Ponto de Vista

WARREN BUFFETT: UM BREVE COMENTÁRIO SOBRE O NEGÓCIO DA VIDA DE UM CAPITALISTA AMERICANO

Warren Buffett é um dos investidores mais comentados, analisados, admirados, mas também criticados, especialmente, durante os períodos de exuberância e, principalmente, quando a prevalência de empresas com forte potencial de crescimento e, não necessariamente resultado, reina. No entanto, será que ele, seu conselheiro Charlie Munger e seus companheiros da Berkshire (pois por melhor que ele seja ninguém é uma ilha) não sabem também analisar o ambiente de crescimento? O investimento na Apple é um indicativo que sabem juntar análise e investimento de alto crescimento com rentabilidade.

Enganam-se aqueles que acreditam que Warren Buffett não tenha mudado e evoluído sua forma de investir e analisar as empresas, desde seus primórdios que seguia mais a risca a cartilha de Benjamin Graham em busca de empresas bastante descontadas para investir. No entanto, com a maior eficiência dos mercados de capitais, a era de empresas Net-Net* praticamente acabou e ao longo do tempo foi atrás de empresas rentáveis, estabelecidas e não necessariamente com múltiplos baixos.

Apesar das críticas, principalmente nos períodos de boom do mercado de capitais, é impressionante sua capacidade e lucidez em analisar empresas e mapear seus momentos econômicos (o que é diferente de fazer prognósticos de preços de S&P para os finais do ano), ele aos 91 anos tem muito a ensinar, principalmente, em termos de disciplina de investimentos. 

A evolução das participações das empresas investidas na Berkshire, além das famosas cartas anuais, diz muito sobre a forma e as mudanças de sua maneira de investir.

Warren Buffett apostou alto no mercado de ações dos EUA no primeiro trimestre, comprando US$ 51,1 bilhões em ações, colocando o polpudo caixa do conglomerado para trabalhar enquanto os mercados financeiros caíam de níveis recordes. De acordo com sua carta aos acionistas, a Berkshire vinha fazendo o que todas as empresas ricas com elevado caixa, no entanto, sem grandes ideias fazem – recomprando suas próprias ações.

Entretanto, as quedas mais fortes nos mercados acionários ao redor do mundo nos meses de 2022 fizeram com que o mega investidor encontrasse valor em algumas empresas. É uma mudança de postura em relação aos últimos dois anos, após a recuperação de março 2020, alertava para altos valuations das empresas, principalmente em relação a forma com que os investidores, ou melhor, apostadores de ações e derivativos se tornaram nos últimos anos - Buffett Says Market ‘Almost Totally A Casino’ As It Rallied In Recent Years - e poucas oportunidades no mercado que pudessem gerar retornos substantivos.

Em seu relatório trimestral observou-se que a Berkshire aumentou sua participação na empresa de energia Chevron, listando a sua participação de US$ 25,9 bilhões como uma de suas cinco principais participações em uma carteira de ações agora avaliada em US$ 390 bilhões. O investimento na Chevron acompanha bilhões de dólares em compras de ações na petrolífera Occidental e fabricante de impressoras e computadores HP este ano.

Buffett poderia estar se sentindo incomodado depois de admitir que pagou um tanto caro por suas anteriores aquisições: A Precision Castparts, adquirida em 2016, apresentou alguns bilhões em baixas contábeis em 2020. A Kraft Heinz também apresentou ajustes elevados em 2018 e 2019 com base em sua participação de 26,8%, mas provavelmente isto não deve ser uma das maiores preocupações deste senhor de 91 anos.

Buffett comentou ainda seu interesse em comprar mais alguns milhões de ações da Activision Blizzard, a empresa de jogos que a Microsoft concordou em adquirir em janeiro. A Berkshire havia comprado pouco menos de 15 milhões de ações – menos de 2% das ações em circulação da Activision – no ano passado, antes do acordo ser fechado. A Berkshire agora possui 9,5% da empresa, o que a tornaria a maior acionista.

Em março, Buffett fechou acordo de US$ 11,6 bilhões para adquirir a Alleghany, no setor de seguros. Aliás, ele sempre tem um apresso grande pelo setor: Já que os ganhos com o “free float” ao investir o seguro, isto é o dinheiro de prêmios de clientes que a Berkshire investe, mas não possui, subsidiam as apostas de Buffett. Apesar da necessidade de manter um caixa elevado para eventual pagamento de sinistro.

No entanto, os lucros recentes em seus negócios de seguros - que inclui a Geico - foram reduzidos bastante para apenas US$ 47 milhões, ante US$ 764 milhões um ano antes. A unidade Geico reportou uma perda de subscrição no período, devido ao aumento nos sinistros de seguros.

Apesar de sua estrutura em manter os negócios de seguro, sua carteira de investimentos em um veículo e as empresas operacionais em outro, é interessante observar ao longo dos anos a evolução dos ativos:

Principais posições em 1995
Coca-Cola 31%
Gilette 11%
ABC - Network 10%
Geico 10%
American Express 8,2%
Cash 6,6%
Wells Fargo 6,1%

 

Principais posições em 2000
Coca-Cola 28%
American Express 19%
Cash 9%
Gilette 9%
Wells Fargo 7%

 

Principais posições em 2005
Cash 45%
Coca-Cola 10%
American Express 9%
Wells Fargo 7%
P&G 7%

 

Principais posições em 2010
Cash 33%
Coca-Cola 13%
Wells Fargo 11%
American Express 7%
P&G 6%

 

Principais posições em 2015
Cash 33%
Wells Fargo 15%
Coca-Cola 9%
American Express 7%
IBM 6%

 

Principais posições em 2020
Apple 30%
Cash 13%
Bank of America 12%
Coca-Cola 7%
American Express 7%

 

Principais posições em 2022
Apple 36%
Cash 20%
Bank of America 10%
American Express 6%

Fonte: Berkshire Hathaway Annual Report

Leopoldo Barretto JR.
é consultor de investimentos.
leopoldobarrettojr@gmail.com

 
 
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