura sobre a transição energética é positiva. Em perspectiva, estou otimista considerando o excelente potencial de melhoria da matriz energética do país apoiando no rumo sustentável mundial. O Brasil possui uma maravilhosa janela de oportunidade estando em total condição de assumir o protagonismo no processo de transição energética global transformando-se para um cenário mais sustentável, ampliando a geração de empregos com diversidade e inclusão.
Luciana Tannure
é Estrategista de negócios e mentora empresarial. Executiva com mais de 28 anos de experiência em empresas nacionais e multinacionais. Conselheira Consultiva certificada, Vice coordenadora da Comissão de Governança e Estratégia Empresarial pela Board Academy BR. Empreendedora e palestrante. Engenheira formada pela PUC-RJ com MBA em Gestão Empresarial pela FGV e pós-graduação em Finanças Corporativas e Sistemas de TI.
luciana.tannure@gmail.com