A fase romântica e do sensacionalismo acabou! As práticas sustentáveis continuam essenciais, mas devem estar firmemente aliadas a resultados concretos.
O Novo Paradigma do ESG
Nos últimos anos, o conceito de ESG (ambiental, social e governança) emergiu como uma força transformadora no cenário empresarial global. Originalmente impulsionado por um idealismo focado em "salvar o planeta", o movimento ESG tem sido caracterizado por um entusiasmo quase romântico em torno da sustentabilidade e da responsabilidade corporativa. Empresas e investidores adotaram práticas ESG como um emblema de progresso ético e ambiental, muitas vezes sob a pressão de campanhas públicas e demandas de consumidores por uma maior transparência e comprometimento com o bem-estar planetário.
Contudo, um novo momento está sendo desenhado para o ESG, marcado por uma mudança substancial em direção a uma abordagem mais pragmática e focada em resultados. A realidade atual, especialmente nos Estados Unidos, revela um cenário onde práticas ESG estão sendo recalibradas para se integrar mais estreitamente às operações e estratégias corporativas, alinhando-se com os objetivos de negócios e resultados financeiros.
Em suma, o ESG está evoluindo de uma bandeira de idealismo para uma prática empresarial essencial, alinhada com a realidade pragmática dos negócios. Este novo momento exige dos conselheiros uma liderança informada e estratégica, capaz de navegar pelas águas, às vezes turbulentas, da gestão sustentável e responsável.
A Mudança de Cena nos EUA
O cenário dos Estados Unidos em 2023 ilustra vividamente as mudanças em curso em relação ao ESG, onde legislações e políticas estão sendo revisadas e, em muitos casos, redefinidas. O início do ano testemunhou uma enxurrada de ações legislativas e regulatórias em nível estadual, visando explicitamente o papel do ESG nos investimentos e decisões empresariais. Desde janeiro, mais de 150 projetos de lei e resoluções com foco anti-ESG foram apresentados em 37 estados. Contudo, uma grande parte dessas medidas falhou em ser aprovada, refletindo uma resistência significativa a uma rejeição total dos princípios ESG.
Esse movimento de resistência, no entanto, não é uniforme. A pressão política sobre o ESG, liderada por políticos republicanos, resultou em ações legais e campanhas de alto perfil contra líderes da indústria que promovem ESG. Empresas financeiras e ativistas que desafiam as empresas sobre suas práticas de sustentabilidade enfrentaram um crescente contra-ataque em 2022, evidenciado pela postura crítica de vários estados, como Texas e Florida, que acusaram grandes gestores de fundos, como BlackRock, de "boicotar" empresas de combustíveis fósseis.
Nesse contexto polarizado, o Vanguard Group, um dos maiores gestores de fundos mútuos do mundo, retirou-se da iniciativa Net Zero Asset Managers (NZAM), citando a necessidade de demonstrar sua independência. Essa ação sublinha a tensão crescente entre os objetivos de investimento ESG e as pressões políticas que buscam restringi-los.
Diante dessas mudanças, é imperativo que as empresas e seus conselheiros reconheçam a necessidade de uma abordagem mais pragmática ao ESG. A integração do ESG às práticas corporativas normais, alinhada aos objetivos de negócios e resultados financeiros, não apenas atende às exigências regulatórias e às expectativas dos stakeholders, mas também posiciona as empresas para um sucesso sustentável no longo prazo.
Do Romantismo à Realidade
A trajetória do ESG nos últimos anos reflete uma jornada do idealismo romântico para uma integração mais pragmática e focada em resultados dentro das práticas corporativas. Inicialmente, o movimento ESG foi impulsionado por uma visão quase utópica de transformação social e ambiental, onde as empresas eram incentivadas a adotar práticas sustentáveis como um fim em si mesmo, muitas vezes sem uma clara conexão com os resultados financeiros ou a eficácia operacional.
Essa abordagem idealista, embora nobre em suas intenções, enfrentou desafios práticos significativos à medida que empresas e investidores começaram a buscar uma compreensão mais concreta do impacto do ESG nos resultados financeiros e na sustentabilidade a longo prazo das operações. A necessidade de alinhar as práticas de ESG com os objetivos de negócio e os resultados financeiros tornou-se cada vez mais evidente.
Nesse contexto, o ESG começou a ser visto sob uma luz diferente, não mais como uma série de metas altruístas desconectadas da realidade corporativa, mas como um conjunto de práticas integradas que podem impulsionar a inovação, a eficiência e, por fim, o sucesso financeiro. As empresas começaram a perceber que a adoção de práticas sustentáveis não apenas beneficia o meio ambiente e a sociedade, mas também pode levar a uma vantagem competitiva, melhorar a reputação da marca e atender às crescentes demandas dos consumidores e investidores por responsabilidade corporativa.
A qualidade total e o movimento 5S, por exemplo, oferecem um paralelo útil. Assim como essas práticas de gestão se tornaram fundamentais para a eficiência operacional e a satisfação do cliente, o ESG está se tornando uma parte essencial da estratégia corporativa. A ênfase na qualidade, que começou como uma série de iniciativas e campanhas específicas, evoluiu para se tornar uma expectativa padrão em todas as operações. Da mesma forma, o ESG está se movendo para além das campanhas promocionais e se tornando uma parte integrada da gestão empresarial, com um foco claro nos resultados tangíveis e na criação de valor de longo prazo.
Este novo paradigma do ESG reflete uma maturidade crescente na abordagem das empresas à sustentabilidade e responsabilidade social. As práticas de ESG, longe de serem um conjunto de metas idealistas, são agora reconhecidas como práticas óbvias que permitem a uma empresa ser mais bem administrada, mais inovadora e mais resiliente aos desafios do futuro. Este é um momento decisivo para o ESG, à medida que se torna uma prática empresarial normalizada, profundamente enraizada nas estratégias de negócios e operações cotidianas.
