Vivemos em um mundo dinâmico, complexo e com transformações aceleradas que exigem respostas rápidas para problemas das mais diversas classes, com os quais a nossa sociedade e organizações se deparam. Cenários nunca antes previstos se impõem desafiando o pensamento crítico e até o nosso modelo mental. Nascem frequentemente novas exposições a riscos, regulamentações, novos modelos de negócios e inovações constantes.
O físico e matemático alemão Albert Einstein dizia que não podemos resolver um problema com o mesmo estado mental que o criou. A mudança de mindset é fundamental no caminho de evolução.
Nesse contexto, o papel do auditor ganha relevância quando agrega uma visão sistêmica dentro das organizações, sendo capaz de somar conhecimentos para construir valor, ética e confiança em um cenário de incertezas. Empresas com auditoria hábil em refletir de forma positiva o dinamismo atual fortalecem suas relações com colaboradores, investidores, a sociedade e outros stakeholders.
Como desenvolver a atuação centrada em um profundo conhecimento em finanças, aspectos normativos e regulatórios, para assimilar a revolução tecnológica e a velocidade das informações? Como integrar com consciência temas essenciais como a diversidade e inclusão, questões ambientais, sociais e de governança corporativa?
Defendo o uso amplo de tecnologia como aliada estratégica da execução de uma auditoria sólida, dentro de uma visão próxima e positiva frente à gestão de riscos. Quanto mais formos capazes de enxergar com clareza o ambiente de riscos, mais nos relacionamos com ele de forma ativa, orientada para a sua mitigação e capacidade de gerar respostas e direcionamentos futuros.
A área de auditoria interna, usualmente, não é responsável pela gestão dos riscos, mas é essencial que olhe para eles e gere indicadores que serão fundamentais à saúde do negócio. Trata-se de uma versão inovadora quanto à metodologia de auditoria, passando de uma visão baseada em amostragem para um modelo que inclua monitoramento contínuo de todas as transações, tais como comunicação sobre os erros e habilidade para uma resposta imediata.
Para estudiosos conceituados no tema de auditoria e gestão, como o professor Miklos Vasarhelyi (Rutgers Business School), o desenvolvimento de um modelo de auditoria com monitoramento reduzirá o tempo necessário para identificar os riscos, melhorando a performance no processo de resposta e mitigação a esses riscos. O estabelecimento de tradução de riscos e dados para serem comparáveis entre empresas do mesmo setor, assim como o uso de inteligência artificial, aprendizagem de máquinas e até mesmo aprendizagem profunda, estão entre as técnicas que podem fortalecer muito as auditorias internas.
“A auditoria prevista para o futuro depende de ferramentas tecnológicas e requer acesso a dados em alta velocidade.” - Vasarhelyi
O mercado de tecnologia na análise de riscos representa, portanto, um fator basal para o trabalho da auditoria, que tem seus elementos de análise cada vez mais trabalhados no ambiente virtual e de constantes mudanças. A análise de riscos nos dá a oportunidade de enxergar a probabilidade de um determinado evento acontecer e suas consequências. Isso permite atribuir a cada risco identificado uma classificação, tanto para a probabilidade quanto para o impacto, sendo que essa combinação determina o nível do risco.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) considera que a análise de riscos pode ser qualitativa, semiquantitativa e quantitativa. A qualitativa é a mais subjetiva, feita com base na interpretação pessoal dos gestores e analistas em relação a determinado risco, como a reputação de uma empresa, por exemplo. Na semiquantitativa, que considera o aspecto mensurável e a criação de suposições e classificações numéricas para várias situações, os riscos passarão por fórmulas que definirão o seu nível. Já a quantitativa é a mais apurada e traz a necessidade de dados factuais, busca de estudos e informações.
Para avançar ainda mais com modelos preditivos e aprimorar a visão com base em dados, especialmente quando se tem um histórico robusto, podemos utilizar até mesmo modelos estocásticos que visam executar regressões, Simulação ou Método Monte Carlo, e ainda é possível fazer uso das distribuições estatísticas para objetivos específicos.
