Encerramos, no último mês de dezembro, mais um ciclo de gestão. E podemos dizer, sem falsa modéstia, que foi um período de avanços. Foram três anos de aprimoramentos na gestão da própria APIMEC e de muito diálogo com órgãos reguladores/governo e outras instituições representativas do setor financeiro e do mercado de capitais.
Mas, antes de avançar nesse balanço, cabe aqui um breve parêntese para falar de história. Nossa associação foi fundada há 53 anos, em 18 de maio de 1970, ainda como ABAMEC (Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais), no Rio de Janeiro, sendo a mais longeva do mercado. Nossa CNPI (Certificação Nacional de Profissionais de Investimento) é, também, pioneira, contribuindo, ao longo de duas décadas, para o aperfeiçoamento dos profissionais brasileiros e disciplinando um mercado que depende, em altíssima medida, da confiança nos agentes e no funcionamento do próprio mercado. Em 2010, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) tornou a certificação da APIMEC obrigatória para todos os analistas de valores mobiliários. A mesma instrução determinou que a entidade também teria a obrigação de supervisionar seus credenciados. Assim, a APIMEC assumiu, formalmente, um papel autorregulador para o qual já tinha, aliás, grande vocação.
Voltemos ao futuro e ao já mencionado balanço de nossa gestão. O ano de 2023 marcou a consolidação da APIMEC Brasil como uma entidade única, de atuação em todo território nacional (daí o “Brasil”), como apoio à própria CVM na fiscalização e regulação das atividades dos analistas e profissionais do mercado de capitais. Unir as regionais em uma só entidade era um sonho antigo. Esse ciclo começou em 2019, quando houve uma assembleia de incorporação das quatro primeiras: SP, RJ, NE e DF. Naquele momento então, Sul e MG ficaram associadas à APIMEC Autorregulação (que opera com outro CNPJ). Já em 2022, a regional Sul decidiu aderir e, em 2023, a regional MG também se fundiu à APIMEC Brasil.
Esse processo culminou com a incorporação da área de autorregulação, que se tornou, efetivamente, um departamento da APIMEC – temos, portanto, dois superintendentes, um de autorregulação (posto ocupado, hoje, por Bruno Fernandes) e um superintendente geral – atualmente, Vinicius Corrêa e Sá. Em nossa gestão, também estruturamos as áreas administrativa e financeira, técnica, educação e certificação, de relação com empresas e eventos. Essa foi uma construção coletiva, com a colaboração entre a diretoria executiva e o conselho de administração. Um trabalho harmonioso e que, tenho certeza, seguirá ocorrendo neste ciclo que se inicia em 2024.
Ainda falando “da porta para dentro”, aprimoramos o trabalho de comunicação da instituição com o apoio de empresas especializadas e evoluímos na organização administrativa e modernização dos sistemas de Tecnologia. Reformulamos o nosso portal, trabalhamos mais nas mídias sociais e por fim, passamos, a produzir e divulgar um boletim técnico para os associados ficarem atualizados. São processos internos e que, muitas vezes, são pouco percebidos por quem não participa do dia a dia da entidade, mas que fazem uma enorme diferença.
Olhando para fora, em nosso diálogo com o mercado, temos, hoje, uma parceria consistente com o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) e na criação e atuação no CBPS (Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade) e nos posicionado publicamente em relação a temas de interesse, no Brasil e para entidades no exterior, em um trabalho liderado pelo diretor técnico Haroldo Levy Neto.
No que diz respeito às relações com o governo, realizamos eventos sobre reforma tributária. Acompanhamos a evolução do assunto e vamos continuar acompanhando. Também fomos bastante ativos em trazer contribuições sobre o arcabouço regulatório do mercado financeiro (agenda regulatória do mercado financeiro), naquilo que, acreditamos, seja um importante papel de advocacy de nossa instituição. Fomos ativos, inclusive, nas discussões que ainda se desenrolam no âmbito da CVM em relação ao papel dos influenciadores.
A área de eventos e relação com empresas, aliás, liderada pela diretora Mara Limonge (que, na nova gestão, assumiu a vice-presidência executiva), teve de se adaptar, como todo o mercado, durante o período da pandemia, em um trabalho de migração para o formato on-line bastante bem-sucedido. O formato on-line veio para ficar e, a partir de agora, convive com os eventos presenciais, em eventos muitas vezes, híbridos.
Em 2023 aconteceu o primeiro congresso ANCORD-APIMEC, nesse formato. Tivemos, também, a quarta edição do Prêmio APIMEC-IBRI, uma premiação que vem crescendo; a cerimônia em 2023 foi a primeira 100% presencial e foi muito prestigiada por analistas e profissionais de RI. Já estamos organizando a próxima. Todos os anos realizamos eventos ESG em parceria com a Abrasca (o Encontro ESG). Presencialmente, realizamos, em 2022 e 2023, dois encontros no Nordeste, contribuindo para levar as discussões mais importantes para o público dessas regiões, já sob o “guarda-chuva” de APIMEC Brasil. Lançamos, ainda, em 2021, o livro 50 anos ABAMEC APIMEC.
Para o próximo ciclo, deixamos como legado a proposta de organizar mais parcerias e eventos setoriais. Já estão em fase de organização os segmentos de óleo e gás e petroquímico. Depois, devemos realizar eventos presenciais no Sul e no DF.
Um tema que sempre foi caro à entidade: certificação. O grande destaque foi a liberação do exame on-line, proporcionando liberdade para os analistas prestarem a prova sem precisar se deslocar de suas cidades, com praticidade e se adequando aos modelos mais modernos. Certificamos não só analistas CNPI, mas também profissionais de previdência RPPS. Devemos, aliás, ampliar as certificações na área de previdência e estamos avaliando caminhos para uma nova certificação, focada em ESG. Já contamos, inclusive, com um comitê para o tema. Isso sem descuidar de nossos “cursos raiz”, ligados à formação de analistas e com análise e valuation.
Por fim, lançamos o Centro de Memória APIMEC Brasil, que surgiu justamente no processo de produção de nosso já mencionado livro de 50 anos. A partir do esforço para produzir a obra, encontramos muitos documentos e objetos do nosso passado. Seria, para dizer o mínimo, triste negligenciar esse material que conta a história do nosso mercado financeiro. O endereço escolhido para o centro de memória foi a sede da antiga APIMEC Rio, em um espaço que ainda deve crescer e se tornar referência para essa história. Lançamos a “pedra fundamental” do Centro de Memória com a presença de Luiz Fernando Lopes Filho, Wladimir Rioli, Théo Rodrigues e Roberto Teixeira da Costa (primeiro presidente da CVM), figuras fundamentais nesse processo.
Cuidamos do passado, mas olhamos para o futuro, com novas certificações, posicionamentos, cursos e eventos, nos formatos presenciais, híbridos e online além da participação em discussões sobre o Marco Regulatório do Mercado de Capitais, especialmente Autorregulação - tão cara entre nós. Seguimos, assim, mantendo a entidade ativa e relevante. Meus votos de muito sucesso à nova gestão.
Lucy Sousa
é ex-presidente executiva da APIMEC Brasil e nova presidente do Conselho de Administração.
lucysousa@apimecbrasil.com.br