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Não restam mais dúvidas que as tecnologias da informação, ou melhor, a capacidade digital vem transformando os modelos sócio-econômicos, bem como, as dinâmicas de negócios e a vida das empresas.
Talvez possamos fazer uma pequena colocação na famosa e verdadeira teoria da evolução das espécies do renomado biologista e naturalista Charles Darwin, por quem tenho profunda admiração, onde preconizava não ser o mais forte que sobrevive ou sobreviverá, mas sim o que melhor se adapta. E, realmente, isto é a mais profunda verdade - onde poderíamos apenas acrescentar que não é o mais forte que sobrevive ou sobreviverá, mas sim o mais veloz, ou o melhor, o que se adaptar mais rápido a velocidade do mundo.
O setor de tecnologias digitais, ou TI, é o agente da transformação que cria novas dinâmicas econômicas ditando os seus rumos e velocidade. É o segmento de indústria que além de permear as demais indústrias, anda a passos largos a frente dos modelos de gestão e governança tradicionais, o que passa a não ser nenhuma novidade em economias similares a nossa ou inferiores. Transformações vigentes e eminentes acabarão por inferir e demandar novos modelos e práticas para sustentabilidade corporativa.
Estas questões começam a permear, ou preocupar, áreas e atores corporativos diversos que até bem pouco tempo, por alguma razão, não as tinham em suas agendas.
Fatos que, em particular, me trouxeram grata surpresa, foram os artigos “Risco Cibernético” publicado na edição nº 194 de junho de 2015 e “Segurança Cibernética” veiculado na edição nº 197 de outubro de 2015, desta Revista RI, onde foi abordado, com propriedade, questões inerentes aos perigos cibernéticos crescentes que também são oriundos da transformação promovida pelo avanço da capacidade digital. Outro fator relevante, nesta mesma linha foi a abordagem, importância e tratamento dados a este tema no encontro nacional dos Conselheiros de Administração do IBGC, neste ano.
Estes eventos, deixaram-me particularmente feliz, pois além de profissional deste segmento, certificado em segurança digital ou da informação, tenho abordado em edições anteriores desta publicação, temas relacionados à capacidade digital e sua relação, não apenas o caráter contencioso, mas também o de melhoria de performance e as relações com a governança e seus agentes - como por exemplo, as soluções integradas de GRC, Big Data Analytics e Nexus of Forces. E vejo agora novamente a importância relevada publicada. Cenário este, ainda que um tanto insipiente por parte de alguns atores corporativos.
Devemos então, buscar observar em maior espectro e diferente ótica o aumento da capacidade digital da economia global, dando sim a devida importância a sua gestão contenciosa de riscos (cyber security), bem como, a busca de uma abordagem estratégica de riscos (defasagem marginal), bem como, questões não menos importantes relacionadas à melhoria de performance e competitividade geradas pelo avanço de capacidade digital e gestão da transformação do negócio. Neste contexto, como um todo, surge o que chamamos de bimodalidade de modelos corporativos, ou seja, mantermos o negócio rodando e ao mesmo tempo observarmos a transformação e inovação de processos produtivos e de negócios, de sua gestão e governança, suas estruturas e agentes.
Líderes empresariais, agentes de governança e acionistas realmente atuantes, deverão buscar uma percepção sobre os cenários disruptivos que impõem a necessidade de criação e adaptação da bimodalidade dos modelos corporativos em todas as esferas da sustentabilidade empresarial, frente as novas dinâmicas econômicas que impõem processos de inovação, transformadores dos modelos e condução de negócios, exigindo performance dentro de riscos gerenciados.
Observando o que bem orienta esta lógica estabelecida, podemos inferir então que a governança corporativa em modelos mais avançados já estabelecidos, orienta ajustes e avanços para transformações necessárias, objetivando o crescimento através da melhoria de performance e o gerenciamento de riscos associados, em cenários voláteis de mudanças significativas e constantes, que desafiam o papel dos agentes de governança, na busca do estabelecimento efetivo do pensamento estratégico avançado, que orientando a implementação de modelos bimodais de governança e gestão, mantendo e alavancando os negócios através do investimento na gestão da transformação e readaptação da cadeia produtiva e o relacionamento com todas as partes envolvidas.