Essa breve abordagem nos permite contextualizar que a análise de riscos é elaborada a partir de aspectos qualitativos e quantitativos, criando um ecossistema que combina sensibilidade com cálculos e metodologia aplicada às organizações. Essa construção convoca a fusão com sistemas de softwares para não sobrecarregar o trabalho humano, estabelecendo um mercado em plena ascensão. Dados capturados mostram que o uso de tecnologias tem se tornado um componente essencial às empresas, colaborando para a economia de tempo, a visão unificada dos riscos da companhia e a substituição do trabalho burocrático pelo de inteligência.
Evolução global - adesão de softwares Análise de Risco e Auditoria (US$ bilhões)
Fonte: Bravo Research
Apesar da particularidade entre os setores, uma análise de riscos e ameaças coesa atende fatores semelhantes em todas as verticais, como: i) segurança do trabalhador; ii) entendimento da concorrência; iii) fatores climáticos e externalidades naturais; e iv) atendimento a regulamentações. Todos esses componentes aparecem nos setores, seja com grande ou pequeno impacto. Dito isso, para um crescimento sólido e acima de tudo seguro, é necessário que os auditores prezem por uma análise de riscos eficaz e que atenda às necessidades da empresa também nos aspectos ESG.
Dados do mercado global mostram que a auditoria é a área dentro das organizações que apresenta maior tendência de crescimento no uso de softwares para ESG, e há uma razão para isso: por ser um tema complexo, há uma grande necessidade do uso intenso de tecnologia para a captura de dados que serão utilizados para criar uma visão analítica e ampliar a capacidade da função de auditoria.
Uso de tecnologia para ESG pelos setores internos das organizações
Fonte: Bravo Research
Tecnologia impacta a performance de auditoria
Apesar do movimento de expansão, o mercado total de softwares no Brasil com foco em análise de riscos ainda é incipiente, se comparado ao resto do mundo. O mercado norte-americano é quase doze vezes maior que o brasileiro, o que pode ser visto com bons olhos se considerarmos o horizonte de oportunidades em nosso país.
Sendo sinônimo de confiabilidade e segurança para as empresas e seus stakeholders, os processos de análise de riscos e vulnerabilidades presentes no processo de auditoria auxiliam todos os tipos de setores. Desde órgãos públicos até empresas privadas, há uma série de benefícios para os diversos tipos de organização com o uso da combinação de recursos tecnológicos servindo à auditoria.
Compreende-se como a tecnologia impacta a performance do processo de auditoria, constituindo-se como uma aliada estratégica na entrega de maior inteligência com ética, transparência e confiabilidade para as informações corporativas. O uso de ferramentas tecnológicas traz novas possibilidades para o trabalho do auditor, como relatórios automatizados e acompanhamento automático de novas normas e frameworks, além de embasamento para uma tomada de decisão e influência dentro da organização de forma mais efetiva.
A confiança que encoraja investidores, colaboradores, a sociedade e outros stakeholders se dá por meio da solidez financeira, mas também pelo propósito, valores, ética e consciência que traduzem uma nova cultura em governança corporativa e os princípios do Capitalismo Consciente. A auditoria tem papel fundamental dentro desse sistema. Quanto mais apoiada por ferramentas atuais, maior a sua qualificação frente aos ambientes de riscos, mais o seu olhar crítico e sistêmico ganha valor e poder para provocar mudanças positivas e inovação dentro das organizações.
A habilidade de antever riscos e observar tendências internas e externas eleva a auditoria a uma posição altamente estratégica, capaz de melhorar e proteger a performance das organizações com geração de impacto para todos os stakeholders.
Claudinei Elias
é CEO e Fundador da Bravo GRC, empresa pioneira em tecnologia e consultoria para Governança, Gestão de Riscos e ESG, e Conselheiro Deliberativo do Instituto Capitalismo Consciente Brasil.
claudinei.elias@bravogrc.com