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ENGAJAMENTO DAS LIDERANÇAS É FUNDAMENTAL PARA A AGENDA ESG

A cada dia, aumentam as pressões e incentivos para que as empresas atendam aos preceitos e práticas das agendas ambiental, social e de governança corporativa (ESG), incorporando-os às suas atividades e decisões estratégicas. São exigências que se tornam inadiáveis, considerando a inegável relação entre os negócios e questões urgentes, como as mudanças climáticas e seus efeitos sistêmicos e os dilemas sociais, globalmente exacerbados pela pandemia e suas consequências econômicas.

Apesar de toda essa demanda e da crescente cobrança dos stakeholders, clientes, fornecedores, consumidores e da sociedade, muitas empresas ainda não conseguiram estruturar-se de modo adequado para avançar nessa agenda.

Segundo a pesquisa CEO Outlook 2022, realizada pela KPMG com CEOs de todo o mundo, as empresas estão deixando um pouco de lado a agenda ESG e suas metas e priorizado o enfrentamento de questões econômicas: metade dos CEOs ouvidos pelo estudo acreditam que os próximos meses serão de recessão e crises econômicas. Por isso, embora considerem importante para o sucesso das empresas as pautas ambientais, sociais e de governança, vêm reconsiderando seus esforços nessa agenda. Esse posicionamento dos CEOs demonstra como é fundamental o engajamento das lideranças para que a agenda ESG avance, bem como para ditar o ritmo de seu desenvolvimento pelas organizações.

A propósito, entendemos que não apenas os CEOs, mas toda a estrutura de governança corporativa tenha papel fundamental na integração efetiva das questões ESG de maneira transversal na estratégia do negócio e no processo decisório das lideranças. Indicamos, inclusive, alguns temas que merecem atenção e foco dos agentes de governança ao pensar em estruturar suas agendas ESG: a descarbonização e o mercado de carbono, visando contribuir para o limite a 1,5 grau do aquecimento terrestre até 2100; inclusão socioeconômica; diversidade; transparência; saúde mental, considerando a importância dos recursos humanos e a responsabilidade das empresas sobre eles; e sinergia com os parceiros da cadeia de suprimentos para a adoção de insumos, matérias-primas e produtos sustentáveis.

Também é importante, considerando as transformações no mundo do trabalho e os valores enfatizados pelas novas gerações, que as empresas tenham consciência de que a adequada gestão do capital humano é elemento-chave para garantir a coerência dos seus compromissos com a agenda ESG. Afinal, são pessoas motivadas e engajadas que contribuem para a geração de valor, inovação resiliência e longevidade dos negócios. Nesse sentido, a pesquisa CEO Outlook 2022: Brasil demonstra que 40% dos respondentes brasileiros apontaram que o ritmo dos avanços da diversidade, equidade e inclusão no mundo dos negócios ainda é lento e concordam que há a necessidade de promover a aceleração nesses quesitos dentro das organizações.

Ainda no mesmo tema, atrair e reter talentos por meio de adequadas propostas de valor para esse grupo (20%) está entre as três prioridades operacionais apontadas pelos respondentes para garantir crescimento nos próximos anos.

Outro fator a ser considerado na agenda ESG é que as organizações não devem investir no seu desenvolvimento apenas em busca de reconhecimento ou retorno de marca. Selos, rankings e certificações multiplicam-se no mercado de maneira mais ou menos específica e, em muitos casos, com critérios de avaliação não tão claros. Além de que dificilmente existe um padrão único capaz de chancelar as práticas e dar conta da abrangência da agenda ESG. O olhar das empresas deve ser genuíno e estar focado em sua jornada de evolução e nos benefícios resultantes desse processo. Em síntese, a integração das questões ambientais e sociais aos negócios precisa ser realizada na prática e não apenas no discurso.

De acordo com a publicação “Boas Práticas para uma agenda ESG nas organizações”, do IBGC, essa integração incluir realizar um processo de materialidade para identificar as questões-chave ou temas ESG de maior impacto; considerar esses aspectos no seu processo de gestão de riscos; avaliar o modelo de negócios para compreender influências de todos os capitais no curto, médio e longo prazos; definir objetivos e desdobrá-los em metas e indicadores para monitorar o avanço; aprovar os objetivos com o mais alto nível de liderança (conselho de administração, diretoria ou comitês de assessoramento temático); e avaliar e monitorar continuamente os objetivos estratégicos.

Diante desse desafio, é fundamental que a estrutura de governança das empresas, sob orientação, fomento e supervisão do conselho, dê o tom e estabeleça as prioridades em relação à gestão dos aspectos ESG de. Sem clareza de responsabilidades e funções, integração efetiva dessas questões à estratégia do negócio, uma agenda anual de trabalho contemplando temas estratégicos e relevantes para a sustentabilidade e geração de valor, com espaço adequado nas reuniões da administração para os temas prioritários, dificilmente essa agenda receberá a atenção devida e conseguirá evoluir no ritmo necessário.

É fundamental estabelecer objetivos e planos de ação que conectem a estratégia à sustentabilidade com o resultado operacional e financeiro. Outras frentes importantes incluem a estruturação de políticas relacionadas aos temas ESG relevantes, e atrelar os programas de remuneração variável dos administradores a metas e indicadores ESG.

E em todas as empresas, em especial naquelas que ainda não se estruturam para lidar adequadamente com a agenda ESG, essa jornada passa em maior ou menor grau por promover uma mudança cultural. Para isso, bons parâmetros são os princípios de governança defendidos pelo IBGC em seu Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa O entendimento e aderência a esses princípios na forma de agir das lideranças e organizações é um excelente primeiro passo. As tendências e caminhos estão dados. Agora, é preciso agir.


Pedro Melo
e Luiz Martha
são, respectivamente, diretor-geral e gerente de pesquisa e conteúdo do IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
comunicacao@ibgc.org.br


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