Governança

GOVERNANÇA CORPORATIVA: UM PILAR PARA A SUSTENTABILIDADE E CONFIABILIDADE DAS ORGANIZAÇÕES

A adoção de estruturas robustas de Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos e Conselhos de Administração e Fiscal além de fortalecer as organizações internamente, também eleva sua imagem perante investidores, consumidores e a sociedade.

Em um contexto em que fraudes e escândalos empresariais afetam diretamente o valor de mercado e a confiança pública, a governança se torna um escudo contra práticas nocivas, uma base ética que deve ser mantida e difundida por todos os colaboradores.

Casos que Marcaram o Mercado
Para ilustrar os impactos das falhas em governança e controles internos, vejamos alguns exemplos que, infelizmente, tornaram-se referências de como a falta de princípios éticos e de gestão de riscos pode levar empresas promissoras ao declínio.

Americanas: A gigante do varejo brasileiro envolveu-se em um escândalo de mais R$ 40 bilhões devido a falhas na governança e controles financeiros, o que resultou em prejuízos profundos para sua imagem e credibilidade.

Enron Corporation: A empresa americana se envolveu em manobras contábeis para ocultar dívidas, resultando em uma perda de mais de US$ 70 bilhões. A Enron não só caiu, como levou a Arthur Andersen, sua auditora, à ruína, sendo um dos maiores escândalos contábeis do início dos anos 2000.

OLX Petróleo: No Brasil, a empresa de Eike Batista chegou a captar bilhões, mas foi incapaz de cumprir promessas de produção, deixando dívidas vultuosas e gerando uma série de ações judiciais devido a informações privilegiadas e manipulação de mercado.

Petrobrás: Ficou por anos nas manchetes por escândalos frequentes na investigação da operação Lava Jato, com controles internos, registros contábeis e demonstrações financeiras incongruentes, manipulados pelos seus diretores, ocasionando prejuízo, com multas e indenizações milionárias no Brasil e EUA, apurados pelo departamento de Justiça e Comissão de Valores Mobiliários americano. Também relacionados ao impacto climático provocado por suas atividades, a Petrobras e suas subsidiárias foram excluídas por 27 bancos e empresas investidoras.

Vale: Por consequência do rompimento das barragens de Brumadinho em 2019 e de Mariana em 2015, causando centenas de vítimas. A Vale recebe muitas críticas de entidades do Meio Ambiente pelos impactos de suas atividades na Amazônia, onde opera a mina de minério de ferro em Carajás, a maior do mundo a céu aberto. A mineradora é a segunda gigante global em número de exclusões devido a casos de desrespeito aos direitos humanos. 

JBS: Do empresário Joesley Batista, um dos controladores da holding J&F, com vários negócios ao redor do mundo. Considerada uma das maiores do segmento proteína animal, acumula também o título de pior reputação com 65 menções em listas de exclusão, sendo a número um do mundo em boicotes por bancos, fundos de pensão e investidores em razão de suas práticas comerciais não adequadas, como corrupção, evasão fiscal, crimes financeiros, fraude e suborno. A gestora de ativos dinamarquesa Sparinvest, por exemplo, excluiu a JBS de seus contratos por provocar danos ao meio ambiente relacionados ao impacto climático provocado por suas atividades.

Petrobras, Vale e JBS chegaram a ostentar o título das três Cia. brasileiras mais rejeitadas por investidores na ocasião dos escândalos. A plataforma Financial Exclusions Tracker compilou em um só lugar dados das chamadas “listas de exclusão” publicadas por bancos, fundos de pensão e gestoras de ativos de várias partes do planeta – ou seja, foram bloqueadas por investidores em razão de práticas prejudiciais ao meio ambiente, direitos humanos, ao próprio ambiente de negócios e por casos de corrupção.

Estes são apenas alguns dos casos que mostram que, mesmo em organizações onde conselhos e protocolos de governança existiam, falhas sistêmicas permitiram desvios graves. E, segundo uma pesquisa da Association of Certified Fraud Examiners (ACFE), mais de 87% dos transgressores de fraudes nas empresas não tinham histórico criminal, o que evidencia que a má conduta não é exclusividade de “criminosos habituais”.