A bimodalidade de processos, surge como argumento e orientação por parte do Gartner, quando preconiza o que chama de “TI Bimodal”, processo transformador que cresce e faz muito sentido, em um mundo onde o aumento da capacidade digital das corporações e negócios é acelerado, e vital para a competitividade e longevidade, sendo este é um caminho sem volta. Não se trata de sim ou não, mas de quando... Trata-se de uma questão de competitividade e sustentabilidade na busca por novos mercados e economias.
Tomemos então como exemplo o segmento automotivo, onde empresas como a BMW e a Peugeot anunciam avanços competitivos em seus modelos de negócios, exatamente por transformarem suas linhas produtivas e de negócios através de uma maior disruptividade de sua capacidade digital. Ora quando vemos uma BMW, se utilizando de tecnologias de Big Data e Analytics (sistemas predictivos e cognitivos de informações para tomadas de decisões diversas e melhoria de processos) para incrementar a performance de seus produtos e serviços através da melhoria dos processos produtivos e de serviços adjacentes com racionalização de custos, começamos a ver o nexo digital da competitividade.
E o que dizermos então de um veículo onde 85% é produzido em uma impressora 3-D, que foi o que implementou a Peugeot em seu novo modelo chamado Fractal. É, o futuro sempre vem, e que ele deverá transformar modelos adjacentes, internos e externos, dinâmicas de produção e negócios, relacionamentos com públicos e partes interessadas, bem como a forma de governar, não restando mais qualquer sombra de dúvidas, apenas uma questão de tempo.
MAS DO QUE SE TRATA ESTA TAL CAPACIDADE "BIMODAL DE SER"?
Certamente um cenário que parte das questões tecnológicas e de forma análoga pode ser adaptado e moldado para o processo administrativo. Em primeiro lugar é preciso um entendimento sobre a filosofia da TI Bimodal ou capacidade digital bimodal, seus desafios e impactos nas estruturas de negócio das empresa.
TI Bimodal significa basicamente ter dois modos de fornecimento de soluções tecnológicas, projetados para atender a diferentes objetivos do negócio, cada um passando por pessoas, processos e tecnologias, de formas diferentes, mas alinhadas e integradas dentro de um modelo único.
O modo ou modal 1, trata de processos sequenciais, previsíveis, estáveis e eficientes, orientados ao que chamamos de “run the business”, ou seja, mantendo a empresa operacional em seus processos básicos de funcionamento e gestão, exigindo assim sempre melhores práticas lineares.
O modo ou modal 2, trata do caráter exploratório, adaptável, flexível e eficaz, orientado à inovação, mudanças e disruptividades rápidas. Exige colaboração dinâmica e orgânica, e seu enfoque de inovação e transformação deve estar na agenda dos agentes de gestão e governança, exigindo assim maior inferência das áreas estratégicas e de governança (GRC) através da materialização do pensamento estratégico avançado.
Ou seja, dentro do espectro de capacidade digital corporativa, a primeira trata-se de uma capacidade tecnológica tradicional dando ênfase em escalabilidade, eficiência, segurança e acurácia, integrando-se com a segunda, que é mais leve, focada na agilidade e velocidade e menor burocracia.
Podemos então inferir de forma análoga, que as práticas de governança e gestão, bem como seus agentes, também deverão buscar um modelo bimodal para suas atividades, ações e composições, observando as práticas e processos que suportam o negócio de forma sequencial, previsível, estável e eficiente, o chamado “run the business”, a melhor operação que possibilite o negócio rodar diariamente, e ao mesmo tempo observar e adaptar suas práticas e processos para o “business transformation management” sendo protagonistas em um contexto de constante transformação que exige práticas de gestão e governança de caráter exploratório, adaptável, flexível e eficaz, orientado à inovação, mudanças e disruptividades aceleradas, de colaboração dinâmica e orgânica entre estas práticas e seus agentes, na busca da melhoria de performance, para a inserção em novos mercados e modelos de negócios com riscos inerentes.
Com certeza este cenário de transformação que surge exigirá novos modelos, processos e tecnologias, não só de segurança da informação ou cibernética, mas de um mais amplo e estratégico espectro da gestão de riscos e demais práticas de governança corporativa, alinhadas com o caráter transformador da capacidade digital, de forma contínua, permeando os atores e a organização como um todo, com a agilidade de capacidade analítica integrada.
