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Frequentemente recebo e-mails com questões sobre a atuação do planejador financeiro. Algumas pessoas querem saber quando e como contratar este profissional, outros perguntam como se tornar um planejador financeiro. Infelizmente, também há aqueles que relatam problemas que enfrentaram após contratar um desses profissionais.
Antes de responder as principais dúvidas, é importante esclarecer que o trabalho de um planejador financeiro é semelhante ao de um médico. Assim como alguém consulta um clínico quando tem problemas de saúde, deve procurar um planejador quando tem algum problema financeiro. Mas, não é preciso esperar ter problemas para procurar um profissional. Muitas vezes a ação preventiva é o melhor caminho, tanto para a saúde física quanto para as finanças.
O planejador financeiro é um profissional que está qualificado para orientar seus clientes a gerenciar suas finanças pessoais, a administrar recursos e a elaborar um planejamento financeiro individual e familiar. Ele tanto pode trabalhar de forma independente quanto ser vinculado a alguma instituição financeira.
Trata-se de uma carreira nova no Brasil, porém o número de planejadores certificados pela Planejar (antigo Instituto Brasileiro Certificação de Profissionais Financeiros), já ultrapassa os 3 mil. A Planejar atua no Brasil sob licença do Financial Planning Standards Board Ltd. (FPSB), órgão que regula a atuação dos planejadores financeiros em todo o mundo.
A Planejar certifica profissionais por meio de rigorosos testes nas áreas de administração de investimentos, gerenciamento de riscos, previdência complementar, seguros, planejamento financeiro, fiscal e sucessório. Além de realizar as provas, a Planejar fiscaliza a atualização e a atuação dos profissionais certificados, exigindo a adesão e o fiel cumprimento do código de ética.
Embora não seja obrigatória para a atuação como planejador financeiro, a certificação é altamente recomendável. A Planejar zela pelo comportamento ético dos associados, o que proporciona certa tranquilidade para o cliente ao contratar o profissional.
O planejador financeiro pode ajudar a sair de uma crise financeira, a fugir do endividamento excessivo, a planejar a vida financeira dos noivos antes do casamento, assim como os casais na hora da separação e as famílias que querem constituir fundos para o estudo dos filhos e para a aposentadoria. Enfim, é o profissional que ajuda as pessoas a melhorar a relação com o dinheiro.
A maioria dos planejadores financeiros certificados é empregada de bancos e gestoras de recursos e normalmente atua nos segmentos private de tais instituições. O nome para este serviço é diferente dependendo do banco, mas em geral atende clientes de renda mais elevada. Felizmente, cresce bastante o número de planejadores financeiros que atuam de maneira independente.
Para contratar um planejador financeiro certificado, o interessado conta com uma lista dos profissionais e seus respectivos campos de atuação no site: www.planejar.org.br. Após entrar em contato, é fundamental definir claramente a forma de relacionamento entre o planejador e o cliente, o que inclui estabelecer a forma como o profissional será remunerado pelo serviço.
O código de ética estabelece que o planejador financeiro deva fornecer ao cliente uma declaração indicando detalhadamente suas fontes e a forma de remuneração. O tradicional é que o cliente pague um valor fixo pelo tempo de trabalho do profissional, mas ele também pode ser remunerado pela venda dos produtos de alguma instituição financeira. Nesse caso, o cliente precisa ser claramente informado para evitar possíveis conflitos de interesse.
Depois de definida a forma de remuneração e a sistemática do trabalho, o planejador procurará definir o perfil do cliente, entendendo a situação financeira atual e a desejada. Sabendo onde o cliente está e aonde quer chegar, o profissional vai traçar um planejamento financeiro em conjunto com o cliente e sua família.
Com o planejamento em mãos, o cliente deverá por conta própria buscar atingir as metas traçadas. De nada adianta um excelente planejamento se o cliente e a família não tiverem força de vontade para cumprir o planejado. Porém, de forma alguma o planejamento é apenas uma forma de cortar gastos.
O bom planejamento ajuda o cliente a gastar melhor seus recursos e a poupar parte do que ganha para ter tranquilidade e paz de espírito para aproveitar a vida e se preparar para a aposentadoria. Um bom planejamento ajuda a transformar sonhos em metas, tornando-os possíveis de serem realizados.
A identificação da situação do cliente e a elaboração do planejamento costumam demandar dois ou três encontros entre o planejador e a família. Em casos mais complexos, o trabalho poderá demandar mais tempo. É aconselhável que o cliente retorne ao planejador financeiro a cada ano para acompanhar o andamento da situação e, eventualmente, fazer ajustes.
Um dos principais problemas na relação entre clientes e planejadores financeiros acontece com o chamado “rebate”, que é um percentual das taxas de administração que algumas instituições pagam para os agentes que captam clientes. Quando o planejador financeiro é remunerado pelo rebate, ele pode se tornar mais interessado na remuneração do que na rentabilidade dos investimentos para o cliente.
A remuneração pela chamada taxa de sucesso, que acontece quando o planejador ou gestor supera determinadas barreiras, como o CDI ou o Ibovespa, também podem gerar problemas, uma vez que há o incentivo a assumir riscos que muitas vezes não são do interesse do cliente. A cobrança de uma taxa fixa é muitas vezes a alternativa que melhor alinha os interesses do cliente e do planejador financeiro.
Mas mesmo com a taxa fixa, nada impede que um planejador sem ética continue sendo remunerado das outras maneiras sem o conhecimento do cliente. Para evitar tal situação, o cliente pode definir claramente com quais instituições quer trabalhar. Nos grandes bancos brasileiros, e principalmente nas plataformas abertas, existem produtos que atendem aos mais diferentes perfis de aplicações. Assim, o planejador poderá aconselhar as melhores aplicações no banco ou corretora em que o cliente já atua. Quando o planejador tenta convencer o cliente a trocar de instituição em que atua é preciso atenção redobrada.
O planejador nunca deve ter acesso a senhas, assinaturas eletrônicas, procurações de amplos poderes ou acesso a valores líquidos dos recursos do cliente. Se algum planejador pedir ou aceitar tais incumbências, receba como um claro indicador de futuros problemas. Entretanto, é bastante aconselhável que o planejador tenha liberdade para conversar com o gestor de conta do cliente, para que possam juntos discutir estratégias e características dos produtos a serem escolhidos.
A elevada demanda pelo trabalho dos planejadores certificados no Brasil tem atraído muitas pessoas para a profissão. O campo de trabalho é vasto e o número de profissionais deve crescer muito. Apenas para comparação, nos Estados Unidos existem mais de 76 mil planejadores certificados.
Existem cursos e programas de pós-graduação que preparam o profissional para prestar as provas, mas as aulas não dispensam os rígidos exames. Se aprovado, o planejador deverá comprovar anualmente que está se atualizando e agindo com ética no relacionamento com os clientes.
No futuro, será tão comum alguém procurar um planejador para ajudar nas finanças quanto hoje é corriqueiro buscar um médico para fazer tratamentos de saúde.
Jurandir Sell Macedo
é doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
jurandir@edufinanceira.org.br