Além disso, o levantamento da EY com executivos revela que 42% admitiram que poderiam justificar comportamentos antiéticos para atingir metas financeiras, mostrando que o lucro de curto prazo pode incentivar práticas questionáveis.

A Importância da Governança Corporativa
Governança corporativa é uma necessidade fundamental, que impacta diretamente a sustentabilidade, a confiança dos stakeholders e a perenidade de uma empresa. As boas práticas de governança corporativa trazem vantagens competitivas e abrangem os princípios:

Integridade: Reforça meu artigo da Revista RI 286, pois promove o contínuo aprimoramento da cultura ética na organização, blindando decisões com conflito de interesse.

Transparência: Aumenta a confiança entre investidores, consumidores e parceiros ao disponibilizar informações relevantes e verídicas.

Equidade: Respeito e tratamento justo para com todos, incluindo sócios e demais stakeholders, prevenindo conflitos de agência.

Responsabilização: Exige que todos prestem contas de suas ações, reforçando a responsabilidade e as consequências das decisões corporativas.

Sustentabilidade: Garante a viabilidade econômica, ambiental e social da organização, fortalecendo sua contribuição para a sociedade.

Esses princípios formam o alicerce de uma governança eficaz e permeiam as decisões estratégicas, desde a formação do conselho até as práticas de gestão de risco e compliance.

Riscos e a Jornada da Governança
A implementação de governança corporativa é uma jornada contínua e de longo prazo. O fortalecimento dos Conselhos de Administração e Consultivo, auditorias independentes e comitês fiscalizadores permite uma supervisão rigorosa, minimizando riscos e assegurando que a cultura ética e os valores da empresa se perpetuem. A criação de comitês especializados em gestão de riscos, além de auditorias internas e externas, reforça o cumprimento de normas e mitiga potenciais falhas.

Conforme estudos da KPMG, o acompanhamento e a gestão de riscos de forma contínua permitem antecipar problemas e, ao mesmo tempo, promovem uma conduta ética sólida, gerando mais transparência e previsibilidade nas operações.

Governança: Valor Econômico e Intangível
O custo de implementação de governança corporativa pode ser elevado, mas o retorno financeiro e reputacional é ainda maior. Governança eficaz facilita o acesso a capital, melhora as condições de negociação com parceiros, e fortalece a marca, além de garantir perenidade e segurança para os acionistas e demais stakeholders.

Como sintetiza uma frase amplamente reconhecida: “Implementar governança custa caro, mas não ter governança custa muito mais.”

Em resumo, organizações que investem em uma cultura de governança estão mais bem preparadas para enfrentar crises e aproveitam oportunidades com mais segurança. Elas promovem um ambiente que gera valor para todos os envolvidos e contribui para uma economia mais justa e sustentável. Ao adotar esses princípios, as empresas asseguram que o sucesso seja duradouro e não apenas um lucro passageiro, mantendo-se como referência ética para o mercado e para a sociedade.

A importância das práticas ESG frente ao Mercado de Capitais
De acordo com o levantamento do Financial Exclusions Tracker, as mudanças climáticas e catástrofes ambientais estão entre as principais preocupações das instituições financeiras, dado o potencial de impacto severo na estabilidade de investimentos e operações. Essas questões têm impulsionado o mercado de capitais a valorizar ainda mais as práticas ESG, destacando-as como diferenciais competitivos e instrumentos de mitigação de risco. Exemplos como os rompimentos de barragens em Brumadinho e Mariana ilustram a relevância de uma gestão de riscos robusta. Empresas com governança sólida, forte compliance e compromisso ambiental tendem a receber melhores avaliações, atraindo investimentos de longo prazo e criando valor sustentável tanto para si quanto para seus acionistas.


Clilson Filippetti
é formado em Engenharia Operacional com MBA em Gestão de Negócios pela FIA, em Marketing pela FGV, Pós-Graduado em Marketing e em Administração de Empresas pela FAAP, Governança Corporativa em Empresas Familiares pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e Conselheiro pela Celint.
www.linkedin.com/in/clilsonfilippetti


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