ESG: Uma Prática Óbvia para o Sucesso Empresarial
É importante reconhecer que o ESG está se consolidando como uma prática óbvia para qualquer empresa que busca prosperar em um mercado cada vez mais consciente e exigente.
As práticas de ESG oferecem uma estrutura para as empresas se tornarem mais resilientes e adaptáveis às mudanças globais. Por exemplo, a gestão ambiental eficaz pode ajudar a empresa a reduzir custos através da economia de recursos e da eficiência energética. Da mesma forma, práticas sociais responsáveis podem melhorar o engajamento e a satisfação dos funcionários, resultando em maior produtividade e inovação. Além disso, a governança sólida fortalece a confiança dos investidores e stakeholders, mitigando riscos e melhorando o desempenho financeiro.
Este alinhamento do ESG com os resultados financeiros reflete uma compreensão crescente de que práticas empresariais sustentáveis e responsáveis são não apenas eticamente desejáveis, mas economicamente sensatas. Investidores e consumidores estão cada vez mais atentos ao impacto ambiental e social das empresas em que investem e das quais compram produtos ou serviços. Empresas que ignoram essa tendência correm o risco de perder relevância e valor de mercado.
A visão de que o ESG é uma prática óbvia para o sucesso empresarial é reforçada pelo reconhecimento de que as empresas que adotam essas práticas tendem a ser mais inovadoras e capazes de antecipar e responder a desafios e oportunidades futuras. O ESG, portanto, torna-se um indicador chave de uma empresa bem gerida, que não só busca lucros no curto prazo mas também assegura sua viabilidade e crescimento a longo prazo.
Para os conselheiros, essa realidade implica uma responsabilidade de guiar suas empresas na integração eficaz do ESG, assegurando que estas práticas sejam mais do que apenas uma fachada para relações públicas. Isso envolve uma compreensão profunda de como o ESG pode ser utilizado para impulsionar a inovação, melhorar a eficiência e criar um ambiente de trabalho positivo, contribuindo para o sucesso financeiro e sustentabilidade da empresa.
Em suma, o ESG está se estabelecendo como uma parte intrínseca e indispensável da gestão moderna, uma ferramenta essencial para as empresas que desejam não apenas sobreviver, mas prosperar em um mundo em rápida mudança. A incorporação do ESG nas estratégias empresariais não é mais uma opção, mas uma necessidade para as empresas que buscam manter sua competitividade e relevância no século XXI.
Orientações para Conselheiros
Na nova realidade do ESG, conselheiros enfrentam o desafio de orientar suas empresas por um caminho que harmonize práticas sustentáveis com os objetivos de negócio e financeiros. A tarefa não é pequena, mas é essencial para garantir a prosperidade e a relevância no longo prazo. Aqui estão orientações estratégicas para conselheiros neste novo momento do ESG:
Em resumo, a nova fase do ESG exige dos conselheiros uma abordagem equilibrada e estratégica, que reconheça a importância de integrar práticas sustentáveis de maneira que contribuam para o sucesso financeiro e operacional da empresa. Através de um compromisso genuíno com o ESG, conselheiros podem guiar suas empresas para um futuro em que a sustentabilidade e o sucesso empresarial andam de mãos dadas, assegurando que a empresa não só prospere, mas também contribua positivamente para a sociedade e o meio ambiente.
ESG Como a Nova Norma
O movimento ESG está, indubitavelmente, entrando em uma nova era. Longe de ser uma moda passageira ou um conjunto de práticas isoladas, o ESG está se consolidando como uma norma operacional para empresas que desejam se posicionar de forma sustentável e responsável no século XXI. Este novo momento do ESG, caracterizado por uma abordagem mais pragmática e integrada à gestão empresarial, reflete uma evolução natural nas práticas de negócios à medida que o mundo enfrenta desafios ambientais, sociais e de governança cada vez mais complexos.
Para os conselheiros, este período representa uma oportunidade de liderar com visão e estratégia, orientando suas empresas a adotarem práticas de ESG que não apenas cumpram com regulamentações e expectativas sociais, mas que também promovam inovação, resiliência e sucesso financeiro.
No entanto, é importante reconhecer que a jornada do ESG está longe de ser concluída. Os desafios ambientais e sociais que o mundo enfrenta continuam a evoluir, e com eles, as expectativas em relação ao papel das empresas na sociedade. Assim, a integração do ESG nas práticas empresariais deve ser vista como um processo contínuo de aprendizado, adaptação e inovação.
Os conselheiros, portanto, devem permanecer vigilantes, proativos e engajados na promoção de uma abordagem de ESG que seja ao mesmo tempo ética, pragmática e alinhada com os objetivos de longo prazo da empresa. Ao fazer isso, eles não apenas garantirão a sustentabilidade e o sucesso de suas empresas, mas também liderarão pelo exemplo, mostrando como o compromisso com práticas responsáveis pode criar um futuro mais promissor para todos.
Em resumo, o ESG está se estabelecendo como a nova norma na gestão empresarial. Este é um momento decisivo para os conselheiros e suas empresas adotarem práticas que refletem não apenas um compromisso com a responsabilidade corporativa, mas também com a excelência operacional e a inovação.
Marcelo Murilo
é Cofundador e VP de Inovação do Grupo Benner, Mentor, Conselheiro, Embaixador e membro de Comissão ESG da Board Academy, membro do Conselho Consultivo Sênior do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e Especialista do Gerson Lehrman Group e da Coleman Research – Fala sobre Inovação, Governança e EESG.
marcelo.murilo@benner.com.br