Nas últimas décadas ganhamos quase 30 anos de expectativa de vida. É uma notícia fantástica: estamos cada vez vivendo mais. Mas como estamos aproveitando os anos de vida que ganhamos? Infelizmente, parece que não muito bem.
Uma pesquisa do geriatra Alessandro Gonçalves Campolino, doutorando da Universidade de São Paulo (USP), avaliou o percentual de pessoas incapazes (sem condições de fazer tarefas mínimas) em duas gerações de idosos, nos anos 2000 e 2010. No estudo, o médico mostra que a expectativa média de vida de homens e mulheres aumentou de 68 para 74 anos. Ou seja, ganhamos seis anos em uma década. Só que o aumento foi acompanhado pelo acréscimo no número de incapazes: de 27% para 32% em pessoas entre 60 e 64 anos e de quase 30% para 40% no caso de idosos entre 70 e 74 anos.
A pesquisa expressa o grande paradoxo da longevidade: todos desejamos o aumento da expectativa de vida, só que não basta viver mais. Queremos envelhecer com qualidade de vida. Mas será que longevidade e qualidade de vida são mesmo inversamente proporcionais? O que é necessário para termos uma vida longa, plena, com qualidade em todas as etapas?
Em conjunto com Denise Hills e Martin Iglesias, ambos do Itaú Unibanco, venho buscando entender o que é necessário para que os anos que ganhamos sejam um bônus e não um ônus a ser suportado por nós e pela sociedade. Para tanto, delimitamos quatro dimensões da vida às quais chamamos de quatro capitais. São os quatro capitais de uma vida que vale a pena ser vivida: o capital físico, o social, o intelectual e o financeiro.