Mercado de Capitais

RELATÓRIOS DE ANÁLISE INDEPENDENTE

As casas de análise independentes, modelo de prestação de serviços de informações financeiras e recomendações de ativos, com foco no investidor pessoa física, vem registrando significativa expansão, sobretudo este ano. O modelo surgiu no Brasil com o movimento de “desbancarização” desses investidores, que estão indo ao mercado por conta própria em busca de melhores rentabilidades, passando a consumir mais informações e recomendações financeiras também independentes.

Só no mês passado, duas novas firmas anunciaram sua entrada neste mercado: Nord Research e Investmind. O número total de casas de análise independentes ainda não está devidamente contabilizado e deverá estar mais visível depois da entrada em vigor da regulamentação específica do segmento, editada em maio pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), através da Instrução 598, prevista para começar a vigorar no final deste mês de setembro.

Pela instrução 598, passa a ser obrigatório o credenciamento de analistas de valores mobiliários constituídos sob a forma de pessoas jurídicas, o que abarca as casas de análise independentes. Antes a regulamentação atingia apenas a pessoa natural - ou seja, a pessoa física responsável por análises de mercado e recomendações aos investidores.

Apesar dos perfis diferenciados desses prestadores de serviços, todos estarão sujeitos às determinações da nova regulação.

Por enquanto, apenas a Empiricus está se opondo à regulamentação e, assim como foi pioneira na atuação nessa seara de relatórios financeiros independentes, também poderá ser a primeira a deixar esse segmento, que se consolida com a regulação.
 
De acordo com a definição de seu CEO, Caio Mesquita, a Empiricus é uma editora digital que vende conteúdo. Sendo assim, deve ser regulada pela legislação do mercado editorial e não do mercado de capitais. Na opinião dele, qualquer outra interpretação deve ser considerada limitação de conteúdo, o que é censura.

Segundo comunicado enviado aos assinantes, a Empiricus informou que, com base em pareceres obtidos a partir de consultas à renomados juristas do mercado de capitais, como Modesto Carvalhosa e Ary Oswaldo Mattos Filho, seus sócios vão pedir o cancelamento de seus Certificados Nacionais de Profissional de Investimento (CNPI), concedidos pela Apimec.

A postura da Empiricus recebeu várias e pesadas críticas. Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Ideias de Investimento, por exemplo, comparou a decisão de não acatar a regulamentação da CVM ao comportamento do ex-presidente Lula perante a sua condenação na justiça.

Segundo ele, “a estratégia da maior empresa de análise independente é se colocar contra a regulamentação da CVM e da Apimec com o argumento de que essas regras seriam censuras. Isso é no mínimo tão vergonhoso quanto chamar Lula de preso político”.

De modo geral, o entendimento foi de que a regulamentação, que contou com o apoio da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), responsável pela autorregulação do setor e dos analistas de ações, vai dar segurança jurídica aos consumidores de serviços de informação.

Para o vice-presidente da Apimec Nacional, Eduardo Werneck, a nova regulação também vai aumentar as regras de conduta para inibir conflitos de interesse e a responsabilidade no trabalho de análise de investimentos. Além disso, contribuirá para a continuidade da expansão desses prestadores de serviço, o que é bom para os investidores e para o mercado de trabalho de Analista.

As casas de análise também prestam serviços de informação financeira para pequenos gestores de investimento, que ficaram órfãos com a redução da divulgação de análises de mercado pelas corretoras e bancos de investimento, decorrente da crise econômica, observam fontes do setor.

Investigação e punição
A regulamentação também veio no bojo de reclamações dos consumidores, sobretudo com relação à qualidade da informação. De acordo com Vera Simões, gerente de acompanhamento de investidores institucionais da CVM, o órgão regulador tem recebido várias reclamações e já abriu uma série de processos de investigação, que estão em andamento e sob sigilo.

Segundo ela, se condenados, os investigados poderão sofrer punições que vão desde multa até a inabilitação, no caso de analistas credenciados. Os não credenciados podem ser alvo de deliberações de “stop order”, que se não cumpridas serão punidas com multa diária.

A instrução CVM 598 também determina a retificação ou a cessação da divulgação de comunicações de cunho institucional e publicitário, que apresentem incorreções ou impropriedades que possam induzir o investidor a erro.

Embora a continuidade da expansão das casas de análise não dispense a retomada do crescimento econômico, a tendência é de alta, na maioria das opiniões. E, por motivos que vão desde a “desbancarização” até as novas diretrizes regulatórias adotadas pelo mercado europeu (MIFID II), que entraram em vigor no início deste ano, que poderá acarretar uma redução da cobertura de empresas não europeias pelos analistas europeus.

