Opinião

A IMPORTÂNCIA DO COMPLIANCE NAS RELAÇÕES COM INVESTIDORES

O conceito de Compliance está relacionado a atender regras e procedimentos. Ele está presente em todas as empresas, em menor ou maior grau. Em empresas melhor estruturadas, ele geralmente se encontra mais forte, radicado à sua cultura. Em empresas em franca expansão, é possível identificar as que se preparam para o crescimento sustentável com regras definidas desde o início, e outras onde a implementação do Compliance acaba ocorrendo apenas por determinação legal ou por reação a uma situação de mercado. 

Seguir regras ou procedimentos, muitas vezes, é encarado como limitador da gestão da inovação da Companhia, visto que define padrões a serem adotados obrigatoriamente. Essa é uma visão distorcida do que significa atender as regras básicas e critérios que trazem mais organização, segurança e transparência aos processos de uma empresa.

Compliance é muito mais que assumir padrões, implementá-los e achar que são suficientes para a forma mais organizada e ética da companhia atuar. É garantir que a prática dessas regras traga o conforto à companhia, aos seus investidores, instituições e demais participantes do mercado de capitais, de que os padrões atendidos trarão confiabilidade ao que a empresa vem desenvolvendo.

Esse assunto tem bastante aplicabilidade ao dia-a-dia das Relações com Investidores. Nós, como profissionais de RI, somos diariamente confrontados com situações em que temos que usar o Compliance como balizador das nossas decisões. Diferente do que o senso comum pode interpretar, ter padrões mandatórios a serem seguidos auxilia profundamente o trabalho do RI de duas formas:

  • A primeira, quando se está em conformidade com suas regras internas e externas, a corporação trabalha de acordo com o que os órgãos governamentais e mercado de capitais entendem como prática correta;
  • A segunda, e não menos importante, é a consequência que isso traz para a empresa, a saber: controles internos mais apurados, maior entendimento da informação gerencial e operacional, maior transparência e objetividade na interpretação do valor da companhia, estruturas financeiras otimizadas, e, finalmente, maior valor para o investidor, que tem mais clareza sobre o que está analisando e tomada de decisão de melhor qualidade.

Além dessas vantagens diretas, o Compliance também contribui com o trabalho do profissional de RI, dando respaldo, através de obrigatoriedade e eventual aplicação de penalidades, da necessidade de atendimento as práticas de Governança Corporativa. Em outras palavras, o RI, em sua importante atribuição de traduzir o valor da empresa ao mercado, muitas vezes, tem como desafio defender internamente a importância de seguir as melhores práticas do mercado e o código de conduta da empresa que representa, bem como a equidade, tempestividade, transparência e uniformização das informações. E como guardião desses princípios, o RI tem no Compliance argumentos junto à administração da Companhia sobre a forma pela qual alguns processos devem ser desenvolvidos e apresentados ao mercado.

O atendimento mero e pontual ao Compliance na Companhia, sem estar acompanhado de uma construção de ambiente propício a isso, pode dificultar os benefícios proporcionados às empresas com o Compliance. Já observei companhias notadamente avessas ao cumprimento de regras e padrões de RI, cuja estratégia era esconder e aguardar o risco da punição, por não entendê-las como um fomentador na atração de investidores, mas um risco de se exporem mais do que gostariam.

Assim sendo, o profissional de Relações com Investidores deve estar sempre atento à estratégia mais adequada para defender e implementar o Compliance em sua companhia, a fim de ser entendido como um viabilizador das boas práticas e nunca um “policial-auditor” do não atendimento às mesmas. Somente através da propagação de ambiente organizacional, patrocinado pela alta gestão, que compreenda os benefícios do Compliance é que as companhias poderão fruir de cenário mais promissor de captação de investidores.

Sandra Silva Calcado é diretora da regional Rio de Janeiro do IBRI - Instituto Brasileiro de Relações com Investidores.
sandracalcado@globo.com


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