Mudanças Climáticas

GESTÃO CLIMÁTICA

O envolvimento da alta liderança na gestão climática e os incentivos financeiros são fatores de sucesso para liderança em desempenho e transparência ambiental.

Os desafios ambientais sem precedentes que enfrentamos hoje – como redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), preservação dos recursos hídricos e das florestas – também são problemas econômicos. Um fato incontestável é a seleção por meio de empresas e investidores: o bottom line está em risco devido à crise ambiental.

A definição de um acordo exitoso em Paris, na 21ª Conferência das Partes da Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), em dezembro de 2015, é a última chance para se chegar a um consenso quanto a um marco internacional para limitar o aquecimento global abaixo de 2°C. Isso, no entanto, será possível somente com uma forte mensagem de liderança da comunidade de negócios, sinalizando claramente que já existe uma massa critica que apóia um acordo climático.

Sem marcos políticos bem desenhados, sejam eles nacionais ou internacionais, as companhias continuarão operando em circunstâncias de risco e incertezas. Uma resposta ambiciosa em âmbito internacional é crucial para que as companhias adaptem seus modelos de negócios e processos produtivos para uma economia sustentável. É uma das conclusões do estudo “Conexão entre mudanças climáticas e modelos de negócios: uma agenda em evolução”, recentemente lançado pelo CDP (Carbon Disclosure Project).

Desenvolvida em parceria com a Consultoria Catavento e o Instituto Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a publicação do CDP analisa as respostas das 52 empresas participantes da edição brasileira do Programa Mudanças Climáticas em 2014, identificando os business cases e os benefícios econômicos da mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Criação de valor por meio da redução de emissões de CO2
No Brasil, 83% das empresas que reportaram ao CDP neste ano revelaram riscos e oportunidades provenientes das mudanças climáticas, sendo a maior parte das oportunidades relacionada à regulamentação futura. Com foco no longo prazo, a maior parte das empresas espera que essas oportunidades reportadas sejam capturadas financeiramente a partir do terceiro ano. No entanto, elas reconhecem que é preciso atuar de imediato para uma melhor adaptação às mudanças climáticas.

A Marfrig, por exemplo, foi a empresa que relatou maior redução percentual de emissões em 2014, segundo o relatório do CDP. O controle de emissões de GEE é um dos indicadores do Sistema Integrado de Gestão da companhia, que realiza o inventario de emissões por planta produtiva, abrangendo as 16 unidades da empresa em diversos países. O resultado do relatório de emissões é apresentado à diretoria executiva uma vez ao ano, porém é monitorado pelo Comitê de Sustentabilidade periodicamente. Caso haja alguma ocorrência excepcional, o Comitê pode levar o tema para conhecimento e eventual atuação da diretoria.

Investir em planejamento relacionado à resiliência frente às mudanças climáticas tornou-se crucial para todas as empresas e o engajamento de investidores sobre essas questões é crescente. Em 2014, as empresas brasileiras relatam ter investido R$ 3,7 bilhões em iniciativas de redução de emissões. Embora o valor seja 38% inferior ao reportado no ano anterior, tais investimentos mostraram-se mais efetivos, pois representaram um decréscimo anual de 103% superior à redução das emissões alcançada em 2013. Ou seja, foi possível obter redução anual de emissões mais significativa com menor volume de recursos financeiros. Um aspecto que deve merecer maior destaque são os investimentos reportados que geraram uma economia monetária anual para as empresas de R$ 118, 7 milhões.

Apesar da maior efetividade dos investimentos, ainda há espaço para redução de emissões de GEE por meio do comprometimento de maior número de empresas com o estabelecimento de metas gerenciais. Segundo o relatório, metade das companhias estabeleceu metas de redução de emissões, mas apenas 71% destas empresas conseguiram atingi-las. Os setores de concessionárias, materiais básicos, financeiro e de bens de consumo básico são os que mais fazem uso de metas gerenciais para impulsionar as reduções.

Governança e engajamento
Para um melhor desempenho na gestão das mudanças climáticas é necessário que a liderança da empresa exerça um papel mais efetivo, participando da formulação de estratégias e do estabelecimento de metas objetivas a serem desdobradas para os demais níveis da organização.