Na avaliação de Adeodato Volpi Netto, estrategista-chefe da Eleven, que está no mercado desde 2015, podemos ter um grande crescimento durante os próximos cinco à oito anos, dependendo do que virá depois das eleições. Para ele, o mercado brasileiro de investimentos “está apenas engatinhando”, o que significa que tem potencial de expansão de “gente grande”.
 
Rotulando-se como um otimista Eduardo Werneck, da Apimec, afirma que no momento o mercado de ações, que costuma antecipar tendências, está apontando para uma continuidade da retomada do crescimento econômico. “O crescimento do setor estará intimamente ligado à retomada da economia. E, é a economia que vai ditar o crescimento”.
 
Na avaliação de Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, ainda há muito espaço no mercado para empreendedores comprometidos com recomendações responsáveis. A analista, que trabalhou na Empiricus, observa que, no caso da Nord a preocupação é muito mais com a perenidade da atuação do que com o crescimento rápido. “Vemos na empresa um projeto de vida”, afirma.

Segundo Roberto Attuch Jr, fundador e CEO da Investmind, o MIFID II proibiu que o serviço de research seja remunerado a partir de corretagem, como era feito anteriormente. Na avaliação dele, esse o modelo deve se espalhar para o resto do mundo, abrindo espaços para a entrada de novos players na prestação de analises de mercado de empresas europeias para investidores estrangeiros.
 
Investmind permitirá trabalho remoto
A Investmind está colocando no mercado uma plataforma que funcionará como uma espécie de Uber na prestação de serviços de informação. Vai conectar via web o cliente ao produtor da análise de mercado, através de uma plataforma de trabalho. “Com o sistema, os analistas poderão trabalhar remotamente. A plataforma proverá as ferramentas que ele precisa para trabalhar fora do eixo onde a informação é produzida”.

Segundo Attuch, o universo de clientes da plataforma é bem vasto, de investidores individuais à gestores de investimentos que ficaram órfãos de research, com redução do serviço pelas corretoras. Para os clientes, o diferencial do serviço será o acesso ao conhecimento sem viés, sem conflito de interesse, e com qualidade da informação, observa.

Para atender esse objetivo, a Investmind fez parcerias com diversas corretoras. Além disso, estabeleceu um processo seletivo, que exigirá CNPI dos produtores de conteúdo, e remuneração por tipo de serviço prestado. A plataforma vai oferecer duas categorias de produtos: relatórios, que poderão ser adquiridos através de assinatura mensal e produtos sob encomenda.

O cliente poderá assinar um determinado relatório ou um pacote. Conforme Attuch, serão relatórios curtos com recomendação de investimentos nos diversos ativos que estão no mercado, informações setoriais e macroeconômicas. Os produtores desse tipo de conteúdo serão remunerados por até 50% da receita da Investmind, que serão distribuídos de acordo com avaliação dos relatórios pelos clientes.

Eleven mira classe A e B
A Eleven, cuja meta é crescer mais de 100% ao ano nos próximos três anos, é uma sociedade anônima e seu posicionamento é um pouco distinto das demais casas não apenas na sua estrutura organizacional, que é similar a de um banco de investimento americano, mercado onde pretende atuar, como também no perfil de clientes.
 
“Somos uma sociedade anônima e temos até área de RI e nosso foco não é o investidor que vai dar o primeiro passo no mercado”. Segundo Volpi Netto, a Eleven busca o varejo de alta renda (classe A e B), ou seja, de investidores mais preparados, que já tem portfólio e querem um serviço que esteja alinhado com seus objetivos de vida.

O objetivo da empresa é ter dois terços de clientes institucionais e um terço de pessoas físicas. Os clientes pessoas físicas devem ficar em torno de 50 mil nos próximos dois anos. Em 2017, 90% de suas receitas vinham de pessoas físicas. Este ano anualizando o primeiro trimestre esse percentual fica entre 45% e 50%.
 
A Eleven trabalha com analistas de todos os setores. Conforme Volpi Netto, essa prática dá a empresa sólido nível de especialização e de critérios nas análises. “Nossos relatórios não contam histórias ou fazem apelos emocionais”. Além disso, toda a sua equipe de analistas tem CNPI.

Nord Research quer perenidade
Inaugurada em agosto último, e integrada por profissionais com mais de quinze anos de experiência em análise de mercado, a Nord Research tem como objetivo oferecer produtos com estratégia de investimentos comprovada e não produtos da “moda”. Seu público alvo será o investidor que quer dar os primeiros passo no mercado de investimentos.

