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Pessoas e informação: não há nada além disso que possa impactar positiva ou negativamente uma instituição pública ou privada. Do ponto de vista da governança, seja qual for o tamanho da empresa ou natureza da instituição, esses dois aspectos resumem bem as preocupações que habitam o nosso mundo.
Todas as crises de governança que passamos, e estamos passando, tiveram esses componentes. Às vezes, ambos estiveram no cerne de tal crise. A maneira como esses interagem também são de grande valia para uma análise mais profunda dos acontecimentos recentes.
A intenção da governança é proteger o empreendimento. As instituições são a base de uma nação e devem ser preservadas em detrimento das pessoas que por ali passaram. A partir desse entendimento é primordial conduzir de maneira correta as pessoas para um objetivo comum dentro de princípios geralmente aceitos por toda sociedade. Primeiramente, todos podem cometer erros de análise com consequente reflexo na tomada de decisão. Isso faz parte do jogo. O que não pode ser admitido é o desvio de conduta.
Em minha opinião e no que diz respeito às empresas, os desvios estão intimamente ligados aos incentivos. A relação entre remuneração fixa e variável versus curto ou longo prazo pode explicar isso. Cultura e pequenos desvios no dia a dia explicam muito bem em que tipo de sociedade nós vivemos.
Experimente convidar as pessoas a buscar agressivamente um resultado financeiro de curto prazo que impacte de maneira fundamental nos seus ganhos. É impressionante a velocidade com que esse tipo de cultura se dissemina pela organização em todos os níveis! Não esqueça, portanto, de construir o melhor código de conduta, os melhores controles, políticas, normas, procedimentos e estruturas modernas. Gaste tempo e um bom dinheiro com isso. Como resultado, a destruição de valor no médio ou longo prazo será incalculável. Provavelmente, a instituição levará bons anos para recuperar a credibilidade se isso não a afundar definitivamente. Este é um teste real de princípios. Tudo se resume à forma como incentivamos as pessoas.
Ainda no que diz respeito às dimensões da governança, outro ponto que me preocupa fundamentalmente é o fluxo de informação. Os procedimentos que envolvem a comunicação entre diretoria executiva e conselho de administração e comitês devem ser frequentemente objeto de atenção não somente pelo aspecto da segurança da informação. O que destaco, aqui, é a qualidade da informação que circula entre os administradores, fundamentalmente para tomada de decisão. Sem citar os aspectos de alinhamento de interesses entre executivos, administradores e acionistas que faz com que a informação circule com algum viés de interesse.
Procedimentos podem ser adotados para assegurar a qualidade da informação e para que administradores e executivos tomem as melhores decisões com tempo razoável de análise. Mais difícil é compreender as motivações de cada agente da governança e alinhar os interesses. De novo, aqui, estamos falando de pessoas.
A governança é a guardiã da longevidade das empresas e instituições públicas e privadas. Não há outro caminho senão fortalecê-la para que o País possa recuperar sua credibilidade. As pessoas não são presidentes, diretores, conselheiros etc. As pessoas estão como presidentes, diretores ou conselheiros. Elas passam. As instituições é que devem ficar e isso é o que devemos preservar.
As pessoas precisam entender o seu papel na sociedade e desempenhá-lo de maneira irretocável. Somente depois podem compreender o que devem ou não fazer nas empresas e instituições públicas e privadas que representam. Menos código e mais educação e capacitação. Essa é a chave para o avanço de qualidade que necessitamos.
A governança está colocada e bem discutida nos mais diversos fóruns. Sabemos como e o que tem que ser feito. Só não conseguimos lidar adequadamente com as pessoas e o papel que desempenham. O grande desafio de governança na nossa sociedade está em criar dirigentes éticos e conscientes de seu papel que vão conduzir o País, as empresas e as mais diversas instituições ao grau de qualidade e competência que o mundo moderno exige.
Rafael S. Mingone
é sócio-diretor da TMG Capital, professor da Trevisan Escola de Negócios e coordenador dos cursos de MBA em mercado de capitais e empreendedorismo e gestão.
rafael@tmgcapital.com.br