Qual o nível de comunicação e integração existente entre a área de Relações com Investidores (RI) e os órgãos do sistema de Governança Corporativa (GC) na sua empresa? Os responsáveis pelo RI estão sempre em busca de informações importantes a serem divulgadas ao mercado e que não chegam em suas mãos através de processos estruturados? Ou, o Conselho de Administração reconhece a importância do RI como veículo de comunicação com os mercados, para divulgar decisões e fatos da administração e também para ‘auscultar’ os ‘batimentos cardíacos’ dos mercados ao olhar para o desempenho da sua empresa?
Como você sabe, a Governança Corporativa é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, o Conselho de Administração, a Diretoria e os órgãos de controle. Como também definido pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), "as boas práticas de Governança Corporativa convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para sua longevidade“.
Ou seja, se a área de Relações com Investidores trabalha para interagir com os diferentes mercados, que refletem os anseios das diversas ‘partes interessadas’ (stakeholders) no negócio, e procura assegurar a imagem de credibilidade da empresa para obter a confiança dos investidores em obter retorno sobre os seus investimentos no médio e longo prazos, parece-nos natural que a área de RI seja reconhecida e valorizada pelo sistema de Governança das empresas para atuar de forma mais efetiva na sua ‘linha de frente’ junto aos mercados.
Mas será que os profissionais que atuam nas atividades de RI têm uma noção adequada sobre os ‘conflitos de agência’ que permeiam as relações entre os acionistas e seus representantes nas empresas (Conselho de Administração, Diretoria Executiva, Conselho Fiscal, Auditorias Interna e Independente), os quais, necessariamente, vão se refletir na capacidade de trabalho e de comunicação dos responsáveis pelas Relações com Investidores?
As dúvidas acima apontadas vieram à minha mente durante a participação no 15º Congresso Anual do IBGC (13-14/Outubro/2014), cujo tema foi “Governança Corporativa que Cria Valor: um Processo em Evolução”, ao constatar que poucos profissionais de RI estavam presentes no Congresso e ao comentar sobre este tema com companheiros que participaram comigo em 1997 da fundação do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores), como a Doris Wilhelm, RI da Forjas Taurus, e a Carmem Kanter, atualmente no Conselho de Administração da Light, além do publisher da Revista RI, Ronnie Nogueira.
E percebi que as minhas preocupações eram válidas quando a Doris Wilhelm me respondeu, ao consultá-la sobre qual o relacionamento existente entre a Governança Corporativa e as Relações com Investidores: “Velloso, Relações com Investidores é um dos esteios da Governança Corporativa”.
Concordo plenamente com esta assertiva. E, ao assistir à apresentação e debates sobre as atividades de uma ‘Secretaria de Governança’, já institucionalizada em vários países do mundo e que assume até mesmo o papel de um ‘general counselor’ em algumas empresas, comecei a pensar em outras oportunidades de fortalecimento da função de Relações com Investidores junto aos administradores das empresas que talvez comecem a ser ocupadas por outros profissionais.
Não restam dúvidas de que a função primordial do RI, de ser a área responsável pelo suporte ao Diretor de Relações com Investidores (cujas atribuições estão previstas em legislação e normas da CVM) nas suas relações com o mercado e o ponto focal dos investidores em busca de informações, não poderá ser ‘usurpada’ por qualquer profissional ou outra área das empresas.
Mas constatamos a cada dia que diversos Diretores e Conselheiros de Administração não estão capacitados a se comunicar com os diferentes públicos e mercados interessados nas empresas e tampouco conhecem as suas responsabilidades e as boas práticas para se estabelecer um eficaz sistema de governança nas companhias. E, ao verificar que há uma crescente demanda sobre esses executivos para que também se pronunciem sobre os negócios e as suas perspectivas futuras, pergunto-me se não deveria ser RI a área habilitada, através de seu aprimoramento, a dar suporte à administração sobre o tema ‘governança’ e, portanto, fortalecida para ser reconhecida como verdadeiro ‘esteio’ pelos integrantes do sistema de governança corporativa das companhias.
Como profissionais de RI defendem a existência de uma Diretoria de Relações com Investidores segregada das demais responsabilidades de um Diretor Financeiro, Vice-Presidente ou Presidente (que normalmente acumulam as responsabilidades de um DRI, conforme a legislação) parece-me evidente e indispensável que, na multiplicidade de conhecimentos e experiências que a bagagem de um bom profissional de RI deve conter, tem que estar inserido o domínio da ’teoria de agência’, dos princípios básicos e das boas práticas de governança corporativa.
E na sua empresa? Como você responderia às dúvidas colocadas no início deste texto? Você já está contribuindo para o aprimoramento e o fortalecimento das responsabilidades da área de Relações com Investidores?
Carlos Rocha Velloso é Conselheiro de Administração e Conselheiro Fiscal certificado pelo IBGC; co-fundador e ex-diretor do IBRI; instrutor em programas de treinamento em Governança Corporativa; e sócio-diretor da CRV CorpGovernance Consultoria.
velloso@crvcorpgov.com.br