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A volta de Trump ao poder simboliza o auge da reação contra o ESG, impulsionando um novo ciclo no mercado e na política global. Mas seria esse o colapso da agenda sustentável ou apenas mais uma oscilação natural no pêndulo da história?
No último dia 20 de janeiro os olhos do mundo se voltaram para Washington. A posse de Donald Trump não é apenas um evento político, mas um marco simbólico para o mercado e a sociedade global. Para muitos, este momento representa o fim de uma era e o início de um novo ciclo, onde temas como sustentabilidade, diversidade e governança empresarial perdem espaço para um modelo de negócios mais agressivo e desregulado.
Trump sempre foi um crítico feroz do ESG e do movimento WOKE. Durante sua campanha, deixou claro que sua agenda inclui:
Seus primeiros atos no cargo confirmaram essa postura. A saída dos EUA do Acordo de Paris é reinstaurada, enquanto novas políticas são anunciadas para enfraquecer exigências de transparência ambiental e social nas empresas. O discurso é claro: as corporações não devem ter outras preocupações além do lucro e da eficiência operacional.
Para alguns, esse cenário representa o colapso do ESG. O movimento, que nos últimos anos cresce de forma acelerada, agora parece enfrentar seu maior desafio. Investidores questionam se a onda de investimentos sustentáveis perde força. Empresas começam a reavaliar suas políticas ESG, se perguntando se ainda vale a pena manter compromissos que podem ser vistos como desnecessários ou até prejudiciais em um novo ambiente regulatório.
Mas a história não avança de forma linear. Grandes mudanças sempre provocam reações opostas. Quando um movimento cresce rápido demais, inevitavelmente surge uma força contrária que busca freá-lo e equilibrar o sistema. Esse movimento pendular da sociedade, ajuda a entender por que a ascensão de Trump e a reação contra ESG e WOKE não significam o fim dessas práticas – mas sim um ajuste dentro de um ciclo muito maior.
O Pêndulo da História: Como a Sociedade Oscila Entre Extremos
A história não avança de forma linear. Sempre que um movimento cresce rapidamente, ele gera uma reação contrária. O que estamos vivendo agora — a ascensão de Trump e a rejeição ao ESG e ao movimento WOKE - não é o fim da responsabilidade corporativa, mas sim um ajuste natural dentro do ciclo econômico e social.
Esse é um fenômeno natural de movimento pendular da sociedade. Assim como um pêndulo, que oscila de um extremo ao outro até encontrar um ponto de equilíbrio, a política e a economia seguem essa lógica de avanços e retrocessos aparentes. Quando uma ideia ou tendência cresce de forma muito acelerada, há uma força oposta que surge para contê-la. Isso não significa que a ideia desaparece, mas que passa por um período de reavaliação e amadurecimento.
Exemplos históricos: o pêndulo em ação
Esse movimento pode ser observado ao longo de diversos momentos da história:
Agora, o ESG passa por esse mesmo teste. Após anos de crescimento acelerado, em que empresas e investidores adotaram a agenda ESG muitas vezes sem critérios sólidos, surge uma força oposta questionando sua eficácia. Isso significa que o ESG acabou?
Definitivamente, não! O que estamos vendo é um ajuste natural, que deve transformar o ESG de um movimento ativista para um modelo mais pragmático e estratégico.
Mas o que esperar desse novo ciclo? O pêndulo da história nunca fica parado. Assim como outras grandes mudanças no passado, a rejeição ao ESG e ao WOKE não deve ser vista como um retrocesso absoluto, mas sim como uma oportunidade para amadurecer e tornar essas práticas mais eficazes.
ESG: De Ativismo para Pragmatismo
O movimento ESG cresce de forma explosiva nos últimos anos. Empresas ao redor do mundo correm para adotar práticas sustentáveis, comprometer-se com diversidade e inclusão e demonstrar governança responsável. Investidores pressionam por relatórios ambientais e sociais, enquanto consumidores exigem transparência sobre o impacto das empresas no planeta.
Mas, como em todo ciclo de crescimento acelerado, excessos acontecem. Algumas empresas realmente integram o ESG à sua estratégia de negócios, construindo valor a longo prazo. Outras, no entanto, tratam o ESG como um simples discurso de marketing, sem mudanças reais em suas operações.
Surgem fenômenos como Greenwashing (empresas que fingem ser sustentáveis), Boardwashing (conselhos que promovem diversidade apenas no papel, sem impacto real na governança) e Socialwashing (companhias que adotam discursos de responsabilidade social sem ações concretas para impactar positivamente a sociedade).