Precisamos entender que com os avanços sócio-econômicos, causados pela transformação digital, novos modelos produtivos de indústria e comércio, novas relações entre modelos de negócios e toda sua cadeia produtiva, bem como, de relacionamentos com clientes e demais púbicos de interesse, incluindo novas gerações de famílias e famílias empresárias, surgirão em conformidade com a capacidade digital que expande sua inserção em toda a cadeia produtiva e suas interrelações, transformando assim a forma administrativa corporativa, inserindo novos tipos de riscos.
GOVERNANÇA, O ELO QUE UNE
A Governança deve ser o elo que une. Estamos sem dúvidas entrando na era da Digital Capability, onde a bimodal tecnológica e sua governança se fará cada vez mais preponderante no processo de gestão da transformação do negócio.
Com certeza, não podemos negar a importância e a necessidade desta transformação, e isto chegará para as organizações, seus stakeholders e famílias, mais cedo ou mais tarde. Não é mais uma “questão de sim ou não”, e sim “de quando”. As empresas necessitarão cada vez mais serem bimodais em suas capacidades digitais, administrativas e de governança para serem bem sucedidas em um ambiente de comportamentos onde a governança deve ser o elo que une os modais da bimodalidade dos modelos corporativos, onde deveremos ter a capacidade digital integrada a um modelo de governança corporativa, também de caráter bimodal, integração esta que possibilitará o gerenciamento efetivo da transformação do negócio, pela inovação disruptiva mantendo ao mesmo tempo, o ambiente existente, rodando seguro dento da total conformidade.
Não existe confiança, e por consequência longevidade com visão de futuro, sem o estabelecimento de melhores práticas de governança, de caráter dinâmico que acompanhe um processo evolutivo de modelos sociais, econômicos e tecnologicamente constituído. E esta sim, com certeza, deve ser a demonstração específica de entrega de valor por parte da governança e seus agentes.
Transmitir às partes interessadas, e a sociedade, o valor econômico da companhia não passa apenas por demonstrações financeiras fidedignas, trimestrais ou anuais, mas também pelo provimento da previsibilidade de futuro através da instituição de processos evolutivos de negócio, sua gestão e governança. Isto é a demonstração que gera confiança para a construção de relacionamentos de longo termo.
Toda a discussão sobre governança corporativa baseia-se na premissa de que a adoção das melhores e novas práticas influenciam positivamente o desempenho das empresas. E como podemos observar, diversos benefícios resultam das boas práticas adaptativas e evolutivas e seus agentes, como por exemplo:
A bimodalidade de modelos corporativos, contribui necessariamente para uma melhor performance tanto nos bons tempos como nos desfavoráveis da economia. Os resultados positivos tangíveis e intangíveis passam a ser evidentes, bem como, a superação e melhor trânsito em cenários de crises econômicas.
Neste contexto onde deve se inserir as práticas de governança e gestão, o entendimento do valor entregue por informações de qualidade providas de forma analítica e cognitiva, integrada e de visão única em tempo real, por parte de soluções de GRC - é condição fundamental que necessariamente passa pela integração de tecnologias da informação específicas às práticas de governança.
Portais de governança, cada vez mais usuais e necessários na relação com investidores e demais partes interessadas, é uma solução tecnológica que provê informações de qualidade e relevância, colaborando com processos de governança.
Com a evolução dos contextos corporativos, surge a necessidade de novos comitês, bem como, o aumento de carga de trabalho dos conselheiros com novos documentos a elaborar e manipular, repletos de informações estratégicas de vital importância. Os riscos crescem em proporção, assim como, o seu monitoramento. Desta forma cresce também a importância de soluções de colaboração segura, específicas para o meeting de conselhos, no sentido de um repositório seguro com informações de qualidade em constante atualização, provendo acesso em tempo real, local ou remoto, colaborando e contribuindo para as atividades e acesso às informações dos agentes da governança e o atendimento de suas demandas.
