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No cenário atual, liderar uma organização tornou-se uma tarefa repleta de desafios inéditos. A fragmentação crescente do mundo, impulsionada por ideologias ambientais e intensificadas pelas tensões geopolíticas, tem colocado à prova as capacidades das equipes de liderança. No contexto brasileiro, essas disrupções ganham contornos próprios, onde a adoção acelerada de tecnologias revolucionárias, como a inteligência artificial generativa, a transição energética em um país com vasto potencial para energias renováveis e uma força de trabalho cada vez mais diversificada e exigente por autonomia, empoderamento, flexibilidade e mobilidade, compõem um cenário dinâmico e imprevisível.
Essas transformações não ocorrem de maneira isolada, mas sim de forma cumulativa e interconectada, deixando os líderes com menos tempo para reagir de maneira eficaz.
Há uma década, CEOs e suas equipes de alta liderança no Brasil concentravam seus esforços em torno de quatro ou cinco questões críticas simultaneamente. Hoje, esse número dobrou, refletindo a complexidade crescente do ambiente empresarial. Segundo pesquisa recente dois a cada três líderes empresariais brasileiros consideram a adaptação tecnológica uma das principais prioridades para os próximos anos, sublinhando a necessidade urgente de atualização contínua e constante.
Nossa experiência junto a CEOs e líderes tanto globais quanto nacionais revela que o maior obstáculo para a formação de equipes resilientes e de alto desempenho reside na escassez de líderes capazes de prosperar e se destacar em meio a esse ambiente incerto do século XXI. As diferenças entre os atributos pessoais, as melhores práticas e as abordagens de desenvolvimento de liderança necessárias hoje são marcantes quando comparadas com as do passado.
Este artigo se propõe a explorar o que é necessário para ser um líder no século XXI e como as organizações brasileiras podem construir uma verdadeira fábrica de liderança para moldar, desenvolver e orientar a próxima geração de gestores.
Empresas que tratam o desenvolvimento de liderança como uma capacidade central e abordam proativamente as necessidades de líderes atuais e aspirantes estarão mais bem posicionadas para aumentar sua resiliência e melhorar substancialmente as chances de superar disrupções, independentemente de sua natureza ou momento de surgimento.
À medida que o mundo se torna mais complexo, as percepções e abordagens ao desenvolvimento de liderança precisam evoluir em consonância. Com base em pesquisas abrangentes e experiências tanto globais quanto brasileiras, identificamos seis atributos essenciais para que líderes se destaquem em ambientes incertos.
Primeiramente, a energia positiva, o equilíbrio pessoal e a capacidade de inspirar emergem como pilares fundamentais. Líderes contemporâneos precisam proteger e cultivar a mente, o corpo e o espírito, garantindo que mantenham a energia necessária para liderar e aprender continuamente. A busca por conexão, autenticidade e inspiração por parte da força de trabalho atual faz com que essa energia seja um recurso crucial.
A liderança servidora e altruísta constitui o segundo atributo. Líderes de alto desempenho direcionam seu foco para o sucesso da equipe e dos demais, priorizando ações, resultados e impactos positivos sobre a vaidade pessoal.
Este princípio é especialmente relevante quando consideramos que 70% dos empregados afirmam que seu trabalho define seu propósito, de acordo com pesquisas recentes.
O terceiro atributo, o aprendizado contínuo e a humildade, reforça a importância de líderes que não temem riscos e que são incansavelmente curiosos, aprendendo com os erros e se adaptando constantemente. Líderes que não se vêem como os mais inteligentes da sala, mas como aqueles que podem aprender mais, são capazes de fomentar uma cultura de inovação e adaptabilidade.
Essa postura organizacional promove uma cultura de "aprender tudo" em vez de "saber tudo", incentivando seus líderes a se desenvolverem continuamente. Empresas com essa liderança investem fortemente em programas de desenvolvimento contínuo, fomentando a aprendizagem constante e a adaptabilidade necessária para navegar em tempos de incerteza.
A determinação e resiliência são atributos inseparáveis para enfrentar as disrupções que surgem no caminho. Líderes resilientes assimilam as ideias ao seu redor, mas permanecem firmes na tomada de decisões difíceis quando necessário. Essa resiliência envolve a capacidade de analisar causas, ajustar comportamentos e seguir em frente de forma equilibrada.
A leveza, o quinto atributo, ressalta a importância do humor e da capacidade de criar momentos de descontração, mesmo em situações sérias. Esses momentos não apenas ajudam a criar vínculos entre os membros da equipe, mas também aliviam o estresse e liberam a criatividade.
Pessoalmente somos conhecidos por promover uma cultura de trabalho descontraída, o que resulta em alta satisfação e produtividade dos que trabalham conosco, demonstrando que a leveza pode ser uma ferramenta poderosa para fortalecer a equipe e fomentar a inovação.
