O dinamismo do mercado atual trouxe um novo desafio a liderança corporativa: atender aos anseios dos "stakeholders" em tempos de severa crise econômica e social decorrente da pandemia em curso.
Desse modo, o executivo moderno tem se empenhado para lidar com uma dinâmica totalmente imprevisível onde se exige amplo domínio sobre determinadas áreas estratégicas da companhia sob a sua direção, tais como:
a) Administrativa;
b) Comercial;
c) Financeira;
d) Jurídica;
e) Logística;
f) Tecnologia;
g) Relacionamento com Investidores; e
h) Recursos Humanos.
Ora, por mais capacitado e experiente que seja o executivo moderno, é humanamente impossível ter controle absoluto sobre as atividades diárias de cada uma das áreas mencionadas acima.
Dessa forma, a liderança executiva deve sempre se preocupar em montar uma estrutura confiável que atenda plenamente as suas necessidades e com alto grau de comprometimento com os resultados da companhia.
Porém, o líder nem sempre consegue ser bem sucedido nessa empreitada por conta de diversos fatores, dentre os quais, destacam-se: a) ingerência de acionistas/sócios e investidores que em muitos casos visam apenas o resultado a curto prazo; b) dificuldade na retenção de talentos por conta da inexistência de transparência na relação com seus colaboradores; e c) ausência de sinergia entre as áreas tidas como estratégicas para o sucesso da operação.
Com isso, a posição da liderança executiva fica extremamente fragilizada em diversas frentes, inclusive, com possibilidade de afetar negativamente o seu patrimônio pessoal e ter privada a sua liberdade.
Isso porque caso a sua equipe cometa qualquer equívoco que lese o patrimônio público (ex.: ambiental e fiscal) e/ou privado (ex.: acidente de trabalho, acionista minoritário e vazamento de dados) o líder estará sujeito a responder pelo dano causado como responsável pela implementação de decisões operacionais da companhia.
Vale dizer que caso o dano causado a terceiro – entes públicos e/ou privados -não seja reparado de forma adequada, a liderança estará sujeita a diversos tipos de constrangimentos, tais como, apontamentos restritivos em seu nome e bloqueios de ativos (imobiliários e financeiros).
Nunca é demais relembrar que o Supremo Tribunal Federal validou a condenação de diversos executivos e empresários por ilícitos cometidos por seus subordinados com base na bem-sucedida tese da “Teoria do Domínio do Fato” (Ação Penal nº 470), agravando ainda mais o risco da liderança executiva.
Em função disso, recomenda-se que a liderança por ocasião da sua admissão na companhia, negocie a contratação de: a) seguros específicos contra esses tipos de riscos como forma de proteger o seu patrimônio; e b) profissionais altamente qualificados que atendam os seus interesses em cada uma das posições tidas como estratégicas para o sucesso da operação.
Portanto, resta claro que a liderança executiva para trilhar um caminho de sucesso dentro da companhia em tempos de crise deverá refletir cuidadosamente sobre as questões delineadas acima para não ser penalizada por deslizes eventualmente cometidos pela equipe interna e, consequentemente, trazer prejuízos que afetem o resultado da operação, além de colocar em risco o seu patrimônio, sua imagem perante o mercado e, em alguns casos, a sua liberdade.
Roberto Goldstajn
é advogado atuante no segmento jurídico empresarial com mais de vinte anos de carreira em empresas multinacionais e nacionais de renome. Ampla vivência em projetos de “Compliance”, Governança Corporativa e “Legal” com foco em identificação de oportunidades e mitigação riscos corporativos e formulação de estratégias e criação de práticas de engajamento junto aos diversos Atores Sociais. Experiência como integrante independente de Conselhos Consultivos de Startups de Tecnologia, Negócios Sociais e Organizações da Sociedade Civil.
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