Mercado de Capitais: Desafios com as turbulências do novo milênio & ESG
Nesta edição, entrevistamos o economista, especialista em finanças corporativas e mercado de capitais, Haroldo Levy Neto, Diretor Técnico e Membro do Comitê ESG da APIMEC BRASIL. Personagem presente em importantes mudanças – para melhor! – do mercado de capitais nacional, ele conversou conosco virtualmente, por um pouco mais de duas horas. Com ampla vivência corporativa, nosso entrevistado, apresenta uma retrospectiva sobre os mercados de capitais interno e externo a partir do novo milênio (2001), destacando marcos e avanços, em meio às turbulências, que se tornaram uma constante nas últimas duas décadas e no presente.
A seguir, nosso entrevistado discorre sobre os desafios que as turbulências citadas impõem aos profissionais de mercado, especialmente aos analistas de investimentos, bem como sobre ESG – Environmental, Social and Governance –, índices relacionados à sustentabilidade e sua padronização.
Alerta, ainda, sobre a importância de sócios controladores e conselheiros de administração na promoção das mudanças que tornarão o futuro planetário viável para as nossas famílias. O currículo do nosso entrevistado, visto a seguir, fala per se.
Haroldo Levy Neto é Economista, graduado pela FEA-USP; Diretor Técnico, Coordenador da Comissão de Demonstrações Contábeis e Membro do Comitê ESG – APIMEC BRASIL. Criador e Coordenador do CODIM - Comitê de Orientação para Divulgação de Informações ao Mercado, de 2005 a 2020. Coordenador Geral do Seminário Internacional CPC anual, desde 2004. Coordenador do GE Notas Explicativas (CODIM/CPC) que deu origem ao OCPC 07. Um dos criadores e Vice-Coordenador de Relações Institucionais do CPC, de 2006 a 2014. Também um dos criadores, estruturador e Diretor Administrativo e de Relações Institucionais da FACPC, de 2010 a 2013. Membro do GT ISSB para a criação do CBPS - FACPC e da CBARI / IIRC de 2012 a 2019 e de 08/2021 a 06/2022. Ex-executivo do Banco Itaú, com várias certificações e premiações: Certificado de Conselheiro de Administração e Conselheiro Fiscal - IBGC; CNPI - Certificado Nacional de Profissionais de Investimento - APIMEC BRASIL; Medalha Ernani Calbucci da Ordem do Mérito Contábil - CRC-SP; e prêmios “Analista de Valores Mobiliários” pela APIMEC-SP e pela APIMEC NACIONAL.
RI: Como o senhor analisa a evolução dos mercados de capitais nacional e internacional, do início do novo milênio até o momento?
Haroldo Levy Neto: Considero que apesar de todas as graves crises que o mundo tem passado, prejudicando o crescimento econômico e as performances das companhias, do ponto de vista de valor de mercado nominal na B3, saímos de R$300 bilhões, no final de 2001, para R$3,5 trilhões, em julho de 2022, crescendo, portanto, mais de 1.000%. Em dólares, o IBOVESPA saltou de US$6 mil para US$22 mil, crescendo quase 270%, no mesmo período; trata-se de uma valorização expressiva, da ordem de 6% ao ano. É claro que tivemos muitos altos e baixos, atingindo o IBOVESPA US$39 mil no final de 2009 e registrando o mínimo, em 2015, de US$11 mil. Os contextos político, macroeconômico e social afetaram fortemente a confiança nos mercados acionários globais; no Brasil, não foi diferente. Além disso, tivemos que fortalecer os direitos dos chamados acionistas minoritários ou investidores, com autorregulação, regulação e até legislação, a partir do ano 2000. A criação do Novo Mercado, em 2000, pela Bovespa, agora B3, foi um marco, com adesão livre das companhias a melhores padrões de governança corporativa. Outro marco importante foi a aprovação, pelo Congresso Nacional, de alterações na Lei das Sociedades Anônimas, restabelecendo os direitos dos minoritários e fortalecendo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A retirada da CPMF para negociações em bolsa criou um ambiente favorável que levou as entidades do mercado a se engajarem na contratação do IBMEC, para coordenar um novo Plano Diretor de Mercado de Capitais, a ser apresentado aos candidatos à Presidência da República em 2002. O Plano Diretor teve forte participação da APIMEC, agora APIMEC BRASIL, e a maioria de suas propostas foi implementada. Enfatizo que, nos últimos anos, evoluímos muito na dimensão da governança, tendo muitas companhias agregado práticas de trabalho