O Instituto Brasileiro de Relações com Investidores - IBRI lançou um posicionamento cujo título é “RI cria Valor”. O conteúdo que suporta essa afirmação e que está sendo divulgado amplamente pela mídia constata que a atividade de RI é relativamente nova e dinâmica. Aos profissionais, cabe a construção de uma relação de confiança entre a companhia e o mercado de capitais na estrita observância da transparência, do gerenciamento de expectativas internas e externas e da legislação.
No estudo “Comunicação com o Mercado: alinhamento estratégico para criação e preservação de valor”, dentre várias conclusões, se mapeou que as áreas de RI são um agente importante para o equilíbrio das expectativas, bem como para a geração e preservação de valor junto aos acionistas e ao mercado.
A mesma pesquisa destacou, porém, que há divergência entre as percepções da própria administração das empresas e seus investidores quanto à criação de valor. Talvez porque os objetivos não sejam os mesmos e existam componentes sensíveis nessa relação, como os incentivos e a visão de curto ou longo prazo.
Os incentivos e essa visão, para realmente criarem valor, deveriam ter como foco o longo prazo. Talvez, aqui, caiba um alinhamento entre o que considero ser esse tempo. Começaremos a discutir um assunto de longo prazo quando as expectativas estiverem projetadas e alinhadas para daqui a 10 ou 20 anos. Qualquer coisa menor que isso já está acontecendo. No caso dos administradores e acionistas, cabe monitorar se o agora está conectado ao objetivo comum de longo prazo, eventualmente corrigir o rumo e, sobretudo, certificar se a empresa está se afastando ou não de seus princípios.
Com a mesma temática, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC realizou entre os dias 3 e 4 de outubro deste ano o seu 15º congresso, cujo tema foi centrado em “Governança Corporativa que cria valor: um processo em evolução". Em um dos muitos assuntos discutidos, o sócio-sênior da Weil, Gotshal & Manges LLP, Ira Millstein, ressaltou, especialmente para o congresso, que a governança não é um cassino e sim um instrumento para criar valor em longo prazo.
No encontro realizado pela Subcomissão de Planejamento Estratégico do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (IBEF-SP) evidenciou-se a dificuldade em medir esse aspecto, principalmente porque falta qualidade à demonstração contábil da maioria das empresas no Brasil. Como definição, criação de valor seria a partir do ponto em que o retorno do capital fosse maior que o custo de capital.
No trabalho “Avaliação de desempenho de empresas brasileiras com ações na NYSE: um estudo de correlação entre EVA® e MVA®”, realizado pelo Departamento de Contabilidade da Universidade Federal do Ceará, foi visível a quem serve de benefícios os modelos tradicionais de avaliação de desempenho. Estes se baseiam somente em dados contábeis, não incluindo a exigência de rentabilidade mínima sobre o capital investido pelos acionistas e dando pouco tratamento para o risco associado à incerteza com relação aos resultados futuros, como, por exemplo, os indicadores lucro líquido, retorno sobre ativos, lucro por ação e retorno sobre o patrimônio líquido, que abordam somente conceitos de análise empresarial, não destacando a real criação de valor para os acionistas em longo prazo. Sem falarmos no Ebitda.
Por que esse tema de criação de valor tem gerado tanta preocupação e debate? Para complicar ainda mais a criação de valor para os clientes? E para a cadeia de suprimentos? E os colaboradores? Que métricas refletem esses múltiplos interesses? Iremos há algum lugar se um está olhando pelo retrovisor, outro para o próximo trimestre e alguns sendo simplesmente afetados pelas decisões?
No congresso do IBGC, ainda, inúmeros foram os exemplos dos mais diversos setores da economia de que o caminho para a criação de valor passa por um entendimento profundo do que é governança corporativa, adaptada à cultura e modelo de negócio. Nesse sentido, as boas práticas são referências, e não produtos de prateleira.
Só é possível criar valor se todos, interna e externamente, estiverem focados no longo prazo. Com objetivos comuns e incentivos adequados aos múltiplos interesses, a geração de valor será plena. Mais do que isso, será fácil mantê-la. Os autores Michael E. Porter e Mark R. Kramer sugerem que tivemos grandes avanços em matéria de eficiência econômica. No entanto, algo profundamente importante se perdeu nesse processo, à medida que oportunidades mais fundamentais de geração de valor foram ignoradas. O escopo do raciocínio estratégico se contraiu. Eles desenvolvem o conceito de valor compartilhado.
Para não criarmos mais um conceito, que quer dizer muita coisa ao mesmo tempo em que cada um conceitua e aplica a seu modo, devemos partir do que é essencial: diagnóstico preciso e incorporação de práticas de governança. Isso posto, estaremos por definição e consequência focados no longo prazo e, portanto, na geração e manutenção de valor.
Rafael S. Mingone é sócio-diretor da TMG Estratégia, consultoria em governança
corporativa e professor da Trevisan Escola de Negócios.
rafael@tmgestrategia.com.br