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Imagine um ecossistema onde você pode comprar um pedaço de um prédio de luxo em Nova York, investir em uma coleção de arte digna de museu ou ter sua fatia de um parque de energia solar – tudo isso sem sair do sofá e com seu café na mão. Bem-vindo à era da tokenização, onde ativos físicos e digitais ganham uma versão em blockchain, acessível para qualquer investidor com conexão à internet (e bom senso).
E vamos deixar uma coisa clara: a ideia de democratizar investimentos não é nova. FIIs e ETFs já fizeram um bom trabalho nisso. Mas a blockchain elevou esse conceito a um novo patamar. Com menos burocracias, taxas obscuras e limites altos de entrada, os ativos tokenizados abrem as portas para pequenos investidores que nunca imaginaram comprar uma fatia de um Picasso ou diversificar internacionalmente.
Com previsões ousadas de atingir US$ 24 trilhões até 2027, a tokenização não é só tendência: é o popstar das finanças. Bancos como BB, BTG, Nubank e Citi e gestoras de ativos como a BlackRock e Hashdex já estão explorando formas de transformar ativos tradicionais em tokens digitais para melhorar eficiência e, claro, trazer um brilho de inovação para seus portfólios. Startups também têm protagonizado essa revolução. Um exemplo é a Dynasty Global, fundada no prestigiado Crypto Valley, na Suíça, por brasileiros visionários. A empresa utiliza a tecnologia blockchain para desenvolver soluções em pagamento e tokenização, com foco no mercado imobiliário global
O processo de tokenização converte direitos sobre ativos reais, tangíveis (como um imóvel ou uma obra de arte) ou intangíveis (como direitos autorais de uma música ou uma patente) em tokens digitais registrados em blockchain. Cada token representa uma fração de um ativo, como imóveis, royalties musicais, precatórios, direitos esportivos, ouro ou outros metais. Com isso, qualquer pessoa pode se tornar sócia de uma startup promissora ou de um projeto de energia renovável. Esses ativos podem ser negociados 24 horas por dia, sete dias por semana, permitindo que até quem tem a rotina mais corrida consiga investir no horário que for mais conveniente.
Com alcance global, os tokens permitem que qualquer pessoa conectada à internet participe do mercado financeiro, rompendo barreiras geográficas. Esse avanço é especialmente relevante para investidores brasileiros, que ainda possuem pouca diversificação internacional – apenas 2,5% do patrimônio médio está alocado em mercados globais. Durante o evento Global Insights, Giuliano De Marchi, Diretor para a América Latina da JPMorgan Asset Management, destacou a importância da internacionalização como uma estratégia indispensável para fortalecer as carteiras de investimento no Brasil.
Para analistas de ações e profissionais de Relações com Investidores (RI), a tokenização não é apenas uma novidade tecnológica: é um bilhete para o futuro. Mas atenção, não basta apenas comprar a passagem – é preciso saber pilotar o avião. Avaliar ativos tokenizados, entender suas nuances e traduzi-los em estratégias de investimento e relatórios envolventes é essencial para sobreviver nesse novo mercado.
Se antes você precisava explicar para investidores sobre o desempenho de uma empresa que faz tijolos, agora terá que descrever como aquele token fracionado de uma fazenda de cacau na Colômbia pode revolucionar o mercado de chocolate. Bem-vindo ao novo normal.
A verdadeira revolução, no entanto, está nas ferramentas disponíveis para analistas de investimentos e profissionais de RI. A tríade moderna – blockchain, inteligência artificial (IA) e finanças descentralizadas (DeFi) – está transformando o jogo. Veja como:
1. Dados Alternativos para Decisões
Nunca foi tão fácil ter insights sobre o mercado. Com imagens de satélite e análises de sentimentos online, você pode descobrir se a colheita de soja está em alta ou se as redes sociais estão inflamadas por uma marca de moda – tudo isso com um clique.
2. Contratos Inteligentes
Chega de planilhas intermináveis e e-mails para lembrar os investidores dos dividendos ou uma votação. Contratos inteligentes automatizam pagamentos e registros, gerando novas condições de negócios.
3. IA Para Previsões
IA está processando dados a uma velocidade exuberante. Isso significa mais tempo para criar estratégias e menos tempo revisando relatórios com lupa.
Apesar de suas vantagens, a adoção dessa tecnologia ainda enfrenta desafios, como a volatilidade de preços e a falta de clareza regulatória. A regulação ainda é um campo nebuloso em muitos países. China e Índia, por exemplo, continuam balançando entre talvez e não quando o assunto é cripto e tokenização.
No Brasil, o avanço regulatório está mais direcionado, com instituições como Banco Central e CVM trabalhando para criar normas. A Abcripto, Associação Brasileira de Criptoeconomia, que reúne empresas inovadoras do setor e players tradicionais como Itaú, Nuclea, KPMG, Deloitte, Visa e Mastercard, tem desempenhado um papel relevante nesse cenário. Desde a época em que presidi a associação, a regulação e a autorregulação sempre estiveram no centro das nossas estratégias. Recentemente, a Abcripto deu um passo importante ao criar suas próprias regras para o mercado de tokenização, um movimento que reflete o compromisso do setor com a transparência e a responsabilidade.
Cabe destacar também a ANBIMA e seu posicionamento inovador. A instituição disponibiliza em seu site uma área dedicada às finanças descentralizadas (DeFi), com materiais educativos e análises aprofundadas sobre o mercado. Esses esforços ajudam a esclarecer pontos críticos para investidores e preparam o terreno para um mercado mais maduro. Além disso, iniciativas como o Pitch Day: Soluções para Automatizar Tarefas mostram o compromisso da ANBIMA em explorar o potencial de tecnologias emergentes para transformar o mercado financeiro. Durante este evento, José Carlos Doherty, Diretor Executivo da associação, destacou que a ANBIMA abriu suas portas para a sociedade em geral, promovendo maior participação por meio da Rede de Inovação da ANBIMA e, mais recentemente, da Rede de Tokenização. Essas redes promovem discussões abertas e colaborativas sobre temas como inovação e o futuro da tokenização, reforçando o papel da entidade como uma facilitadora do progresso no mercado financeiro brasileiro.
Tokenização de ativos não é uma moda passageira – é o novo idioma dos mercados globais. E, como em qualquer linguagem, aqueles que aprendem primeiro têm a chance de se destacar. Então, respire fundo, ajuste o foco e prepare-se para surfar a onda mais emocionante que o mercado financeiro já viu.
Luiz Calado
é PhD, CFP, é pós doutor pela Universidade da Califórnia em Berkeley, membro da Comissão Acadêmica e de Certificação e associado da APIMEC Brasil. Atualmente trabalha em banco, e foi diretor e presidente de corretoras cripto e da Abcripto.
luizcaladobr@icloud.com