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Diariamente me vem à mente como os jovens batizados de Millennials (ditos nascidos entre 1980 e 1995) e GenZ ou Centennials (ditos nascidos entre 1995-2010) estão encarando o futuro? Penso muito no meu neto para o qual não há mais letras do alfabeto para definir suas expectativas. Várias pesquisas como a do Google e da Delloitte já revelam preocupações importantes que deveriam estar mais no radar dos investidores de longo prazo.
Apesar de os riscos apontados por Yuval Harari (autor de Homo Sapiens e Homo Deus) e Elon Musk (Tesla) entre outros quanto ao futuro do emprego para as novas gerações e até da espécie humana, ainda prefiro o otimismo de Jaden Smith (filho do ator Will Smith), que com 19 anos já tinha a empresa JUST, produtora de “água sustentável”. Yuval aponta para os riscos de o homem do futuro perder sua função econômica. Musk por sua vez é um representante legítimo das pessoas que pregam a inevitabilidade de se estabelecer uma “garantia de uma renda mínima para todos”. Jaden com 16 anos já recebia boas influências do pai quanto ao futuro das águas.
O fato é que estamos em um momento em que gerir 8 bilhões de pessoas caminhando para 9 bilhões em 2050 não permite que crescimento econômico seja um fim em si mesmo. Thomas Piketty em seu livro “O Capital” provoca a discussão sobre o aumento da desigualdade de renda que é a raiz de muitos problemas sociais, pobreza, fome, geração de emprego; outros autores como Kenneth Boulding (The Economics of coming Spaceship Earth, 1966) e Georgescu-Roegen (The Entropy Law and the Economic Process, 1971) chamavam a atenção para os limites do planeta.
N. Geofred Mankiw definia objetiviamente Externalidades como “falhas de mercado” (Introdução à Economia, Princípios da Micro e Macroeconomia, 2013). Sugere ainda que “quando uma externalidade provoca uma alocação ineficiente, o governo pode responder de duas formas:
A globalização, entretanto, passou a exigir uma visão global para mitigação das “falhas de mercado”. As falhas não podem ser mais restritas a uma visão nacional, e nesse caso destaco a pobreza, fome e poluição como problemas globais em grande parte globais. Está tudo cada vez mais interconectado.
Vamos ser otimistas, pois as agendas positivas estão avançando e se aprimorando buscando a convergência de interesses entre os interesses legítimos de geração de valor para empresas, investidores e sociedade, considerando-se o princípio fundamental da preservação do meio ambiente. O ritmo veloz das transformações ao mesmo tempo em que traz benefícios causa, entretanto, preocupações quanto ao seu impacto sobre as gerações X, Y e Z e sobre o meio ambiente.
Estamos em um contexto em que a mitigação das ineficiências do Estado e das falhas de comportamento do mercado estão evoluindo desde os anos 90 para uma maior presença do setor privado, via parcerias público-privado.
Devemos destacar o papel da Educação que exercerá neste século XXI um papel central, pois o princípio de continuidade no tempo e a capacidade de se adaptar às mudanças decorrentes do processo acelerado de transformações exercerão influência crescente na tomada de decisões. Pesquisa da Deloitte sobre os millennials, em 2017, mostra que eles apontam como questão material, entre suas preocupações, a educação, suas habilidades e treinamento continuado. A geração de emprego no futuro é uma preocupação adjacente e querem que seus empregos ou atividades tenham um significado.
Já falamos até aqui de muitos dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ODS que passaram a ser adotados a partir de 2015, pouco antes do Acordo do Clima de Paris. As ODS refletem ações necessárias em torno dos fenômenos mais relevantes que o mundo moderno precisa mitigar e que exigem ações locais e cooperação global.
As ODS´s surgiram dentro de um contexto de participação mais abrangentes, diferente de todos os stakeholders, diferente dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, pois contaram com uma presença mais efetiva das instituições globais, países e dos agentes econômicos nacionais e transnacionais, além da importante participação do terceiro setor representando os interesses sociais e ambientais.
Ressalte-se a importância das iniciativas auto regulatórias globais como o PRI, CDP, Pacto Global, GRI, IIRC que foram importantes para organizar a participação das empresas e investidores, e participaram ativamente do diálogo. Trata-se de um debate que avança mais rápido do que imaginamos e mais devagar do que desejamos. De novo, está tudo interconectado. Não se imagina mais soluções sem a presença das empresas, dos investidores e da própria sociedade.
Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para 2030 – ODS surgiram com o propósito de integrar os objetivos econômicos e sociais às necessidades de preservação do meio ambiente e são compostos por 17 Objetivos gerais e 169 indicadores a ser executada que refletem também as preocupações com as necessidades das gerações presentes e futuras. Neste caminho, a Integração ASG têm crescido por pressão de instituições não governamentais nacionais e globais, como as já citadas PRI, CDP, Pacto Global, etc.
Segue abaixo a relação dos ODS´s que entrarão na agenda dos países, iniciativa privada e investidores.
Para conhecimento dos objetivos ou indicadores específicos: https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/
O desafio será conciliar a visão abrangente essencialmente dos ODS com a visão ASG que diz respeito aos investidores e empresas? Significa também que a implementação dos ODS terá de levar em consideração as premissas de geração de valor para empresas e investidores. Ainda temos um grande contingente de corporações e investidores que consideram investimentos dessas características como custo que poderiam comprometer os padrões de retorno exigidos.
Costanza Consolandi e Robert G. Eccles em seu recente artigo “Supporting Sustainable Development Goals Is Easier Than You Might Think (MIT SMR)” defendem que o engajamento aos ODS,s (SDG´S em inglês) e sua integração com os princípios ASG possa ser mais fácil do que se imagina. Eles afirmam que os ODS são “o que temos de mais importante de estratégia para a Terra”. Reconhecem desafios importantes como o maior aperfeiçoamento dos paradigmas de análise de investimentos, considerando a falta de metodologias universais de formulação e parametrização dos modelos no que se às externalidades ambiental e social além de medição de eficiência da governança (critérios ASG). Vamos aprofundar esse tema no artigo “Objetivos do Desenvolvimento Sustentável na Formação de Valor para companhias e Investidores – II.
O que devemos ter em mente é que não há mais espaço para visão unicamente direcionada para os interesses dos shareholders. Estes têm de se colocar em uma perspectiva de stakeholders que estão pedindo protagonismo. Adicionalmente, a restrição da finitude dos recursos naturais acreditando que a parcela da perpetuidade nos modelos de valuation em outra perspectiva. Essa parcela depende da sustentabilidade do crescimento econômico e este, repetimos, depende da disponibilidade e da eficiência do uso de recursos naturais. Eficiência na extração de recursos minerais, eficiência energética, eficiência do uso do solo, tecnologia, direitos humanos e visão de impacto social serão questões de base para avaliação da capacidade de geração de valor para as empresas e investidores.
Os investimentos de longo prazo que resistirão no final têm os ODS´s e a integração ASG como importante fator de sucesso e resiliência corporativa.
Os Millennials e Centennials vão testemunhar essa mudança de paradigma e como destacamos, eles querem ser protagonistas e fazer a diferença em suas corporações e negócios.
Eduardo Werneck
é vice presidente da Apimec Nacional.
eduardo.werneck@apimec.com.br