Essa onda de narrativas vazias, onde organizações utilizam a agenda ESG apenas como estratégia de marketing sem compromisso real com mudanças estruturais, cria um fenômeno que batizei de Washingmania – um ciclo vicioso de promessas sem substância, que enfraquece a credibilidade do ESG e alimenta a reação contrária que estamos vendo agora.
No entanto, essa fase superficial está com os dias contados. O mercado exige menos discursos e mais ações concretas, e empresas que não entregarem resultados reais serão rapidamente descartadas por investidores, consumidores e reguladores.
Agora, com a ascensão de Trump e a reação global contra ESG e WOKE, essas práticas entram em xeque. O que estamos vendo não é o colapso do ESG, mas sim uma mudança de fase. O ESG está saindo do campo ideológico e entrando na era do pragmatismo, onde o que importa não é a intenção, mas os resultados concretos.
A Era do Pragmatismo ESG
Na fase inicial do ESG, muitas empresas adotam políticas sustentáveis por pressão social ou para melhorar sua imagem. Agora, a lógica muda: ESG precisa gerar valor real para a empresa. Os investidores não querem mais relatórios cheios de promessas, mas sim números que comprovem o impacto financeiro dessas iniciativas.
Essa transição já pode ser vista em diversos setores:
O ESG deixa de ser um movimento ativista e se torna uma ferramenta estratégica de negócios. Empresas que fazem ESG apenas por aparência começam a perder espaço, enquanto aquelas que realmente integram sustentabilidade e governança à sua estratégia de longo prazo continuam a prosperar.
ESG não acabou - ele está evoluindo
A mudança de ciclo que estamos vendo não significa que o ESG vai desaparecer, mas sim que ele precisa amadurecer. Empresas que ignorarem totalmente a agenda ESG correm grandes riscos:
O mercado agora exige menos discurso e mais ação. O ESG não é mais sobre agradar ativistas ou seguir tendências, mas sim sobre proteger a competitividade e a resiliência dos negócios no longo prazo.
O Futuro do Capitalismo: Inteligente e Sustentável
Se há algo que a história nos ensina, é que o capitalismo sempre se reinventa. Ele sobrevive porque consegue se adaptar às demandas da sociedade e às novas realidades econômicas. E agora, diante do avanço tecnológico, das mudanças climáticas e da pressão de investidores e consumidores, estamos entrando em uma nova fase: o capitalismo inteligente e sustentável.
O futuro não será de extremos. Nem um mercado sem regras, onde empresas destroem o meio ambiente e exploram trabalhadores impunemente, nem um ESG utópico, onde o propósito se sobrepõe completamente à geração de lucro. A nova era dos negócios exige um equilíbrio entre responsabilidade e rentabilidade.
O novo capitalismo será guiado por dados e inovação
Diferente do que muitos críticos do ESG acreditam, essa transição não é impulsionada apenas por ativismo ou pressões ideológicas. O que está transformando o mercado são dados concretos e inovações tecnológicas.
Empresas que adotam ESG de forma inteligente não fazem isso apenas por uma questão ética, mas porque ele traz vantagens competitivas reais:
O novo capitalismo não impõe ESG como uma obrigação moral, mas sim como uma estratégia de sobrevivência e crescimento.
O ESG como ferramenta de inteligência estratégica
Para prosperar nesse novo cenário, as empresas precisam abandonar a abordagem superficial do ESG e transformá-lo em um diferencial competitivo. Algumas das principais tendências que moldam esse futuro incluem:
1. Uso de tecnologia para aprimorar ESG
A digitalização e a inteligência artificial estão tornando as práticas ESG mais eficientes e mensuráveis. Algumas das inovações mais relevantes incluem:
2. Regulação cada vez mais sofisticada
Embora o governo Trump adote uma postura contrária à regulamentação ESG, essa tendência não pode ser revertida globalmente. A União Europeia, por exemplo, já impõe normas rígidas de relatórios de sustentabilidade e restrições a produtos de origem duvidosa.
Empresas que se antecipam e estruturam práticas ESG robustas estarão mais preparadas para atender a essas exigências futuras, evitando riscos regulatórios e garantindo acesso ao mercado global.