Finalmente, a responsabilidade completa o conjunto de atributos essenciais. Líderes excepcionais possuem uma visão de longo prazo e atuam como administradores temporários de suas organizações, esforçando-se para deixar equipes e instituições mais fortes, relevantes e sustentáveis, alinhando os objetivos empresariais com o bem-estar social e ambiental, garantindo que a empresa contribua positivamente para a sociedade e o meio ambiente a longo prazo.
Em nossa visão, organizações brasileiras precisam ajustar suas abordagens em áreas centrais para se manterem competitivas e resilientes. Em vez de se concentrarem exclusivamente em lucros, os líderes devem transmitir uma visão clara e explorar possibilidades que inspiram suas equipes. Além disso, a colaboração e o coaching estão substituindo gradualmente o modelo tradicional de comando e controle.
Entre as práticas emergentes, destacam-se várias iniciativas que têm demonstrado eficácia significativa. Engajar rigorosamente todas as partes interessadas é uma dessas práticas. O diálogo construtivo entre líderes, equipes e stakeholders diferencia empresas de alto desempenho.
Métodos como simulações de cenários facilitam essas conversas, permitindo que as organizações se antecipem a possíveis desafios e desenvolvam estratégias robustas. Por exemplo, utilizamos sessões de brainstorming e feedback contínuo para engajar equipes e partes interessadas de forma eficaz, promovendo um ambiente de colaboração e inovação constante.
Percebam que inscrever e reinscrever equipes vai além do mero engajamento, exigindo que os membros estejam pessoalmente comprometidos com a missão organizacional. Programas sistemáticos de alinhamento de objetivos pessoais com os corporativos, aumentam o comprometimento e a motivação dos funcionários.
Essa prática não só fortalece a coesão da equipe, mas também assegura que cada membro esteja alinhado com os valores e metas da organização, criando uma sinergia que potencializa os resultados.
A criação de modelos operacionais ágeis é outra prática essencial. Reduzir a burocracia, padronizar processos e utilizar tecnologias para compartilhar informações são passos cruciais para permitir decisões rápidas e eficazes. Modelo de squads e tribos, exemplificam como a agilidade organizacional pode ser implementada para promover inovação e rapidez nas decisões, adaptando-se rapidamente às mudanças do mercado e às necessidades dos clientes.
Enfatizar uma cultura de confiança é igualmente vital. Confiança é o ativo mais precioso. Líderes devem avaliar os pontos fortes e fracos de suas organizações em termos de credibilidade, confiabilidade e intimidade, trabalhando continuamente para fortalecê-los. Focar em construir uma cultura de confiança e colaboração, resulta em maior inovação e satisfação dos funcionários, demonstrando que uma base sólida de confiança é fundamental para o sucesso.
Além disso, a implementação de tecnologias de inteligência artificial para suporte à liderança está se tornando cada vez mais relevante. Ferramentas de IA podem personalizar e escalar treinamentos e mentorias, facilitando o desenvolvimento contínuo dos líderes. A utilização de IA para analisar o desempenho de líderes e identificar áreas de desenvolvimento, promove um crescimento mais direcionado e eficiente. Essas tecnologias permitem que as organizações ofereçam treinamentos mais precisos e adaptados às necessidades individuais, potencializando o desenvolvimento de competências essenciais para a liderança contemporânea.
Quando questionados sobre os maiores obstáculos para alcançar suas aspirações organizacionais, CEOs brasileiros frequentemente citam a necessidade urgente de construir capacidades de liderança robustas. Embora algumas habilidades possam ser ensinadas em salas de aula, o treinamento mais eficaz acontece no ambiente de trabalho, por meio de mentoria, modelagem e coaching.
Nesse contexto, a fábrica de liderança emerge como um conceito fundamental para o desenvolvimento sustentável das lideranças empresariais. Este conceito reconhecer a importância de desenvolver líderes internamente, alinhando-os com os objetivos estratégicos e culturais da organização.
Para esse ano, novas diretrizes incluem a definição clara dos atributos de liderança necessários, o início imediato do desenvolvimento de gestores em situações desafiadoras com mentoria contínua e a reinvenção da construção de capacidades em escala. Definir atributos de liderança é o primeiro passo crucial.
A equipe atual deve identificar as características necessárias e ajudar líderes potenciais a entender o que a liderança realmente exige. Empresas que desenvolvem perfis de liderança detalhados, alinhando-os com os objetivos estratégicos e culturais da organização, garantem que os futuros líderes estejam plenamente preparados para enfrentar os desafios específicos do contexto empresarial brasileiro.
Começar agora, ou seja, colocar gestores em situações desafiadoras desde o início de sua carreira, é outra diretriz essencial. Adotar o método de inserção imediata em projetos desafiadores e fornecer mentoria constante para acelerar o desenvolvimento dos novos líderes, permite que os gestores adquiram experiência prática e desenvolvam suas competências em um ambiente de suporte contínuo, promovendo um crescimento mais rápido e eficaz.
