Recentemente, em junho de 2022, a Conferência dos Oceanos mergulhou em muitos desafios, de múltiplas dimensões, para a conservação do bioma marinho. As mudanças climáticas, a biodiversidade, o desenvolvimento sustentável, a Ciência, Tecnologia e Inovação estiveram presentes nos diversos debates, e os investimentos e financiamentos para esse cuidar e olhar de preservação dos ecossistemas.
O plástico nas ilhas de resíduos depositados nos oceanos tem merecido a maior atenção. Grandes Produtores de plásticos e empresas que comercializam bens embalados em plásticos presentes em nosso dia-a-dia oferecem seus nomes em listas de maiores contribuintes para o lixo plástico nos oceanos, como a lista da Minderoo Foundation e da #breakfreefromplastic, que conta com 2.671 organizações pelo mundo.
Grandes empresas com ações em bolsas que começam a rever seus processos e buscam inovações como os polímeros biodegradáveis. A atenção dos investidores nos relatórios ESG questionam os resultados e valor de mercado das ações para a nova ordem de sustentabilidade do planeta.
Os Oceanos, além de maiores captadores de dióxido de carbono do planeta, nos oferecem um rico volume de recursos e uso em muitas cadeias produtivas que transitam pelos mares e Bolsas do Mundo. O caso da AP Moeller Maersk, a maior transportadora de carga e frete internacional do mundo, com ações na bolsa, fechou o primeiro porta-contêiner neutro de carbono do mundo com os estaleiros Hyundai Mipo. A Hyundai Heavy Industries possui o maior estaleiro do mundo, por carteira de encomendas, empresa também cotada em bolsa. Com extensão de 30,500 km, o cabo submarino Southern Cross foi construído em 2000 pela empresa japonesa especializada em semicondutores, Fujitsu e pela Alcatel-Lucent, fusão da empresa francesa Alcatel com a americana Lucent Technologies. Alguns exemplos, das indústrias química e petroquímica, dos serviços de logística marítima, dos portos e estaleiros, da indústria de cabos submarinos e muitos outros setores e cadeias produtivas ligadas aos Oceanos avançam na busca de capital.
Ao tempo que, o ordenamento dos recursos do mar e o equilíbrio da vida marinha devem estar contemplados nesse grande ecossistema do mercado de capitais, nos IPOS, fusões e aquisições, bonds e outros veículos de obtenção de fontes. No Brasil, o avanço das práticas ESG, da cultura das ciências oceânicas, do conceito da Amazônia azul combinados com a conservação e preservação dos biomas marinhos e sua diversidade refletem a importância do uso ordenado dos recursos do mar pelas companhias que participam do mercado de capitais.
Um dos registros importantes é o anuncio do Planejamento Espacial Marinho, pela Marinha do Brasil e assessorada pelo BNDES, que dever ter inicio na Região Sul do País. O mercado estará atento em suas avaliações ao ordenamento proposto para o Oceano nas Zonas Econômicas Exclusivas nessa nova fronteira de possibilidades de produção, comércio e serviços, para que o desenvolvimento seja sustentável socioambiental e economicamente.
Com 72% da produção da Petrobrás e atingindo 2,8 milhões de barris dia, o pré-sal é uma realidade que movimenta bilhões de dólares no Brasil, além dos navios e plataformas nessa infraestrutura. A Petrobrás obteve no 1º. Trimestre de 2022, o segundo maior lucro entre as empresas petroleiras no mundo, superando Shell, BP, Exxon Mobil e outras. O valor de mercado da empresa na Bolsa está em US$ 380 bilhões. Da mesma forma, na transição energética, a perspectiva das riquezas que serão produzidas pelas Energias offshore já começa a movimentar o mercado, com números bilionários em seus projetos.
A empresa brasileira Servtec e a australiana Macquaire, anunciaram um projeto de 3,48 GW, cerca de US$ 10 bilhões de investimentos. A Macquaire é um dos maiores grupos australianos com valor de mercado em torno de US$ 45 bilhões, superando a o Grupo australiano Fortescue que já possui pré-contrato no Porto do Pecém no Ceará, com expectativa de US$ 5,8 bilhões em investimentos no ouro verde, a usina de hidrogênio. Novamente, o valor de mercado da Fortsucue é da ordem US$ 40 bilhões, a logística portuária e marítima em nossos mares revelam números significativos desse novo olhar para os oceanos. A preocupação com o meio ambiente é seguida como princípio base das ações das empresas australianas no Brasil. O economista chefe da Macquaire, por exemplo, é o Head do Net Zero.
Os oceanos trazem também os provedores de infraestrutura e conectividade para as Bolsas de valores. Recentemente BSO e Ellalink lançaram mais um cabo submarino interligando a América Latina e Europa; “A BSO fez parceria com a EllaLink em um nível estratégico para implementar a conectividade e infraestrutura de latência necessária para que empresas de comércio do mundo todo acessem as bolsas latino-americanas e capitalizem as oportunidades que elas oferecem. Essas novas rotas abrirão possibilidades para firmas de negociação proprietárias, bancos de capital e fundos de hedge.”.
No Ceará, segundo maior entroncamento de cabos de fibra ótica do Globo, já são 18 CLS (Cable Landing Station), estações de aterrisagem de cabos. Um mundo acelerado nas transformações digitais, na busca da transição energética e no uso ordenado da economia azul, todas as tendências interconectadas e interdependentes. No senso comum, os oceanos e a pesca seriam a primeira grande fronteira, em importância sim. Alimentos, na crise alimentar que se anuncia, inflação global das commodities, precisando de destaque e fomento. Hoje, o volume de pescados produzidos no Brasil ainda é muito pequeno e os investimentos nessa área tendem a crescer com joint ventures ou no aquecimento no mercado de M&A nesse segmento.
No ano de 2022 foi definido pela ONU na década dos oceanos, como o ano da pesca e da aquicultura. No Brasil, a produção de pescados é dividida em 49% da aquicultura e 51% da pesca, sendo 90% das embarcações “artesanais”. Um mundo de aculturação alimentar a ser promovido, não obstante as preocupações com os resíduos jogados nos oceanos. Enfim, o turismo e o esporte náutico e todas as cadeias produtivas existentes da gastronomia, hotelaria à fabricação de equipamentos para kitesurf ou Windsurf que trazem grifes do mercado preocupadas com as práticas ESG, com materiais recicláveis nessa produção.
Um mar de oportunidades à disposição e em busca do mercado de capitais como fonte de nova fronteira, no mundo e no Brasil. Os Oceanos tem sim impactado o Mercado de Capitais, como foi a breve tentativa nesse ensaio, em umas poucas camadas e dimensões, de associar essa “intrínseca” e forte ligação.
Celio Fernando Bezerra Melo
é economista, vice-presidente da APIMEC BRASIL e secretário executivo da Casa Civil do governo do Estado do Ceará.
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