Gestão

QUE TAL CRIAR UMA DIRETORIA DE INTEGRAÇÃO NA SUA EMPRESA?

O fluxo de informações é o elemento central que conecta processos, pessoas e decisões em qualquer organização. Yuval Harari, em seu novo livro Nexus, argumenta que o controle e o tratamento desses fluxos foram determinantes para a evolução da humanidade e continuarão sendo no futuro. Essa lógica é facilmente transferida para o mundo corporativo: o fluxo de informações é o principal diferenciador entre empresas que prosperam e aquelas que apenas sobrevivem.

Nos dias atuais, gerenciar de forma eficaz esse fluxo – entre processos internos, dados organizacionais e stakeholders externos – é um desafio e uma oportunidade. Uma resposta inovadora? A criação de uma Diretoria de Integração, que centralize e coordene esses esforços. Este artigo explora essa ideia, quais benefícios ela pode oferecer e como implementá-la de forma prática e eficaz.

O Papel Estratégico da TI
Historicamente, a área de Tecnologia da Informação (TI) sempre teve um papel essencial na gestão de dados e processos. Inicialmente, suas funções eram tímidas e operacionais: garantir que sistemas funcionassem e resolver problemas técnicos. No entanto, à medida que as empresas se tornaram mais digitais, a TI se tornou um componente estratégico. Hoje, ela habilita a inovação, fomenta novos modelos de negócios e promove a melhoria contínua e a excelência operacional.

Essa evolução posiciona a TI como uma área com potencial para integrar processos organizacionais e atuar como o grande catalisador de mudanças culturais, estratégicas e operacionais. Afinal, tudo hoje nas empresas passa por TI — cada organização é, em essência, uma empresa de TI que produz ou entrega algo. Por isso, a TI precisa permear todas as áreas, conectando pessoas, processos e dados para gerar valor sustentável.

A Experiência da Seja Digital
Um exemplo prático de como uma Diretoria de Integração pode ser implementada com sucesso é o caso da Seja Digital. Para quem não a conhece, essa empresa quem tem como acionistas as grandes empresas de telecomunicações do país, foi a responsável pela transição da televisão analógica para a digital em todo o Brasil.

Com uma estrutura orientada a dados, a Diretoria de Integração da Seja Digital otimiza processos e faz uso de dashboards para monitorar a estratégia e a operação. Essa abordagem garantiu que o projeto fosse concluído dentro do prazo, abaixo do custo previsto e, como afirma seu lema, sem deixar ninguém para trás. Esses resultados só foram possíveis graças ao tratamento estratégico dos fluxos de informações e processos.

RH e a Promoção de Transformações
Outro aspecto relevante é o papel do RH na promoção de mudanças organizacionais. Em muitas empresas, o RH é visto como o departamento natural para conduzir transformações, especialmente aquelas que envolvem cultura e pessoas. No entanto, essa visão pode ser limitante.

O RH tem uma função essencial: defender os profissionais, oferecendo um ambiente de trabalho saudável, oportunidades de crescimento e condições justas. Contudo, promover transformações – que frequentemente tiram os colaboradores da zona de conforto – exige uma abordagem mais neutra e focada em resultados estratégicos.

Já vi empresas enfrentarem esse dilema de forma interessante. Em um caso recente, a meta de uma organização que participa da avaliação do Best Place to Work era reduzir ligeiramente sua pontuação para focar em mudanças estruturais necessárias. Esse movimento geraria desconforto, mas era fundamental para a sustentabilidade da empresa. O RH foi parceiro do projeto, mas não o líder. Esse é um espaço onde uma Diretoria de Integração pode desempenhar um papel crucial, ajudando o CEO e o Conselho de Administração a implementar mudanças necessárias na cultura corporativa, alinhando-a com os objetivos estratégicos.

A Função da Diretoria de Integração
Uma Diretoria de Integração, como o próprio nome sugere, é responsável por coordenar os diversos fluxos de informações, processos e relacionamentos dentro e fora da empresa. Suas funções principais incluem:

  • Gerenciar Fluxos de Informações: Criar sistemas e processos que garantam que dados fluam de forma eficiente entre áreas internas e externas.
  • Promover a Transformação Digital: Liderar iniciativas de digitalização, alinhando-as à estratégia da organização.
  • Centralizar a Governança de Dados: Garantir que as informações sejam seguras, acessíveis e de alta qualidade.
  • Governança de IA: Coordenar o uso responsável da inteligência artificial, promovendo sua implementação ética, transparente e alinhada à estratégia organizacional.
  • Alinhar Stakeholders: Facilitar a integração entre os diversos públicos, como fornecedores, clientes, acionistas, conselheiros e comunidades.
  • Impulsionar a Inovação: Criar condições para que novas ideias, produtos e serviços sejam desenvolvidos com agilidade e eficiência.
  • Apoiar o CEO e o Conselho: Atuar como um braço estratégico para implementar mudanças organizacionais e culturais.
  • Apoiar o Governance Officer: Apoiar a gerir e aprimorar a “arquitetura” do sistema de governança, provendo, por meio dos processos adotados, um alinhamento entre as diversas áreas da organização e stakeholders.

Um Mundo de Ecossistemas e Plataformas
À medida que o mundo dos negócios evolui para modelos de ecossistemas e plataformas, gerenciar a integração se torna ainda mais crítico. Empresas não operam isoladamente; elas fazem parte de redes complexas de fornecedores, parceiros, clientes e comunidades. O sucesso depende da capacidade de conectar essas partes em um fluxo harmonioso e eficiente.

Num mundo em que as plataformas digitais redefinem o conceito de valor, a Diretoria de Integração emerge como uma função primordial. Não se trata apenas de uma mudança organizacional, mas de um reposicionamento estratégico que pode determinar o futuro das empresas.

Conclusão
Criar uma Diretoria de Integração é uma ideia que parece arrojada à primeira vista, mas que faz todo o sentido diante dos desafios e oportunidades da era digital. A TI, com seu papel estratégico, já pavimentou o caminho para essa transformação. O exemplo da Seja Digital demonstra que é possível integrar processos e dados de forma eficaz e alcançar resultados extraordinários.

Num mundo de mudanças rápidas, onde ecossistemas e plataformas dominam, a integração é a nova fronteira da eficiência e da inovação. Que tal dar esse passo na sua empresa?


Ricardo Castro
é Board Member, Senior Advisor. Conselheiro certificado pelo IBGC. Experiência como administrador em empresas de diversos setores. Formado em engenharia pela UFRJ, mestrado em Tecnologia da Informação pela PUC-Rio e com MBAs executivos na Columbia, FDC, Kellog, Insead, StarSe/NovaLisboa. Professor da FIA.
ricardo.castro@accurotec.com


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