As principais tendências apontadas com atenção estratégica dos conselhos e da alta direção das empresas se confirmaram ao longo do ano, evoluindo com assertividade e mostraram o desenrolar de temas como inovação, diversidade e inclusão, riscos geopolíticos, os avanços da transformação digital, o uso da inteligência artificial (IA) e tantas outras tecnologias disruptivas trazendo bastante atenção e tensão aos aspectos de vulnerabilidade de dados e cyber segurança.
Nesse caldeirão de temas diversos que vivenciamos durante o ano corrente, em meio às turbulências, ainda tivemos um mês de agosto para celebrar. O lançamento da 6ª edição o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, chegou mais inclusivo indicando ser validado para empresas de todos os portes, reforçando a importância dos princípios éticos aplicados as relações entre empresas e seus agentes de governança com uma gama mais ampla e complexa de partes interessadas, colaboradores, fornecedores, clientes, o meio ambiente e a sociedade em geral. Ainda houve tempo de sermos impactados por dois grandes eventos brindando o descortinar do último trimestre do ano. O Board Summit da edtech Board Academy voltado para conselheiros empresariais trouxe uma jornada imersiva de aprendizado em governança, gestão e inovação agregando uma visão incrível sobre a importância e a beleza do ecossistema nos negócios. Já o grandioso 24º congresso do IBGC – Governança em rede: conectando stakeholders que aconteceu no WTC em São Paulo nos permitiu ter a certeza de que “nenhuma empresa é uma ilha – não importa a distância ou as diferenças, estamos todos conectados e interdependentes. E justamente por isso, somos capazes de impactar o outro positivamente.”
Considerando o ecossistema de empresas conectadas a propósitos e suas partes interessadas, um dos pontos altos do congresso do IBGC foi apresentado trazendo o olhar para o final da cadeia, os ditos “noholders”. Nesse momento, João Biarari, CEO e founder da startup Meu Chapa, questionou aos participantes se conheciam o Chapa. A maioria presente desconhecia o conceito do chapa, aquele que carrega e descarrega caminhões de carga em todo país e sua proposta foi o de apresentar o papel essencial desse profissional na cadeia de valor, conectando-os com a necessidade de contratantes clientes, criando uma relação de trabalho mais transparente envolvendo as 3 partes, o contratante, a plataforma que intermedia a relação, e o chapa “noholder”. O representante dos chapa, a comunidade de profissionais atuantes na startup, Valdomiro Costa, conheceu a Meu Chapa na pandemia e compartilhou que essa conexão foi o seu ponto de inflexão. Era empresário e naquela ocasião sem trabalho, atuou como servente para cuidar da família e se indignou que muitos precisavam ir para rodovia e correr riscos para conseguirem o trabalho de descarregar caminhões. A partir dessa dor indicou “Não iria para a beira da rodovia para pedir para descarregar caminhão, não teria coragem. Minha vida mudou, minha renda dobrou com a Meu Chapa, que melhorou a vida do profissional e dos empresários. Hoje, meu sentimento é de satisfação”.
Segundo a FINEP – Financiamento de Estudos e Projetos, inovação é a implementação de um produto, bem, serviço, processo ou método novo ou significativamente melhorado, contribuindo com os resultados dos negócios. De forma simplificada, inovar é pensar em novas formas, caminhos ou estratégias para atingir determinados objetivos, resolver questões, melhorar processos, encontrar a solução para problemas.
Fica ainda mais fácil de entender a inovação através da matriz da inovação que apresenta os quatro principais tipos de inovação que combina o grau de inovação da tecnologia com o grau de impacto no mercado.
Para os tipos de inovação incremental, radical e disruptiva, vale o seguinte complemento:
Inovar parece algo recente? Certamente não é. A inovação mudou o mundo no passado e pode mudar o mundo como conhecemos ainda hoje.
