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Apimec e EFFAS realizaram, dia 6 de outubro de 2015, a 2ª LATAM- ESG, com o importante apoio do PRI do qual é atualmente “Network Supporter”. Os resultados do evento mostraram que a pergunta chave do evento poderia ser “Podemos evoluir para uma Economia de Baixo Carbono?”. Isso porque sustentabilidade, na ótica das macrotendências, se confunde com a transformação para uma economia de baixo carbono. Essa é a realidade...
As principais conclusões que podemos tirar das discussões nos painéis foram:
1. Em uma perspectiva de macrotendências, os desafios serão enormes exigindo mudanças significativas no modelo de negócios das empresas. Água e energia afetarão metade da população mundial, que se urbanizou de forma acelerada, em grande parte, nas regiões costeiras mais expostas às consequências das mudanças climáticas. Nos últimos 20 anos, crescemos no formato “Business as Usual”. Se repetirmos esse modelo nos próximos 20 anos, o stress ambiental e climático será insustentável.
2. As empresas terão um importante protagonismo na Conferência do Clima de Paris em dezembro 2015, estando progressivamente comprometidas com metas de redução das emissões. A necessidade de reduzir em 80% as emissões até 2050 representa mais do dobro das propostas atuais que estão sendo apresentadas em nível soberano. Esse gap mostra o tamanho do desafio para uma transição que garanta um aquecimento global de 2º. O grau de exposição às mudanças do clima deve ser uma informação obrigatória nos relatórios dos analistas, pois representam risco material de impacto sobre as estratégias e resultados das empresas e consequentemente sobre o potencial de geração de valor.
PASSANDO PARA O MICRO AMBIENTE CORPORATIVO
3. Com relação às empresas, uma Governança Corporativa moderna é fundamental e, quando colocada na perspectiva ESG, é valorizada na tomada de decisão de investimentos, em especial, para os investidores de longo prazo. Foram destacadas a necessidade da independência dos mecanismos de governança, a visão estratégica da integração ESG e a política de remuneração dos conselheiros, administradores e público interno, entendendo-se que esta política reflete os reais interesses das empresas.
4. A Integração ESG foi ressaltada como essencial para a redução do risco reputacional. Como exemplo, foi exposto que, no episódio da Volkswagen (a Enron da vez), nos últimos dez anos, em oito anos já estavam sendo apontadas deficiências de qualidade da governança corporativa e no relacionamento com o público interno. Não podemos desprezar a natureza e o impacto dos riscos reputacionais, pois eles se caracterizam geralmente por serem de baixo risco, alto impacto e lenta recuperação. Por isso os investidores devem olhar para o retorno como uma consequência de estratégias e processos que qualifiquem os objetivos, a qualidade da gestão e governança. Os retornos de Markowitz e Sharpe podem expressar um fim em si próprio, calculados apenas pelos caminhos da volatilidade, mas os novos modelos de retorno devem expressar a confiança na sustentabilidade dos investimentos.
5. Com relação ao sistema de Relato Corporativo, o velho “disclosure” ainda está na ordem do dia. Foi reforçada a necessidade de as empresas relatarem seus riscos e passivos com mais transparência, em especial, aqueles que podem resultar em alto impacto nos resultados econômico-financeiros. Devemos ter cuidado em não transformar o processo de disclosure em informações privilegiadas. Os relatórios dificilmente substituirão a necessidade os encontros face to face pelo papel que estas representam nos esclarecimento adicionais sobre questões materiais. Somente reuniões presenciais permitem que as empresas e investidores desenvolvam relações de confiança.
6. As decisões de investimentos de longo prazo estão apoiadas na integração dos capitais econômico, natural e social em todas as suas dimensões, da governança corporativa, do risco reputacional e da pegada de carbono. Deveria ser um dever fiduciário de empresas, proprietários e gestores de ativos de longo prazo.
É importante entender o processo de decisão de um investimento de longo prazo. Se o projeto não der certo, os reguladores não vão perguntar pelo retorno, mas pelos fatores que determinaram a descontinuidade do investimento e aqui prevalecem, para a tomada de decisão, questões relacionadas à qualidade de gestão, governança, dos especialistas responsáveis, dos padrões ESG adotados, do potencial de ativos e passivos não contábeis mas de impacto financeiro e outros fatores que garantam a sua continuidade e consequentemente a rentabilidade exigida pelo investidor.
Poupança e investimento devem estar bem alinhados, em especial quando falamos de projetos de 20 anos. Isso ainda precisa ser compreendido no Brasil se quisermos ter uma poupança mais robusta e menos volátil.
7. O mercado de capitais brasileiro precisa dar mais atenção aos bonds corporativos que já estão sendo objeto de rating ESG, reforçando a influência do rating tradicional nas políticas de investimentos de longo prazo. O mercado de renda fixa representa mais de 80% da poupança e no Brasil isso não é diferente.
