Opinião

EXTERNALIDADES NA PAUTA DOS CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO

A preparação das empresas em 2025 considerará as novas normas de informações financeiras de sustentabilidade. Outro assunto também técnico que ganha contornos de estratégico, a exigir o envolvimento da alta governança.

Resultado da convergência entre diversos modelos, as normas emitidas pelo International Sustainability Standards Board – ISSB (IFRS S), internalizadas no Brasil, têm como principais objetivos: comparabilidade entre investimentos e compromissos de sustentabilidade e transparência dos seus impactos financeiros, evitando o “greenwashing” e o “greenwishing”.

Advirta-se que as IFRS S não exigem a adoção de iniciativas, investimentos ou compromissos de sustentabilidade: tratam apenas do padrão de divulgação. Contudo, é certo que a necessidade de divulgar práticas ESG (“environmental, social and governance”) acabam por sensibilizar e induzir o comportamento da alta governança das empresas pelo assunto da sustentabilidade.

No Brasil e no mundo o conteúdo ESG forma acadêmicos e profissionais técnicos e especializados. Acontece que a sua observância requer decisões estratégicas, tomadas ao redor das mesas dos conselhos de administração. Certamente, as empresas se servirão da consultoria de especialistas, mas haverá demandas diretas para os administradores. Vejam-se alguns exemplos climáticos (IFRS S2).

Deverão ser divulgados quais níveis de governança se envolvem com a emergência climática; quais estratégia e avaliação de riscos e oportunidades; quais riscos têm impactos financeiros e sua gestão; e quais os valores relacionados a objetivos e metas climáticas, exemplo: redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE). Essas informações consideram as atividades próprias da empresa (escopos 1 e 2) e da sua cadeia comercial (escopo 3), como fornecedores, clientes etc.

A conduta climática reavalia o modelo de negócio, incluindo: localização da fábrica e tecnologia industrial; matriz energética e qualidade de insumos e matéria prima; negociação e mesmo escolha de fornecedores; contratação de recursos humanos; atendimento a clientes e à comunidade do entorno etc. Além disso, assim como as contábeis, as informações financeiras de sustentabilidade exigem controles internos adequados e opinião de auditoria externa.

Ao que parece, as “externalidades” deixaram de ser assunto de nicho especializado e entraram definitivamente no planejamento financeiro e estratégico das empresas. Assunto que foi colocado diretamente na pauta dos conselhos de administração.


Edison Carlos Fernandes
é doutor em Direito pela PUC/SP, professor da FGV Direito SP, membro da Comissão de Demonstrações Contábeis da APIMEC e advogado em São Paulo.
edison.fernandes@fflaw.com.br


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Opinião

BUSCAR O LUCRO A QUALQUER CUSTO, CUSTA CARO... MUITO CARO!

Nos últimos anos, temos visto a evolução das práticas de sustentabilidade das empresas, com ressalvas, é claro. A sigla ESG (ambiental, social e governança) tomou conta da agenda dos investidores, consumidores e colaboradores das corporações, mas o momento parece ser de retrocesso com a volta da busca pelo lucro a qualquer custo.

Com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, observamos grandes corporações como o grupo Meta e a rede de fast food McDonald´s recuarem em suas práticas sociais. E a expectativa é de que todas as áreas prioritárias da Agenda ESG sejam prejudicadas.

Não há como negar que a finalidade maior de uma empresa é a geração de valor e que sua perpetuidade está relacionada ao desempenho econômico. Desta forma, a sigla ESG deve ser EESG, em que o econômico vem em primeiro lugar. Afinal, sem caixa ou retorno, não há como investir nas práticas sociais e ambientais. O problema é que o único objetivo não pode ser garantir o lucro a qualquer custo, pois a companhia acaba colocando sua imagem e marca em risco. E, com o crescimento das redes sociais, estar longe das ansiedades e exigências da população é um grande problema e pode provocar o cancelamento e boicote, mesmo que momentâneo, da marca. Aí pesa no bolso.

Há cerca de 10 anos, mais especificamente, em agosto de 2015, foram concluídas as negociações que culminaram na adoção, em setembro, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), por ocasião da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. Na ocasião, chegou-se a um acordo que contempla 17 Objetivos e 169 metas, envolvendo temáticas diversificadas de sustentabilidade que vão de questões como a erradicação da pobreza e redução das desigualdades ao crescimento econômico inclusivo. A agenda deve ser cumprida até 2030.

Desde que foram lançados os ODS, grandes corporações aderiram à agenda e melhoraram seus processos para atender as metas. Destacam-se, por exemplo, as iniciativas em busca da diversidade, equidade e inclusão que passaram a fazer parte das políticas de contratação de empresas de todos os portes. Tal política permitiu que pessoas de diversos gêneros, raças, com deficiência ou neurodiversos tivessem oportunidades no mercado de trabalho, ainda que o acesso a cargos mais elevados seja restrito.

Do lado das empresas, contratar pessoas com diferentes perfis permite que a organização entenda as particularidades de seus consumidores, ampliando a rede de atendimento, as vendas e, por consequência, o lucro. Afinal, uma marca para todos gera mais valor e mais retorno no longo prazo.

Tal fato, entretanto, começou a ser questionado e uma onda de empresas e instituições. Recente pesquisa divulgada pela Conference Board, entidade empresarial americana com mais de mil associados, mostra que metade das empresas já ajustou suas terminologias para os programas de diversidade e outras 20% consideram mudança semelhante.

A rede de fast food McDonald´s está entre as companhias que abandonaram os compromissos com os chamados objetivos de diversidade, equidade e inclusão (DEI), interrompendo as exigências de que os fornecedores assumam tais práticas. A decisão ocorre após a Suprema Corte dos Estados Unidos encerrar o uso da ação afirmativa em admissões universitárias.

A Meta também recuou de uma série de políticas nessas áreas e informou aos funcionários que eles não serão mais obrigados a entrevistar candidatos de grupos sub-representados para vagas abertas ou a buscar negócios com fornecedores diversificados. Walmart, Nissan Motors, Boeing, Ford, Toyota e Harley Davidson já seguiram o mesmo caminho. O Walmart anunciou que não usará mais parâmetros de raça e gênero para selecionar contratos de fornecimento e reduziu treinamentos sobre equidade racial. Outras companhias como Johnson & Johnson, Coca-Cola e Uber retiraram ou suavizaram, nos seus relatórios corporativos, menções a critérios de diversidade em suas políticas de remuneração.

Aqui pegamos os programas DEI como exemplo, mas o retrocesso para as décadas de 70 e 80, quando a visão era de busca pelo lucro sem escrúpulos, é nítido em diversas áreas da sustentabilidade, seja no campo social ou ambiental. A princípio, a visão é de que tais objetivos geram despesas e não lucro. Um equívoco claro quando se coloca a reputação em jogo. Rechaçar a sustentabilidade é dar tiro no pé da sociedade e das próprias companhias.

O lucro a qualquer custo, custa muito.


Valmir de Souza
é CEO da Biomob, startup especializada em soluções de acessibilidade e consultoria para projetos sociais. 
biovalmir@gmail.com


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