3. ESG na nova economia do consumidor
O comportamento do consumidor está mudando rapidamente. As novas gerações — Millennials e Geração Z — são mais criteriosas em relação às marcas que apoiam. Empresas que demonstram comprometimento genuíno com ESG conquistam lealdade e preferência de mercado. Isso já pode ser observado no crescimento do consumo sustentável:
O novo capitalismo não será imposto por reguladores ou ativistas, mas sim pelo próprio mercado, à medida que empresas inteligentes percebem que a sustentabilidade se traduz em vantagem competitiva.
O fim da polarização e o início da maturidade
A transição para esse novo modelo não será imediata, nem linear. O pêndulo da história ainda pode oscilar algumas vezes entre resistência e aceitação. Mas a direção está clara: empresas que ignoram ESG completamente ficarão para trás, enquanto aquelas que o incorporam de forma estratégica terão mais eficiência, menos riscos e maior valorização de mercado.
Como as Empresas Devem se Preparar
O novo capitalismo exige um novo tipo de liderança. À medida que o ESG evolui de um movimento ativista para uma abordagem pragmática e orientada a resultados, as empresas que quiserem se manter competitivas precisarão reformular sua estratégia. Isso significa abandonar discursos vazios e transformar sustentabilidade, governança e responsabilidade social em pilares concretos da gestão empresarial.
Nesse cenário, a alta gestão terá um papel fundamental. Ela precisa garantir que o ESG não seja apenas um item no relatório anual, mas sim um fator estratégico real, capaz de reduzir riscos, gerar valor e fortalecer a resiliência da empresa a longo prazo.
Os 4 Pilares da Nova Gestão ESG
Para que o ESG deixe de ser um simples "selo de marketing" e se torne uma vantagem competitiva, é preciso focar em quatro pilares essenciais:
1. ESG Integrado à Estratégia do Negócio
2. Governança Forte e Transparente
3. Uso de Tecnologia para ESG Data-Driven
4. Preparação para Novas Regulamentações e Exigências do Mercado
O ESG não pode mais ser encarado como um custo. Empresas que adotam boas práticas não só evitam problemas regulatórios e reputacionais, como também se tornam mais eficientes e rentáveis.
O desafio agora é garantir que essa transição ocorra de forma estratégica, baseada em dados e alinhada aos interesses de longo prazo da empresa.
O ESG Como Pilar do Capitalismo do Futuro
O mundo dos negócios está em constante transformação, e o ESG é um reflexo disso. A posse de Trump marca um ponto de inflexão, representando o auge da reação contra ESG e o movimento WOKE. No entanto, essa oscilação faz parte de um ciclo natural da economia e da política. O ESG não desaparece – ele evolui.
Estamos saindo da fase do ativismo e entrando na era do pragmatismo ESG. Agora, as empresas precisam demonstrar impacto real e não apenas discursos bem elaborados. A sociedade e os mercados não aceitarão este cenário de Washingmania. As organizações que tratarem o ESG como um diferencial estratégico, e não como uma obrigação externa, terão vantagem competitiva no novo capitalismo sustentável.
O Pêndulo Continua a Oscilar
Como vimos, a história é cíclica. Assim como o neoliberalismo emergiu em resposta ao intervencionismo do pós-guerra, e o nacionalismo ganhou força após anos de globalização intensa, o movimento atual contra ESG é apenas mais uma oscilação do pêndulo.
A pergunta que conselheiros e executivos precisam se fazer não é “O ESG vai acabar?”, mas sim:
As empresas que souberem responder a essas perguntas não apenas sobreviverão, mas prosperarão.
O Novo Capitalismo Não Será de Extremos
O capitalismo do futuro não será um mercado sem regras, nem um ESG utópico. Será um modelo de negócios mais inteligente e sustentável, onde inovação e responsabilidade caminham juntas. Empresas e conselhos que entenderem essa transição terão um futuro sólido e competitivo.
O ESG não é uma ideologia passageira, mas sim um mecanismo essencial para a longevidade dos negócios. A pergunta final é: Sua empresa está preparada para esse novo capitalismo?
Marcelo Murilo
é Co-Fundador e VP de Inovação e Tecnologia do Grupo Benner, Palestrante, Mentor, Conselheiro, Embaixador e membro do Senior Advisory Board do Instituto Capitalismo Consciente Brasil, Embaixador e Membro da Comissão ESG da Board Academy BR e Especialista do Gerson Lehrman Group e da Coleman Research – Fala sobre Inovação, Governança e ESG.
marcelo.murilo@benner.com.br