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O uso do ESG (Environmental, Social, and Governance) pelas empresas tem sido cada vez mais importante nas estratégias corporativas. Em um estudo de 2023 com 129 empresas que compõem o Índice de Governança Corporativa (IGC), constatou-se que 50% (65) das empresas da amostra mencionaram o ESG como métrica de remuneração. Essa métrica se destaca como um dos principais indicadores utilizados pelas empresas para a remuneração executiva, demonstrando os compromissos com metas de sustentabilidade e governança. Entretanto, nota-se que o foco do ESG está desconectado com a realidade econômico-financeira das empresas. Esse fato, pode distorcer a estratégia empresarial e gerar implicações de longo prazo na sustentabilidade econômica e perpetuidade das empresas.
O cenário atual do ESG nas empresas do Índice IGC da B3
Das 65 empresas que mencionaram ESG conforme as citações no Formulário de Referência, 49 ou 75% das empresas limitaram-se a afirmar que adotam métricas ESG sem especificar quais indicadores estão sendo utilizados para medir e analisar seu progresso ou desempenho. Essa realidade demonstra a lacuna constatada, ao mesmo tempo, sugere o nível embrionário da real aplicação e a governança dos conceitos do ESG no nosso Brasil. Não raro, empresas adotam o termo ESG como estratégia de comunicação e marketing, sem de fato promover e mitigar os impactos ambientais e sociais que seus negócios causam.
Chama atenção que somente 16 empresas, ou 12% delas detalham indicadores específicos para o uso do ESG, como: redução de emissões de CO2, reciclagem de resíduos, economia circular, eficiência energética, saúde e segurança, redução de acidentes, turnover, capacitação, atendimento a classes C, D e E, diversidade, e ratings de sustentabilidade. Sem dúvida, essas métricas são importantes e refletem a preocupação crescente de algumas empresas em diminuir seus impactos ambientais, sociais e melhorar sua governança. No entanto, percebe-se ainda alguns pontos relegados. Por exemplo, faltam indicadores de capacitação e educação, tanto internos, quantos externos, como: a capacitação de clientes e fornecedores; cursos educacionais para comunidades; benefícios para educação nos meios sociais; etc.
O foco predominante em questões ambientais e sociais, muitas vezes sem uma conexão clara com o desempenho econômico, pode desviar a atenção de aspectos igualmente essenciais, como a geração de valor sustentável em termos econômicos, ou seja, visão do futuro, aumentar a criação de valor para a empresa e a todos stakeholders.
ESG e a desconexão econômica da empresa
Com este cenário, percebe-se claramente que o ESG trata as questões econômico-financeiras de uma empresa como secundárias. Depreende-se que, apesar de ESG abordar pilares fundamentais da sustentabilidade, ele não deveria negligenciar e se distanciar da qualidade dos resultados econômicos da operação. Na realidade, o conceito de sustentabilidade abrange mais do que o meio ambiente e a justiça social. Especialmente em governança deve-se incluir também a capacidade de uma empresa gerar lucro econômico, ou seja, adicionar na conta a remuneração do custo de oportunidade sobre o capital investido pelo acionista. Para o ESG ser sustentável e viável economicamente, é necessário que haja sintonia com a criação de valor ao longo do tempo, viabilizando a perpetuidade.
Nesse sentido, as questões econômicas estão, de fato, intrinsecamente ligadas aos demais indicadores e KPIs (Key Performance Indicators). Por exemplo, a maior capacitação e a redução do turnover podem contribuir para a diminuição de gastos com recrutamento e treinamento, além de melhorar a produtividade e a retenção de talentos, gerando impactos positivos na sociedade e nos resultados. Da mesma forma, a eficiência energética não apenas reduz a pegada de carbono da empresa, mas também pode diminuir os gastos operacionais, criando benefícios econômicos diretos e indiretos.
Contudo, muitas empresas têm tratado ESG como um conjunto de medidas de conformidade ou uma maneira de melhorar sua reputação, sem integrar adequadamente as métricas ESG com o desempenho econômico. A maioria das 65 empresas que cita ESG em seus relatórios, faz isso de forma simples e genérica, sem demonstrar uma correlação clara entre as iniciativas de sustentabilidade com o lucro econômico da empresa. Isso gera uma desconexão preocupante: enquanto as empresas tentam se alinhar às expectativas de stakeholders em relação à sustentabilidade, elas podem estar perdendo de vista o fato de que a saúde econômico-financeira é a base para a continuidade da empresa de todas essas práticas.
O caminho para integrar ESG e desempenho econômico
Entende-se que o ESG, quando bem implementado, não deve ser visto como um substituto para as métricas econômico-financeiras, mas devem funcionar de forma complementar e integrada. As questões ambientais, sociais e de governança são cruciais para garantir a longevidade e a resiliência das empresas, mas elas devem estar inseridas em um contexto mais amplo, que inclua a criação de valor econômico e aumento da riqueza da empresa no longo prazo. Desta forma, o conceito da sustentabilidade econômica deve ser integrado com as demais dimensões do ESG, se transformando em EESG (incluindo a palavra “Economic”).
Para que isso aconteça, a governança das empresas precisa ser mais transparente, objetivas em como medir e reportar suas iniciativas ESG, relacionando-as diretamente ao desempenho econômico das operações. Isso implica definir KPIs claros, que mostrem como as ações em prol do meio ambiente, da sociedade e da governança, impactem de forma positiva na empresa, no fluxo de caixa e no lucro econômico, proporcionando o esperado aumento da criação de valor e maior valorização da empresa no mercado.
Conclusão
O ESG veio para ficar, e a adoção de suas práticas pelas empresas é um avanço significativo em termos de responsabilidade corporativa. Ao estabelecer a conexão do ESG com o resultado econômico, transformando-o em EESG, ou seja, incorporando nas análises gerenciais os princípios de sustentabilidade econômica do negócio, a gestão das empresas estará apta para prosperar no longo prazo, criando valor e riqueza para a empresa, acionistas e stakeholders.
Oscar Malvessi
é fundador e CEO da Oscar Malvessi Consultoria em Valor. Consultor especializado em criação de valor, autor do livro “Como criar Valor na sua Empresa”, lançado recentemente. Publica artigos e livros sobre temas de finanças corporativas e valuation. Professor da FGV nos cursos executivos e professor de carreira na área financeira.
oscar@oscarmalvessi.com.br
Roberto Gonzalez
é consultor de governança corporativa e ESG e conselheiro independente de empresas. É autor do livro "Governança Corporativa - O Poder de Transformação das Empresas".
roberto.gonzalez@uol.com.br