A StartSe no artigo “As 13 inovações com maior impacto na história da humanidade” apontou a roda, o dinheiro e a luz artificial como algumas das invenções inovadoras que transformaram o mundo. Hoje, na era das startups, o que pode nos inspirar? A forma como movimentamos nossas finanças, pedimos refeições ou nos movimentamos pela cidade são exemplos de como vivemos atualmente e nem podemos pensar em viver sem tais facilidades trazidas por soluções que hoje se inserem naturalmente no nosso dia a dia. A transformação digital nos permite contato com novas e insurgentes tecnologias. Soluções disruptivas como a inteligência artificial e realidade aumentada, são presentes nas nossas vidas e mudam as formas como aprendemos e ensinamos.
A estudante de medicina, Giovanna Tannure, descreveu uma de suas aulas que adotou a realidade virtual na avaliação de tecidos, permitiu navegação pelos sistemas nervoso, muscular e cardiovascular pelo aumento da visibilidade nas cavidades do coração humano. Soluções tecnologicamente preparadas agregadas a inovação promovem um novo formato de ensino e a difusão do conhecimento. A robótica está cada vez mais desenvolvida e remete a modelos e padrões diferenciados. Esse é o padrão de ensino aliado à tecnologia adotado pelo Idomed – Instituto de Educação Médica que promove a interação com as estruturas do corpo humano, usando óculos de realidade virtual que possibilitam visualizar o funcionamento dos órgãos de maneira mais abrangente. É a tecnologia aliada ao ensino permitindo contato direto com laboratórios de simulação realística e de anatomia em realidade virtual 3D e mesa digital de dissecação.
Cada vez mais, as empresas trabalham para um movimento crescente de iniciativas de inovação. Por esse motivo, inovar abre um mundo infinito de possibilidades, exige mudança de mindset para transformar novas ideias em resultados concretos. É reprogramar a mente para pensar diferente através de processos, soluções, produtos ou serviços focando na melhoria de experiência do cliente, aumento de receita, eficiência de custos e melhoria de produtividade.
A cultura de inovação segue forte nos negócios e o mercado vivencia o rápido crescimento de startups. De acordo com dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), de 2015 a 2019, o total de startups no Brasil aumentou 207%. O mapeamento do ecossistema brasileiro de startups 2023 realizado pela Abstartups e Deloitte, apresenta dados interessantes a respeito da geografia, perfil da base de startups, sendo uma fonte viva de informações para investidores, jornalistas, corporates e os próprios empreendedores. Trata-se de uma resposta à dinamicidade do mercado e demanda dos stakeholders por informações detalhadas.
Para a manutenção desse cenário positivo, é preciso de fato, fomentar as novas e boas ideias além de desmistificar os ditos mitos da inovação: (i) Criatividade não é inovação; (II) inovar é ser inédito; (III) Inovação não envolve só lançar novos produtos e (iv) inovação não é exclusivo de Startups. A figura mostra os principais motivadores da inovação que o levam a permear a organização, ser parte da cultura a fim de apresentar solução às questões a serem endereçadas na empresa. Portanto, buscar o mindset de inovação, estar aberto a transformação digital colocando o cliente no centro, é fundamental para ultrapassar as barreiras alinhando-se com o objetivo estratégico da organização.
Independente do lado do ecossistema no qual esteja o foco de atuação, startup, empresa ou incubadoras, seja founder ou investidor, existem muitas oportunidades no mercado para inovar e tecnologias prontas para escalar os resultados. É fato que os hubs de inovação no Brasil oferecem às empresas uma forma eficiente de estarem inseridas no ecossistema de inovação, nas oportunidades advindas de startups estando abertas para trabalhar colaborativamente no desenvolvimento de soluções para seus principais desafios abrindo portas para parcerias estratégicas valiosas. Por tudo isso, reforço a afirmação: “Não existe Não! No ecossistema de inovação, para cada não, uma solução!
Luciana Tannure
é Estrategista de negócios e mentora empresarial. Executiva com mais de 28 anos de experiência em empresas nacionais e multinacionais. Conselheira Consultiva certificada, Vice coordenadora da Comissão de Governança e Estratégia Empresarial pela Board Academy BR. Empreendedora e palestrante. Engenheira formada pela PUC-RJ com MBA em Gestão Empresarial pela FGV e pós-graduação em Finanças Corporativas e Sistemas de TI.
luciana.tannure@gmail.com