Segundo a sócia Marilia Fontes, a meta da Nord é ter 20 mil clientes em dois anos. Ela observa que a casa começa trabalhando com 200 fundadores, clientes que darão feedback e terão acesso a todas análises geradas pela casa e às futuras publicações. Nos últimos anos, os sócios da Nord tiveram contato com mais de 100 mil investidores e conseguiram conquistar uma audiência relevante, ressalta ela.

A vitrine dos produtos serão as redes sociais e a mídia de modo geral. A comercialização será feita através de assinatura mensal. A casa comercializará informações com recomendações de investimento em títulos públicos e crédito privado; identificação de melhores oportunidades de investimento de longo prazo em ações e avaliação de oportunidades de alto potencial de retorno em investimento de risco, como reestruturações, fusões e aquisições, ativismo e governança.

Levante divulga boletim diário
A Levante é uma plataforma de investimentos voltada para pessoas físicas que desejam diversificar seu portfólio. Seu foco é fornecer relatórios de ações, dividendos, fundos de investimentos, tesouro direto, além de boletins diários voltados exclusivamente para quem é pouco familiarizado com o mundo dos investimentos.

Disponibiliza gratuitamente a parte do conteúdo que destaca as melhores oportunidades do mercado e dá subsídios para a tomada de decisão. A Levante acaba de lançar o seu novo produto, a Carteira Levante, relatório que recomenda os melhores ativos disponíveis no mercado com objetivo de alcançar pelo menos 120% do CDI.

As recomendações descritas na carteira Levante abrangem quais ativos investir, o momento certo para entrar e, o mais importante, a hora exata para sair e capturar o melhor resultado possível. “É uma solução completa de investimentos com tudo que o investidor precisa saber para levar a vida a um outro patamar financeiro”, afirma seu estrategista-chefe, Rafael Bevilacqua.

Empiricus: pioneira em publicações financeiras independentes
Fundada em 2009, com foco no público de investidores pessoa física, a Empiricus logo impactou o mercado com sua abordagem diferenciada e padrão de marketing até então inexistente na prestação de serviços de informações financeiras e análises de mercado independentes: uma linguagem mais coloquial e apelos incisivos para atrair a atenção dos investidores, inclusive com recomendações de ativos novos e não convencionais.

Com um marketing agressivo, a Empiricus lançou-se em todas as mídias, marcando presença diuturna nas mídias digitais e redes sociais. Atualmente impacta diariamente mais de um milhão de pessoas. Segundo Caio Mesquita, CEO da Empiricus, o sucesso da empresa deve-se ao “nosso alinhamento com o assinante que é nossa única e exclusiva fonte de receita”. Atualmente a Empiricus conta com 200 mil assinantes, acrescenta.

O diferencial da Empiricus no mercado também é atribuído ao seu conteúdo, à qualidade e à liberdade de seus colaboradores de escreverem o que pensam e darem sugestões de investimentos conforme suas convicções, gerando valor com suas ideias. Atualmente a Empiricus tem 200 colaboradores, destaca Mesquita.

O crescimento no mercado levou a Empiricus a reformular sua organização social, com a criação da Acta Holding, que abriga também outros três produtos de conteúdo: a Inversa, que também publica informações financeiras, a Jolivi, voltada para informações sobre saúde e medicina natural e O Antagonista, focado em informações políticas.

Com relação a sua classificação para efeitos regulatórios, a Empiricus se define como uma produtora de conteúdo e, portanto, ligada a legislação do setor editorial e não a do mercado de capitais. Essa posição levou a empresa a confrontar as determinações da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), regulador do mercado de capitais. Recentemente seus colaboradores credenciados como analistas de mercado, pediram o descredenciamento. A medida é um passo para ficar fora da aba Instrução CVM 598, editada especificamente para regular a atuação de prestadores de serviços de informações financeiras e análises de mercado.
 
A criação da Empiricus foi inspirada na empresa norte-americana The Agora, de quem se tornou sua sócia em 2013. Fundada em 1978 por Bill Bonner, lendário investidor e autor de livros e artigos sobre assuntos econômicos e financeiros, a The Agora também vem expandindo sua atuação. Desde 2016, representa uma rede privada para empresas que publicam pesquisas financeiras, de saúde, viagens e análises, além de livros e boletins de interesse especial.

Respondendo sobre noticias publicadas na mídia, de que a sócia americana respondeu a processos na justiça dos EUA e da SEC (Securities and Exchange Commission), reguladora do mercado de capitais americano, o CEO da Empiricus disse que “até onde sabe a The Agora não tem processos relevantes”.


Continua...