Na Cemig - empresa líder em Transparência no scoring de 2014 -, por exemplo, o presidente da companhia tem papel decisivo em relação a todos os assuntos de sustentabilidade da empresa, sendo responsável pela inclusão de riscos e oportunidades ligadas às mudanças climáticas no planejamento estratégico para os próximos 30 anos. Já a Braskem o programa de ação prevê, além da existência do comitê, uma série de metas de mudanças climáticas atreladas à remuneração variável dos gestores de operação dos ativos e das unidades de negócio da empresa.

Do ponto de vista dos investidores, alguns fundos de médio e pequeno porte brasileiros já se destacam como líderes no que diz respeito à integração de dados sobre mudanças climáticas à gestão de investimentos. Hoje, sua estratégia envolve, principalmente, o uso de dados de mudanças climáticas do CDP como indicador de escolha de investimento. Com o objetivo de engajar as empresas, são incorporadas as questões de ESG nas análises de investimentos e nos processos de tomadas de decisão, visando à definição da pegada de carbono da carteira do fundo.

Em âmbito internacional, os investidores já estão um passo a frente no uso de informações do CDP para a criação de índices de carbono ou critério para desinvestimentos. Tal fator representa a crescente tendência mundial de reconhecimento dos investidores no real valor em risco, impulsionando cada vez mais a ação de alguns dos 767 investidores que apóiam a “solicitação de informação” por meio do CDP.

Transformação dos negócios
A crescente preocupação das empresas com alterações na regulamentação de mudanças climáticas parece influenciar o engajamento das empresas com formuladores de políticas públicas. No ano passado, a maioria das iniciativas que dialogaram com as políticas públicas relacionadas às mudanças climáticas foi realizada diretamente com entes públicos no desenvolvimento de legislação sobre o tema ou por meio de associações empresariais.

No Brasil, as possíveis mudanças regulatórias, como “cap and trade” e taxas de energia e emissões, estão no centro das atenções das empresas. Embora ainda apresentem dificuldades para avaliar o horizonte temporal, como a probabilidade de ocorrência e os possíveis impactos em seus negócios, elas estão empenhadas em mapeá-los e gerenciá-los. Ao identificar probabilidade de ocorrência e impactos, esses riscos são entendidos como questões de curto prazo ou cuja probabilidade de ocorrência é desconhecida para a maior parte das empresas.

Esses riscos que podem impactar nas operações são identificados pela metade das empresas que reportaram ao CDP. Tais incertezas, entretanto, podem ser reduzidas por meio de um monitoramento adequado das alterações climáticas sobre essas operações. Isso, no entanto, se traduz em uma aceleração da busca por adaptação por meio de iniciativas de curto prazo.

Por outro lado, as oportunidades identificadas são de longo prazo (três anos ou mais), o que exige ações imediatas. Neste caso, é preciso organizar os sistemas de informação de modo que incorpore dados sobre mudanças climáticas e relacione seus efeitos com possíveis impactos nas operações e nos negócios, além de quantificar em termos financeiros. Dessa forma, a empresa estará apta a tomar decisões com nível de incerteza reduzido.Tal estratégia permite às empresas entrarem em novos mercados, bem como desenvolverem novos produtos e serviços.

Sobre o CDP
O CDP (Carbon Disclosure Project) é uma organização internacional sem fins lucrativos que provê um sistema global único para que as empresas e cidades meçam, divulguem, gerenciem e compartilhem informações vitais sobre o meio ambiente. O CDP trabalha com as forças do mercado, incluindo 767 investidores institucionais com ativos na ordem de US$ 92 trilhões para motivar as companhias a divulgarem seus impactos no meio-ambiente e aos recursos naturais, assim como suas ações para reduzi-los. Atualmente, o CDP possui o maior volume de informações sobre mudanças climáticas e água do planeta e procura colocar estes insights na pauta das decisões estratégicas dos investidores e das decisões políticas. Para saber mais, visite: www.cdpla.net


Juliana Lopes
e Nina Braun são, respectivamente, diretora e gerente de relacionamentos do CDP Latin América.
www.cdpla.net


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