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Há algum tempo, tenho participado de iniciativas para promover a diversidade nas organizações, em especial, em posições executivas e em Conselhos de Administração.
Nos últimos anos, diversas ações têm trazido uma contribuição relevante para conferir a necessária visibilidade ao tema e para que medidas efetivas sejam adotadas. Destaco o surgimento de instituições voltadas para a promoção da agenda de Diversidade, Equidade e Inclusão, a inserção do assunto na pauta educacional das universidades e outras entidades de ensino, e a constituição de Comitês nestes segmentos na estrutura de governança corporativa das corporações.
No campo regulatório, também ocorreram avanços importantes, tanto nas exigências informacionais e de maior transparência em relação à composição dos conselhos e diretorias, quanto na definição quantitativa e com prazos estabelecidos para uma representação mais igualitária nessas instâncias.
Não faltam medidas robustas que visam demonstrar os benefícios proporcionados na tomada de decisões, definições estratégicas e na gestão quando temos múltiplas vozes, visões, formações e experiências aportadas em um órgão colegiado. Era de se esperar que todas essas convicções e ações trouxessem velocidade considerável para alcançarmos o equilíbrio de gênero na composição desses organismos.
Ao olharmos a evolução da equidade de forma ampla, há um avanço razoável no nível mais elevado de governança (Novo Mercado) das companhias listadas, de acordo com o Relatório de Equidade de Gênero na Bolsa de Valores (B3). Entretanto, quando voltamos a análise para os demais níveis (1 e 2), o percentual de presença de mulheres decresce significativamente, denotando, ainda, a necessidade de urgente ajuste e que ainda há um longo caminho pela frente.
Comprovadamente, a diversidade decorrente de uma maior representatividade feminina nos conselhos e em posições executivas tem proporcionado diversos ganhos qualitativos nas organizações que se encontram em um estágio de governança corporativa mais adiantado. Valores inegociáveis como ética, propósito, sólidos princípios e habilidades de gestão de riscos, pessoas e processos se potencializam em empresas mais diversas, construindo um mosaico multifacetado e multicolorido em torno de suas estratégias.
Mesmo com a relevância da equidade de gênero cada vez mais disseminada, ainda há uma insistência na obtenção de dados quantitativos e comparativos para mostrar se há, de fato, um melhor desempenho financeiro das empresas que contam com maior pluralidade em sua administração. Esse tipo de métrica jamais seria solicitada em instituições predominantemente masculinas.
De qualquer forma, são dados que sustentam os argumentos da importância da multiplicidade. Já temos informações que atestam que empresas geridas levando em consideração a diversidade e a inclusão como fatores essenciais de agregação de valor, juntamente com aspectos meritocráticos, obtêm resultados financeiros superiores, mitigam melhor os riscos e têm colaboradores mais satisfeitos.
Fazendo um paralelo além do setor organizacional, não poderia deixar de citar os recentes aprendizados da evolução da justiça e da igualdade nos Jogos Olímpicos, que culminou com a edição de 2024 em Paris como a primeira com maior participação feminina e equidade de gênero, depois de uma longa e árdua jornada.
Na Grécia Antiga, em 776 a.c., ano em que aconteceu a primeira Olimpíada, somente os homens competiam e, mesmo na era moderna iniciada em 1896, essa condição foi mantida. A inclusão feminina na competição internacional foi lenta e gradual em poucas modalidades até que, finalmente, em 2012, na edição de Londres, elas puderam participar de todas as modalidades esportivas.
As brasileiras começaram a competir somente em 1932, mesmo ano em que adquiriram o direito ao voto. Com a integração de novos esportes, a presença feminina na nossa delegação também cresceu gradualmente. Neste ano, pela primeira vez, as mulheres foram maioria na equipe do Brasil, sendo responsáveis por ganhar número superior de medalhas (12 das 20) e pelas únicas medalhas de ouro conquistadas, na ocasião.
Beatriz Souza, Rebeca Andrade, Ana Patrícia e Duda. Quatro mulheres, três delas negras, levaram o Brasil ao lugar mais alto do pódio. Considerando a disputa da medalha de bronze por equipes mistas no judô, com igual participação de ambos os gêneros, foi também Rafaela Silva, mulher negra, que garantiu a vitória.
Quantos de nós, homens, não passamos as manhãs torcendo para que essas mulheres incríveis, obstinadas e inspiradoras conquistassem aquilo pelo qual tanto se dedicaram e persistiram? Torcemos muito! E elas chegaram lá. Seja no esporte ou no mercado corporativo, será que continuaremos questionando o quanto de resultado elas são capazes de gerar? Quais são os diferenciais que elas podem aportar num ambiente competitivo? Quantos anos mais serão necessários? Quantos pódios ainda terão que ser alcançados, para compreendermos a beleza da multiplicidade e da igualdade e a riqueza do que proporcionam?
Não podemos ter mais nenhuma dúvida sobre isso e não devemos ficar na arquibancada somente torcendo: é preciso agir.
Cacá Takahashi
é membro do Conselho Consultivo do 30% Club. Com formação em Direito Empresarial pela USP, especializou-se em Gestão Pública pela FGV e Administração Pública pela JICA. Atualmente é Chairman da BlackRock Brasil.
30percentclubbrazil@30percentclubbrazil.org