Tecnologia

LITERACIA EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL APLICADA A NEGÓCIOS

“A Literacia em Inteligência Artificial refere-se à capacidade e conhecimento para entender, utilizar e interagir de forma eficaz com a inteligência artificial (IA). Ao aprender se comunicar corretamente com a inteligência artificial, seremos capazes de extrair melhores resoluções para problemas que inicialmente pareciam complexos."

Embora a IA não seja uma tecnologia nova, para muitos usuários comuns (como eu) – a tecnologia se transformou numa ferramenta poderosíssima. Não obstante, me arisco em dizer que uma das maiores organizações do mundo, a OpenAI, democratizou o uso desta ferramenta.

Quando se trata de produção de conhecimento, ao longo de milhares de anos e até os dias atuais, este processo tem sido predominantemente fruto das mentes humanas mais brilhantes e inovadoras. Afinal, já tivemos Aristóteles e hoje temos Pondé, entretanto, com o avanço acelerado e contínuo da Inteligência Artificial e sua crescente habilidade para criar textos coerentes e articulados, torna-se cada vez mais desafiador discernir quais conteúdos são frutos da criatividade humana e quais são gerados por máquinas.

Com o aumento exponencial do interesse e da “democratização” da IA, temos inúmeras ferramentas capazes de interagir e dar respostas infinitamente mais rápidas, e que fazem o bom uso da IA generativa. Dentre elas, temos algumas:

  • DALL-E;
  • Midjourney;
  • Github Copilot;
  • Jasper;
  • Bing Chat;
  • Google Bard; e
  • O “famosinho” ChatGPT.

Com efeito, surge uma “faculdade” necessária para nós usuários desta tecnologia, a tal Literacia em Inteligência Artificial (IA).

Estudiosos do Institute of Technology na Georgia, definem a literacia em Inteligência Artificial (IA) como «um conjunto de competências que permitem aos indivíduos usarem o seu sentido crítico para avaliar, comunicar, colaborar e usar a IA no seu quotidiano de forma consciente.

O desafio
No meio acadêmico, a adoção de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) é uma realidade consolidada e sua utilização parece irreversível. As discussões jurídicas globais em torno da temática de IA, mesmo que pareçam sem fim, certamente terão uma conclusão plausível e devem se consolidar ao longa da evolução das ferramentas.

Contudo, nos domínios dos negócios, governança, compliance, ESG (Environmental, Social, and Governance), finanças e outras áreas, a aplicação prática da literacia em IA exige uma abordagem um pouco mais especifica.

O desafio está em evoluir de meros usuários com conhecimento básico para se tornarem usuários inovadores e ativos, capazes de construir até mesmo uma “biblioteca” avançada através do uso efetivo da IA. Isso envolve não apenas a compreensão técnica, mas também a habilidade de aplicar todo o conhecimento construído ao logo de toda sua vida, e aplicá-lo de forma estratégica e criativa.

Como usar a literacia na prática em negócios
Você certamente já ouviu falar que o “segredo do ChatGPT está em como perguntamos”. Exatamente, é exatamente isto! Se você já experimentou a ferramenta ChatGPT ou ferramenta similar, certamente percebeu características interessante, como respostas incorretas, equivocadas etc. Mas será que isto está ligado somente a uma falha da ferramenta ou está ligado a como requeremos?

Ferramentas como o ChatGPT e similares utilizam processamento de linguagem natural, imitando a maneira como um ser humano escreveria, proporcionando respostas que parecem ser redigidas por uma pessoa efetivamente. Neste sentindo, reunir algumas competências para formular a pergunta apropriada torna-se essencial para obter as respostas mais precisas e relevantes.

Mas quais competências?
Há pelo menos dezesseis competências iniciais listadas por autores norte-americanos, que parecem bastante apropriadas, a saber: 

  1. Reconhecimento da IA - Distinguir artefatos tecnológicos que usam dos que não usam IA.
  2. Compreensão da inteligência - Distinguir inteligência humana, animal e de máquina.
  3. Interdisciplinaridade - Reconhecer que existem muitas maneiras de conceber e desenvolver máquinas «inteligentes».
  4. Geral x Estreita - Distinguir entre IA geral (AGI) e IA estreita (ANI).
  5. Pontos fortes e fracos da IA - Identificar os problemas em que a IA se destaca e os que são mais desafiadores para a IA.
  6. Imaginar o futuro da IA - Imaginar possíveis aplicações futuras da IA considerando os seus efeitos no mundo.
  7. Representações - Entender o que é uma representação do conhecimento.
  8. Tomada de decisão - Reconhecer como os computadores raciocinam e tomam decisões.
  9. Etapas da Aprendizagem de Máquina - Entender as etapas da aprendizagem de máquina e as práticas e desafios que cada etapa envolve.
  10. Papel Humano na IA - Reconhecer que os seres humanos desempenham um papel importante na programação, na escolha de modelos e na afinação dos sistemas de IA.
  11. Literacia de Dados - Entender os conceitos básicos de literacia de dados.
  12. Aprender com dados - Reconhecer que, geralmente, os computadores aprendem com os dados.
  13. Interpretação crítica de dados - Entender que os dados não podem ser tomados como um valor absoluto e requerem interpretação.
  14. Ação e reação - Entender que alguns sistemas de IA têm a capacidade de agir e reagir fisicamente sobre o mundo.
  15. Sensores - Entender que os computadores percebem o mundo usando sensores; identificar sensores em diversos dispositivos; reconhecer que diferentes sensores suportam diferentes tipos de representação e raciocínio sobre o mundo.
  16. Ética - Identificar e descrever diferentes perspectivas sobre as principais questões éticas em torno da IA.

Observe que, das dezesseis competências mencionadas, ao menos oito estão diretamente integradas às atividades empresariais. Este fato nos convida a uma reflexão crucial: Se ainda não nos familiarizamos em relação à nova dinâmica evolutiva do cenário dos negócios, isso pode indicar que estamos um passo atrás na evolução do ambiente de negócios atual?

Será que estamos verdadeiramente prontos para fomentar um cenário que seja genuinamente propositivo, inovador e inclusivo, abraçando novas tecnologias e tendências não apenas nas estruturas organizacionais, mas também na capacitação e desenvolvimento das pessoas que compõem estas organizações? Pense e haja sobre isto!  

Glades Chuery
é diretora da Taticca Allinial Global Brasil; e coordenadora do GT de Mulheres IBRI.
glades.chuery@taticca.com.br


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