Merece atenção o potencial dos “Green” e “Climate” Bonds no Brasil, que não têm ainda a devida prioridade por causa dos problemas fiscais brasileiros agravados pela perda de grau de investimentos por uma das empresas de rating tradicional. É urgente que façamos pelo menos as reformas ficais e previdenciárias para recuperarmos o interesse pela colocação desses títulos no Brasil e no exterior.
8. O Sistema Financeiro terá um papel crucial na transição para uma economia de baixo carbono e a governança corporativa será importante na interação com os investidores para facilitar essa transição. As ações regulatórias definidas pela Resolução Bacen 4327 vão definir uma régua mínima de padrões socioambientais para as concessões de financiamentos. Dessa forma a tendência é que os agentes financeiros dêem preferência aos projetos de baixo carbono e de valorização dos direitos humanos pois entendem que representam menor risco de capital.
9. A Regulação está caminhando na adoção de normas gerais de integração ESG e do Relato Integrado, mas precisa monitorar a aplicação dessas normas, no interesse dos investidores de longo prazo, o que está sendo ocupado atualmente por entidades auto regulatórias voluntárias. Foi proposto que instituições como Anbima, Abvcap e Apimec insiram em seus códigos de conduta a integração ESG, em especial para analistas, gestores e investidores com foco em investimentos de longo prazo.
10. A Educação corporativa e dos profissionais de investimentos será uma pré-condição do processo. Não será possível viabilizar as mudanças sem renovação de conhecimentos.
Nesse sentido a Apimec está se preparando para integrar as questões ESG no seu programa educacional e ter maior presença nos seus eventos. A inserção no programa de certificação será um desafio. Nesse sentido estamos desenvolvendo uma parceria importante com a EFFAS e adotando posturas proativas apoiando o PRI no Brasil.
11. A Cadeia de Relações “Empresa-Analista-Iinvestidor” deve se orientar pela construção de uma nova estrutura de informações para a prestação de contas aos stakeholders e para alimentação dos modelos de precificação de ativos, conforme abordamos acima. Não é possível falar em integrating thinking se o pensamento empresarial e dos profissionais na cadeia de investimentos não estiverem alinhados. O diálogo deve ir além das preocupações imediatas com crescimento e ebitda, fazer novas perguntas, aprofundar conhecimentos sobre as fontes ESG de riscos e oportunidades e seus impactos no Fluxo de Caixa (pelo lado da oportunidade) e na taxa de desconto (pelo lado do risco), “reduzindo a precisão em favor da abrangência dos modelos” (Celso Lemme – Coppead).
É fato que as empresas produzem atualmente excesso de informações. Há, portanto, o desafio de selecionar as perguntas chaves que vão fazer a diferença na busca da materialidade e tornar o diálogo eficaz para empresas, analistas e investidores. De acordo com as várias opiniões, podemos caracterizar como o “desafio das 5 perguntas chave” em cada setor.
12. Os investidores de longo prazo precisam dar sinais claros sobre as relações com as corretoras na formação de “uma equipe de research integradora de questões ESG”. Esse compromisso representa de fato um diferencial para os investidores institucionais?
Em síntese, após uma viagem desde as macrotendências até a ponta final da cadeia de investimentos no fechamento dos negócios, questões discutidas no 2º Latam ESG, entendemos que o Diálogo, a Educação e a Governança Corporativa terão um papel central na tradução das tendências econômicas, ambientais, sociais e demográficas para o ambiente empresarial e para a análise e decisão de investimentos.
A Globalização trouxe profundas transformações. É por isso que as empresas devem se adaptar ao futuro que já e passado, pela sua urgência. Se a Sociedade e o Mundo Corporativo estão em mudança, suas instituições representativas têm de mudar também, os profissionais integrantes da cadeia de valor têm mudar e se adaptar. Devemos fazer novas perguntas, mais adequadas à realidade dessa evolução, para receber respostas de melhor qualidade. Não podemos ter medo de errar, de mudar. Falando pela Apimec, ela não está fora dessas pressões do processo atual e da necessidade de adequação às mudanças necessárias.
A Governança Corporativa será o pilar central da tradução dessas mudanças globais e suas influências no ambiente corporativo. É um novo processo de Geração de Valor que está em curso. Se esse processo for compreendido pelos agentes econômicos e sociais, respeitando-se os limites do meio ambiente poderemos dizer Sim, “Podemos Evoluir para uma Economia Sustentável”.
Eduardo Werneck
é diretor de Educação e Sustentabilidade da Apimec e coordenador do 2º Latam ESG EFFAS-Apimec.
eduardo.werneck@apimec.com.br