O crescimento da importância destas ferramentas intrinsecamente seguras para o gerenciamento de riscos da manipulação de informações estratégicas por parte de conselhos e demais agentes envolvidos, se deve às mudanças que vêm ocorrendo nos últimos anos. A pressão por resultados e crescimento, têm seus riscos associados, exigido assim, operacionalmente da governança, que as reuniões dos conselhos sejam mais freqüentes, onde cresce a responsabilidade, aumenta o número de documentos por conseqüência do crescimento de informações, (vejamos necessidade de capacidade analítica cognitiva da “explosão de dados” - Big Data Analytics), que impactará profundamente na condução e gestão da transformação do negócio, tudo associado ao menor tempo para manipulações e discussões para as devidas tomadas de decisões.
Neste contexto, as soluções integradas de GRC com capacidades analítica e cognitiva intrinsecamente seguras, suportam e auxiliam as estratégias dos portais e ferramentas de colaboração, na condução deste processo com informações de qualidade em tempo real.
Mas afinal quem são os usuários potenciais das soluções integradas de GRC?
A princípio, todo e qualquer profissional nominado é responsável, envolvido diretamente com os processos de gestão e governança da corporação. Entre eles temos:
Um framework estruturado de GRC sobre uma plataforma tecnológica, consistentemente projetado e seguro, deverá prover facilidades que promovam a automação dos processos inerentes provendo subsídios vitais dentro do processo de performance corporativa e de tomada de decisões consistentes, bem com a aderência às práticas de governança corporativa, constituindo-se assim, em uma poderosa ferramenta dentro de um modelo evolutivo que também permite:
Este framework possibilita uma inteligência através de um mecanismo de capacidade analítica e cognitiva, certificando o processo de gestão de riscos e estratégias de conformidade, tendo assim um papel integral na viabilização e auxílio de uma abordagem pragmática, na evolução e melhoria dos processos de governança, potencializando o trabalho de seus agentes através de sua tecnologia moderna e atuante, sendo assim um braço vital para a tomada de decisões, compreendendo e interpretando dados valiosos sobre:
... auxiliando assim aos gestores e conselheiros de administração no gerenciamento de políticas internas fundamentais ao processo das verdadeiras práticas de governança corporativa.
No atual momento e ambiente de negócios, e contexto econômico, onde se destaca a sociedade do conhecimento, que cria novos sistemas e demandas, os quais deverão ser suportados por novos modelos corporativos bimodais, um dos principais ativos promotores do diferencial competitivo, seja para empresas de diferentes natureza, é sem dúvida a informação de qualidade em tempo real, possibilitada pelo avanço da capacidade digital.
Os processos de controles internos com monitoramento contínuo, gestão de riscos operacionais e gerenciamento de controles financeiros, conformidades legais e econômicas, e suas políticas, gerenciamento de auditoria interna, modelagem de capital e governança de TI, integrando dados e informações em tempo real, de fontes diversas, tornam-se cada vez mais necessários em sociedades competitivas diversificadas e complexas, sendo ferramenta vital da real entrega de valor às práticas e estruturas de governança.
Logo este fator passa a ser, diretamente ligado ao processo de governança corporativa e seus princípios, em modo amplo, se fazendo necessário seu devido processamento para que possamos promover esta entrega de valor por parte dos conselhos e demais agentes de governança na condução e perenidade das organizações para as próximas gerações que se sucederão.
Precisaremos então, mudar nossos modelos corporativos passando do check box de conformidade para o pensamento baseado em riscos, da tecnologia para resultados - da forma defensiva para a forma facilitadora, do controle da informação para o entendimento dos fluxos de informações, do foco na tecnologia para o foco nas pessoas, da detecção para a prevenção e resposta automáticas, da gestão reativa para a bimodalidade de modelos corporativos e de sua governança.
Deveremos nós, agentes da governança e da gestão, tomarmos o protagonismo da transformação do negócio, buscando entender e viabilizar a bimodalidade de modelos corporativos, pois as previsões estratégicas para os próximos anos, e mais além, serão de que a Digital Business Capability estará conduzindo a 'big change', mudando de forma impactante a natureza das coisas, na velocidade do mundo.
Vladimir Barcellos Bidniuk
é CEO da VBnK - TrustStream e Best Practices AM; Coordenador do Capítulo Sul do IBGC; Conselheiro do Grupo Temático de Governança Corporativa da FIERGS; e Professor da Pós Graduação de Administração de Empresas da FGV-RS Decision.
vlad.bidniuk@gmail.com