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PESQUISA APONTA: FALTA COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA COM INVESTIDOR

A maioria das empresas abertas busca atender apenas aos requisitos legais ao invés de demonstrar efetivamente seu diferencial e agregar valor aos acionistas, aponta pesquisa da Compliance Comunicação.

As companhias abertas brasileiras vivem um dilema: não há comunicação com o investidor porque não há investidores, ou não há investidores porque não há uma comunicação efetiva que os atraia? A resposta pode ser sim para os dois questionamentos, mas o fato é que as companhias têm condições para atuar na segunda questão: deixarem de ser apenas reativas e demonstrarem a iniciativa de se relacionar com seus investidores ou futuros investidores.

A maioria, entretanto, busca atender aos requisitos legais ao invés de demonstrar efetivamente seu diferencial e agregar valor aos acionistas quando o assunto é comunicação. A pesquisa realizada pela Compliance Comunicação, voltada para empresas com menor liquidez, entre 3 de julho e 3 de agosto deste ano, demonstra exatamente isso: a política de comunicação predominante entre as empresas de capital aberto consiste em atender às demandas dos investidores e analistas que procuram a sua área de RI. Dentre as 34 companhias entrevistadas, 42% admitiram esse comportamento. Já 30% das empresas responderam que apenas divulgam as informações obrigatórias por lei e respondem aos questionamentos da BM&FBovespa. Poucas declararam buscar ser benchmark ou prover informações adicionais aos investidores. Por último, 7% das entrevistadas afirmam que há poucos investidores e, portanto, poucos questionamentos.

Dentre as principais dificuldades elencadas está a identificação dos investidores e o tamanho reduzido dos departamentos de RI. No entanto, o que surpreende no levantamento é que 6,5% das empresas participantes declararam não ter interesse em manter um canal específico de relacionamento com os investidores. A pesquisa demonstrou ainda que a maioria dos departamentos não tem adotado nenhuma ação específica para aumentar a liquidez das ações.

Esse comportamento está relacionado à falta de investidores no mercado de capitais, que deixou de ser relevante como fonte para a captação de recursos. Percebe-se, inclusive, que muitas empresas listadas na bolsa ainda não fecharam o capital por não terem caixa para o processo de recompra. Dentre as respostas, 19,35% das empresas afirmam que o mercado de capitais não faz parte do planejamento estratégico e 12,9% vêem essa fonte como pouco importante. A reduzida liquidez é resultado da concentração do free float (35,5%) e da falta de conhecimento dos investidores sobre o mercado de capitais (19,36%). Influencia ainda a falta de estímulo ao mercado de capitais (16,13%).

Para 67,74%, entretanto, o mercado ainda é uma importante fonte de recursos. A política econômica que não estimula o desenvolvimento do mercado e a elevada taxa de juros que leva à concorrência da renda fixa com a renda variável são os principais entraves ao seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo, há uma quantidade reduzida de investidores, pois no Brasil não há cultura de investimento em ações e, tampouco, educação financeira para tal.

Ora, se as empresas, principalmente aquelas que detêm pequena participação e poucos investidores, são reativas e não demonstram o seu valor ao mercado, como o investidor terá a percepção correta de seu preço justo? Como tomar a decisão se é melhor optar por investir nessa ou naquela empresa se a falta de comunicação faz com que pareçam todas iguais? Como aumentar a liquidez das ações se não há um efetivo diálogo com os poucos investidores interessados? E, o mais importante, como identificar tais investidores?

É claro que os princípios de governança e transparência envolvem uma comunicação igualitária e efetiva ao mercado. Não adianta fazer um estardalhaço em época de divulgação de resultados quando esses são positivos e esconder-se quando há queda do lucro ou prejuízo. É preciso ter uma comunicação crível e estratégica, sempre buscando demonstrar a realidade ao investidor.

O cenário atual, entretanto, mostra-se controverso. Ao mesmo tempo que o desenvolvimento do mercado é algo desejado pelas empresas e investidores, poucas atitudes são tomadas em prol da causa. Dentre as empresas que responderam à pesquisa, 35,5% afirmam que não tomam atualmente nenhuma atitude específica para aumentarem a liquidez de suas ações. Ao mesmo tempo, as ações se limitam às práticas de mercado de realizarem reuniões com investidores, teleconferência de apresentação de resultados e participação em eventos de mercado, além do Investor Day.

Há um grande descrédito quanto ao mercado de capitais no país. Ocorre, porém, que isso resulta em grande parte da participação da maior empresa nacional que, ao servir de instrumento de política do governo, penaliza seus investidores e faz com que a bolsa tenha um desempenho pífio. Nos últimos dozes meses, seus papéis representaram 18,14% do volume total do Ibovespa, período em que as preferenciais da companhia caíram 10,58% e as ordinárias, 8,82%. O índice, por sua vez recuou 8,53% no período. Paralelamente a esse quadro, há a concorrência com a renda fixa e a falta de política governamental para o estímulo ao mercado de capitais. Com o CDI em 10,8% ao ano e o pífio desempenho do Ibovespa, o investidor fica avesso a correr riscos.

Apesar disso, é preciso lembrar que, em termos de liquidez, a bolsa já teve períodos bem piores e o mercado é cíclico. O que esses dados demonstram é um cenário em que há um equívoco generalizado diante da descrença de empresas à deriva sobre o que é, literalmente, um mar de oportunidades. Sim! Oportunidades! Saber demonstrar o seu valor, com transparência e manter uma política de comunicação crível junto a analistas e investidores é fazer a diferença em um mercado que aparentemente está largado, mas pode ser importante fonte de captação de recursos futuros. Não é difícil elencar cases de sucesso. Companhias, como a Natura e Kroton, apenas para citar exemplos divisores de águas, abriram seu capital, tornaram-se conhecidas pelas boas práticas, cresceram e geraram valor para os acionistas, de majoritários a minoritários.

O que fez a diferença? A estratégia de crescimento e geração de valor aliada a uma política de comunicação crível e engajamento dos seus stakeholders. O importante é tomar a atitude de mudar agora. Saber se posicionar no mercado com foco estratégico é plantar sementes em um cenário adverso para gerar valor no futuro.

Ana Borges e Maurício Palhares
são sócios da Compliance Comunicação Empresarial.
www.compliancecomunicacao.com.br


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