No 16° Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, promovido pelo IBRI e ABRASCA, o tema central abordado foi o uso da inteligência a serviço do crescimento das empresas e na criação de valor.
A evolução dos processos de comunicação em todo mundo exigiu nos anos recentes que profissionais envolvidos com investidores sofisticados exerçam um papel cada vez mais estratégico em suas empresas, no sentido de aproximar os valores percebidos pelo alto comando com aqueles reconhecidos pelos analistas que as acompanham.
Para isso, uma das ferramentas que os profissionais de RI precisam exercitar é a sua capacidade de levar as informações de qualidade aos investidores e trazer para dentro da sua empresa o conhecimento que estes possuem sobre empresas pares que existem em todo o mundo.
Torna-se assim fundamental o desenvolvimento de uma área de relações com investidores estruturada com profissionais capacitados a atender aos investidores e, ao mesmo tempo, “extrair” dos mesmos, informações estratégicas sobre a companhia e o seu segmento, bem como críticas construtivas sobre a condução dos negócios, e que sejam de fato valiosas para o desenvolvimento e o crescimento contínuo da organização. Esse é um trabalho de longo prazo, mas que – quando bem conduzido - resulta em ganho de qualidade e na geração de valor para a Companhia e seus stakeholders.
O alto comando da empresa – executivos e membros do Conselho de Administração - precisa estar perfeitamente alinhado com a equipe de RI e instituir a filosofia de que “aprender nunca é demais” e permitir que o principal executivo da equipe, que está diretamente em contato com os agentes de mercado, faça parte do time que elabora o planejamento estratégico de longo prazo. Dessa forma, estará assegurada a oportunidade para a apresentação e a absorção das informações vindas do mercado obtidas em conferências do setor, reuniões com analistas de importantes bancos de investimento e dos quadros dos grandes investidores institucionais – maximizando o retorno das atividades de uma equipe de profissionais de RI de alto gabarito.
É importante também que o alto comando da empresa faça uma reavaliação interna, para melhor aceitar e compreender o processo em pauta, passando a demandar ativa e regularmente as informações estratégicas obtidas pela equipe de RI a favor do crescimento da empresa. Seria importante também que o alto comando passasse a considerar o projeto como prioritário, a fim de maximizar o conhecimento e o uso das informações recebidas, principalmente daquelas que abordem críticas construtivas vindas de analistas experientes.
Para isso, o seu principal executivo de relações com investidores precisa ter a senioridade adequada e estar preparado para discutir projetos e planos estratégicos com a alta direção. E aqui se supõe que o mesmo seja um profissional que atue dedicadamente como RI; ou seja - que não atue concomitantemente como diretor financeiro ou o CFO, cujo principal objetivo, altamente demandante, é outro.
Em paralelo, é necessário que o líder da equipe de RI esteja totalmente em linha com o planejamento estratégico e de longo prazo da companhia; que esteja também alinhado com a estratégia de comunicação e de governança corporativa da empresa. Não se descarta uma programação de RI de excelência e o uso de ferramentas de tecnologia da informação que possam sustentar o projeto.
Atualmente o ambiente econômico e político no Brasil está nos levando, infelizmente, a um caminho de perda de credibilidade e de valor. Principalmente no exterior. Como profissionais de relacionamento com os grandes investidores internacionais é nosso dever alertar à comunidade empresarial da necessidade de elevarmos o grau de transparência e de informações de qualidade ao mercado de capitais brasileiro e internacional, bem como de trazermos ao país o conhecimento existente entre os profissionais que participam da evolução das empresas congêneres de outras economias, pelo mundo afora.
O tom deve ser o da verdade e da transparência. Não podemos deixar de informar aos investidores o que ocorre de fato no país. Mesmo que isso possa significar uma queda nos preços das nossas ações, no curto prazo. No longo prazo as empresas irão se beneficiar de uma política de equidade e tempestividade, de confiança e de credibilidade. E, no momento adequado, poderão contar com os agentes de mercado para captar os recursos necessários para o seu desenvolvimento a custos competitivos.
HELMUT BOSSERT é sócio-diretor da VALOR Partners.
hbossert@valorp.com.br