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PERSPECTIVAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS EM 2024

O cenário econômico mundial em 2024 tende a passar por mudanças significativas. E os preços dos ativos de países emergentes tendem a estar muito ligados ao desenvolvimento de fatores externos. Com sinalização de alívio monetário, com expectativas de normalização dos juros, prometendo ser um impulso para a economia.

Uma combinação de inflação descendente, podendo chegar a 2,4%, e atividade econômica ainda intensa permitindo que a economia americana inicie o ciclo de afrouxamento monetário, onde as taxas de juros atingiram a faixa 5,25% - 5,50% a.a. Contudo, no final do ano de 2023, verificou-se uma mudança forte do comitê de política monetária (FOMC). Direcionando para juros médios projetados para o biênio 2024-2025, menores, mesmo com a inflação esperada alcançando a meta somente em 2026, dada a existência do risco, para a atividade, mantendo-se os juros elevados por período excessivo. Levando a percepção do mercado que os juros deverão iniciar a trajetória de queda ainda no primeiro semestre de 2024, o que pode ocorrer já na reunião de março, e poderá chegar a faixa 4,00% - 4,25%a.a. até o final do ano. Não deixando de acompanhar a evolução do mercado de trabalho e o ritmo de crescimento da economia, estimadas em 4,1% e 1,4% respectivamente, para o final do ano.

Já em relação a Europa, mesmo tendo ocorrido um aperto maior do que se esperava, dada a inflação mais resiliente, a redução dos juros deve também ocorrer. Observa-se pelas projeções da inflação na Zona Euro, de 3,2% em 2024 e 2,2% em 2025. Já na União Europeia, a expectativa é que a inflação fique em 3,5% em 2024 e 2,4% em 2025. Além disso, com uma expectativa de crescimento do PIB em 0,9% na União Europeia e de 0,8% na zona do euro. Devendo ganhar força devido a um menor aumento nos preços, ao aumento dos salários reais e a um mercado de trabalho ativo com a taxa de desemprego permanecendo relativamente estável em 6% em 2024 e 2025.

Quanto à economia chinesa, e dada uma expectativa de crescimento do PIB menor que no ano de 2023, de apenas de 4,6% em 2024, o governo central tende a implementar uma política fiscal proativa e uma política monetária prudente, mesmo que o endividamento excessivo no setor imobiliário seja uma preocupação. Contudo, o que parece demonstrar é que o objetivo não seria crescer a qualquer custo e sim também potencializar a estabilidade econômica na busca de superar algumas dificuldades e desafios atuais, como: a inexistência de demanda efetiva; o excesso de capacidade ociosa em alguns setores; mudanças no setor imobiliário; excesso de dívida em alguns governos locais e desconexões na circulação doméstica. E, ainda assim, pode ser uma das grandes favorecidas com esse processo de retomada global.

Ao analisar o cenário doméstico, observa-se que, mesmo com o novo arcabouço fiscal e aprovação da reforma tributária, o fiscal sempre pode produzir um risco. Demonstrando que as contas públicas são a variável mais frágil da economia brasileira. A desinflação tende a se manter, entretanto, daqui para frente, ficando mais lenta. Seja por possibilidade de queda na produção agrícola, como: pela relativa estabilidade do câmbio no patamar em torno de R$ 5,0 e do preço das commodities. Fatores que propiciam a continuidade da redução da taxa Selic ao longo do ano. Contudo, as taxas de longo prazo podem se manter ainda elevadas e dificultando a recuperação mais significativa do mercado de capitais.

A visão do mercado, é unânime, de que as ações brasileiras estão depreciadas. E que, para alguns analistas, como os do J. P. Morgan (2023), as ações brasileiras estão sendo negociadas com um desconto de 30% em relação aos mercados emergentes, tornando mais barato que demais mercados emergentes, num cenário de recuperação de lucros. Onde, se negocia a cerca de 8,5 vezes o preço sobre lucro esperado para doze meses, e um desvio-padrão abaixo da média histórica. Indo no mesmo direcionamento que os analistas do Inter (2023) onde em seu relatório recente argumentam que “Considerando que o mercado ainda está precificando a bolsa em 9x lucros, mesmo com a recente recuperação, e que nossa estimativa de lucro para 2024 é positiva, nosso Ibovespa esperado para 2024 é de 142.000 pontos”.

Já para Ferreira et al. (2023) “o Brasil continua numa posição muito favorável nesse cenário de mercados emergentes. Além das chamadas Large Caps, as ações Small Caps estão muito descontadas”. Outro ponto que não se deve deixar de levar em consideração na análise é o valuation considerado “muito descontado” ao considerar um retrospecto de 15 anos do Ibovespa. Onde: na “consideração dos múltiplos de preço sobre lucro, preço sobre valor patrimonial e EV (valor da empresa)/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) demonstra que o índice negocia muito abaixo das médias históricas para o período”. Onde, o prêmio de risco e o dividend yield do índice também se apresentam acima da média para o período, com retorno sobre patrimônio (ROE) maior que o visto no período, mesmo com a taxa de juros ainda em dois dígitos.

Já para os analistas de macroeconomia do Safra (2023) a possibilidade de uma exposição direcionada em uma estratégia de valor, focada em empresas ou setores que negociam a múltiplos baixos e que apresentam retornos elevados como petróleo e gás, siderurgia e mineração, bancos e utilidades básicas, deve continuar positiva. Sendo, portanto, setores que representam “boas opções para redução do risco de uma carteira nesse momento de maior volatilidade do mercado, que incorpora taxas de juros mais altas por mais tempo nos EUA, potencial escalada do conflito no Oriente Médio e incertezas relacionadas ao equilíbrio fiscal doméstico”. Indicando que os setores cíclicos devem apresentar os maiores crescimentos de lucro em 2024 e 2025. Na estimativa do Safra (2023), “educação, saúde, consumo, varejo e transportes devem apresentar crescimentos de lucro anual em 2024 e 2025 na média de 67,7%, 64,1%, 48,6% e 45,8%, respectivamente”.

Portanto, o grande desafio para o crescimento das ações brasileiras é o de atrair o fluxo de investidores de volta para a Bolsa.  

Ricardo Coimbra
é Mestre em Economia UFC/Caen; Conselheiro APIMEC Brasil; Conselheiro Corecon-Ce; Certificado CNPI; e Acadêmico ACE.
ricardo.coimbra@gmail.com


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