Reinventar a construção de capacidades em escala envolve a utilização de sessões personalizadas lideradas por executivos seniores, que exploram os desafios enfrentados por novos líderes e como superá-los. Nós, por exemplo, utilizamos plataformas de e-learning e programas de mentoria virtual para escalar o desenvolvimento de liderança globalmente. Essa estratégia permite que as organizações atendam às necessidades específicas de seus líderes em diferentes regiões e contextos, promovendo uma liderança mais adaptável e resiliente.
A integração de diversidade e inclusão na estrutura de liderança é outra diretriz fundamental. Promover uma liderança diversificada fortalece a capacidade de inovação e adaptabilidade das organizações que implementam programas específicos para desenvolver líderes de diferentes origens culturais e demográficas, garantindo uma liderança mais inclusiva e representativa.
Essa diversidade não só enriquece a cultura organizacional, mas também amplia a perspectiva estratégica, permitindo que as empresas respondam de maneira mais eficaz às demandas de um mercado globalizado e diversificado.
Por fim, a utilização de ferramentas de diagnóstico é essencial para avaliar o estado atual das liderança. Ferramentas ou frameworks simples ajudam as organizações a identificar os pontos fortes dos líderes e orientar o desenvolvimento personalizado. Essas ferramentas proporcionam insights valiosos sobre as competências e áreas de melhoria, permitindo um desenvolvimento mais direcionado e eficiente das lideranças. Entretanto, para que as fábricas de liderança sejam verdadeiramente eficazes, os CEOs brasileiros devem se tornar exemplos vivos dentro dessas estruturas, compartilhando suas próprias histórias pessoais e mantendo altos padrões de desempenho.
Além disso, os sistemas de gestão de desempenho devem refletir os atributos de liderança mencionados, sendo projetados para promover responsabilidade, empoderamento e agilidade e garantir que os líderes estejam alinhados com os valores organizacionais e em constante desenvolvimento, promovendo uma cultura de melhoria contínua e excelência.
A implementação de métricas e KPIs específicos é outra etapa crucial para avaliar a eficácia das iniciativas de desenvolvimento de liderança. Entre as principais métricas destacam-se o índice de retenção de líderes, que mede a capacidade da organização em reter seus líderes talentosos; o engajamento dos funcionários, avaliado por meio de pesquisas de satisfação e feedbacks contínuos; a performance organizacional, refletida por indicadores financeiros e operacionais que demonstram o impacto das lideranças; a diversidade na liderança, medida pelo percentual de líderes de diferentes origens culturais, de gênero e demográficas; e a avaliação de competências de liderança, utilizando ferramentas cientificamente comprovadas para medir e acompanhar o desenvolvimento das competências essenciais.
Hoje, a única certeza para líderes brasileiros com visão global é a incerteza. Para prosperar nesse ambiente desafiador, é imperativo que os líderes abandonem práticas obsoletas e criem novas regras em colaboração com suas equipes e stakeholders. CEOs e organizações devem adotar uma abordagem proativa no desenvolvimento de liderança, incorporando diversidade, tecnologia e métricas claras para medir o sucesso.
Ao implementar fábricas de liderança robustas e adaptáveis, as empresas brasileiras estarão não apenas sobrevivendo, mas prosperando em um mundo cada vez mais complexo e dinâmico, garantindo sustentabilidade, inovação e crescimento contínuo. É portanto fundamental que as organizações brasileiras invistam significativamente em programas de desenvolvimento de liderança, alocando recursos para desenvolver as competências necessárias para os líderes do futuro.
A adoção de tecnologias de suporte à liderança, como ferramentas de inteligência artificial e plataformas digitais, deve ser priorizada para personalizar e escalar o treinamento de líderes de maneira eficaz.
Promover uma cultura de inclusão e diversidade é igualmente crucial, garantindo que a liderança reflita a diversidade da força de trabalho e dos mercados atendidos. Estabelecer métricas claras e definidas para monitorar e avaliar a eficácia das iniciativas de desenvolvimento de liderança permitirá ajustes contínuos e melhorias constantes. Além disso, fomentar a colaboração global e regional, adaptando modelos de liderança para diferentes contextos culturais e econômicos, promoverá uma abordagem verdadeiramente global e local, essencial para o sucesso sustentável.
Ao seguir essas diretrizes, as organizações brasileiras estarão não apenas sobrevivendo, mas florescendo em um mundo cada vez mais complexo e dinâmico, demonstrando que a verdadeira liderança é aquela que se adapta, inova e inspira, garantindo a sustentabilidade, a inovação e o crescimento contínuo necessários para enfrentar os desafios do século XXI.
Antonio Emilio Freire
é Auditor, Professor e Membro de Conselhos.
emilioabf@yahoo.com
Rochana Grossi Freire
é Research Manager na Ambipar ESG; professora na Trevisan Escola de Negócios e Membro do Conselho Fiscal da Eletrobrás.
rochanagrossifreire@gmail.com