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GOVERNANÇA & INTERNACIONALIZAÇÃO: COMO A GOVERNANÇA CORPORATIVA PODE ESTAR A SERVIÇO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS?

Com o propósito de oferecer insights sobre o processo de internacionalização de empresas brasileiras sob a ótica/perspectiva do Conselho, o IBGC produziu o documento "O Papel do Conselho no Processo de Internacionalização de Empresas Brasileiras", recentemente lançado. O conteúdo é relevante para se compreender a restrita participação de organizações de nosso país nos mercados internacionais, consequência de uma entrada tardia no comércio global, de barreiras culturais e sociais (como o aprendizado de outro idioma) e das dimensões da demanda interna, que reduziam o ímpeto pela internacionalização.

A internacionalização precisa ser pensada e planejada para, por um lado, potencializar oportunidades e, por outro, minimizar riscos e desafios para se ingressar em uma nova realidade cultural, social, política e econômica. Por isso, aprender com os erros e acertos das empresas que já investiram nessa jornada pode ser um caminho eficaz para aumentar as possibilidades de sucesso. Nesse contexto, é muita positiva a presença de conselheiros com habilidades e competências específicas.

O processo de internacionalização intensificou-se a partir dos anos 1980, facilitado pelo surgimento e desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação, que reduziram drasticamente o custo da distância geográfica. A partir da década de 1990, no Brasil, houve melhora das condições para internacionalização das empresas, devido a fatores como a consolidação do movimento de abertura da economia nacional, avanços das telecomunicações e a estabilidade proporcionada pelo Plano Real. No presente cenário global, marcado por incertezas, quadro geopolítico tenso e acirramento de disputas comerciais, antes de se decidir por onde iniciar a internacionalização é preciso refletir sobre as motivações, os riscos e o retorno esperado.

No que diz respeito aos estímulos, os mais relevantes, no plano interno da companhia, são promover o seu crescimento, aproveitar as capacidades técnicas e produtivas disponíveis, obter ganhos com economia de escala, explorar suas competências ou tecnologias em novos mercados e aprender com eles, compensar sazonalidades e diversificar riscos. Há, ainda, fatores externos à empresa, como responder a ameaças de concorrentes, reduzir custos, por meio do acesso a fontes de matérias-primas ou outros recursos, obter acesso a linhas de crédito em condições mais atrativas e aproveitar condições proporcionadas por tratados de livre comércio.

Sejam quais forem as motivações, deve-se considerar que a internacionalização, como todo movimento de expansão dos negócios, é parte de um plano estratégico mais amplo, cuja elaboração deve contar com conselheiros que conheçam em profundidade a posição atual da organização e o ambiente competitivo dos potenciais mercados internacionais. E é aqui que vislumbramos o papel da governança corporativa. No planejamento, é preciso considerar as práticas do país de destino, como legislação trabalhista e tributária, diferenças culturais sobre padrões de consumo e eventual necessidade de mudar processos, adaptar produtos, serviços e marcas. O processo de internacionalização, devido a seu caráter estratégico, envolve decisões com reflexos ao longo de anos. Por isso, o Conselho deve ter clareza sobre os objetivos, riscos e recursos necessários, para poder validar o projeto.

Cabe salientar que o processo de internacionalização pode ser classificado em três categorias ou níveis, como proposto por Douglas e Craig (1995): exportação, expansão no mercado externo via investimento estrangeiro direto (IED) e globalização. Devem ser considerados os fatores “inovação” e “tecnologia digital” na busca pelo mercado externo, que ganham cada vez mais relevância no centro da competitividade global dos negócios no século XXI.

O Conselho deve acompanhar permanentemente a realidade do mercado global, com atenção voltada aos segmentos em que a empresa quer operar e às políticas públicas brasileiras, para antecipar oportunidades e a superação de obstáculos. Recomenda-se, ainda, orientar a empresa a participar de entidades de classe ou associações comerciais/industriais, que, em articulação com órgãos do governo de nosso país, promovam o fortalecimento das relações internacionais.

Também é importante que o Conselho repense suas competências e diversidade, avaliando a pertinência de incluir membros de etnia e/ou com vivência na cultura e nos ambientes de negócio das regiões/países onde a empresa pretende atuar. Solicitar avaliação das relações diplomáticas, comerciais e regulatórias entre os países para identificar possíveis vantagens ou barreiras e garantir o compliance com a legislação aplicável é outra iniciativa relevante, assim como verificar se foi estabelecida uma estratégia para lidar com a dinâmica de competição em escala global, avaliando a possibilidade de joint ventures ou aquisições.

Como promotor e guardião das estratégias da companhia, o Conselho de Administração tem a responsabilidade de avaliar a validade do esforço de internacionalização, estabelecer os objetivos a serem perseguidos e monitorar o trabalho em todas as suas etapas, sem perder de vista os riscos existentes no day after de implantação do processo. Trata-se de missão importante para que a inserção global das empresas brasileiras seja eficaz e contribua para conduzir nosso país a posições cada vez mais relevantes na economia internacional.


Luiz Martha e Marco Vitiello
são, respectivamente, gerente de pesquisa e conteúdo do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC); e membro da Comissão de Estratégia do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e business consultant na MHCV consultoria.
comunicacao@ibgc.org.br


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