que, além de respeitarem os investidores, lidam de uma maneira mais responsável com modelos de negócios, estratégias e riscos entre temas de grande importância. Ultimamente, temos trabalhado com foco na sustentabilidade, olhando outros aspectos do ESG (ou ASG), nas dimensões ambiental e social. Penso que estamos evoluindo no ambiental, mas temos que evoluir mais ainda, acelerando, também, o olhar para o social. Adicionalmente, é relevante citar o surgimento das chamadas cryptomoedas, em âmbito global. Este é um tema relativamente recente, que deve ser objeto de observação acurada. Existem impressionantes 14 mil tipos diferentes de cryptomoedas pelo mundo! O que fazer? Em minha visão, ter prudência, estudar, entender. Eventos que agitam o macroambiente têm sido uma constante nessa trajetória de cerca de 22 anos. E continuamos atravessando fortes turbulências, incluindo uma pandemia (ainda em curso, arrefecida pela vacinação em massa) e uma guerra que ora se mostra imprevisível quanto ao seu término (Rússia-Ucrânia). E temos uma situação inédita: uma inflação global inusitada. Temos assistido à rápida subida dos juros no mundo todo. A desigualdade se amplia. E mais: a diferença entre os valores nominais e os valores reais nos balanços patrimoniais distorce fortemente os índices de avaliações das companhias, o que pode prejudicar decisões de investimentos. Penso que a turbulência virou uma espécie de constante nessas duas décadas. O que cria um grande desafio para os analistas do mercado de capitais: computar, em suas valuations, eventos imprevisíveis que, ao mesmo tempo, se tornam recorrentes. Neste novo milênio, uma variável perturbadora emergiu e não parece dar sinais de que desaparecerá: o imprevisível recorrente. E a meu ver, não temos ainda novas fórmulas para tratar essa variável nas avaliações de empresas. Este é o novo normal que ora se apresenta. Definitivamente, o trabalho dos analistas de investimentos e dos gestores de portfólios, que nunca foi trivial, se tornou mais difícil.
RI: O senhor afirma que é preciso mais evolução nos fronts ambiental e social. Então acredita que esses movimentos de evolução têm sido insuficientes na prática?
Haroldo Levy Neto: Tenho a forte percepção de que no presente momento, em âmbito planetário, não estamos fazendo o que deveríamos para, efetivamente, mitigar os riscos do aquecimento global. E para enfrentar a desigualdade social. A pandemia COVID e a guerra parecem ter criado uma espécie de esfriamento nas iniciativas dos governos, das empresas e das demais organizações das economias. Já no que concerne ao social, penso que as desigualdades se aprofundaram, primeiramente, com a pandemia, e na sequência, com o aumento da inflação global e dos juros. Não trago aqui uma visão pessimista, mas defendo a ação. Entendo que precisamos de iniciativas em várias esferas: dos estados nacionais, das organizações empresariais e públicas, dos mercados financeiros e dos cidadãos. E acredito que os investidores e as entidades dos mercados de capitais têm desempenhado um papel importante, no sentido de cobrarem mudanças e de expressarem seu repúdio a práticas detestáveis como greenwashing; a meu ver, a principal fake news do campo da sustentabilidade.
RI: Como os investidores do nosso mercado, externos e internos, evoluíram desde o início do milênio? Existe alguma evolução específica para ressaltar? E quanto à atuação de gestores de portfólio e dos analistas de investimentos?
Haroldo Levy Neto: Consideremos, primeiramente, o mercado de capitais nacional. As entidades do nosso mercado, assim como a CVM, têm feito um trabalho de orientação e educação dos investidores desde sempre, além de terem evoluído muito na Educação Profissional Continuada (EPC) para os profissionais de investimentos em geral. A autorregulação tem funcionado bem, inclusive com a certificação dos profissionais e o credenciamento junto ao Regulador. Várias são as entidades fazendo um ótimo trabalho, seja com foco voluntário, como o IBGC, seja de cunho obrigatório, como na ANBIMA e na APIMEC BRASIL. Na APIMEC BRASIL, temos várias categorias de certificados e nunca é demais divulgá-las:
Observo que se o crescimento do mercado de capitais nacional nas últimas duas décadas foi notável, conforme vimos inicialmente, não basta o mercado crescer, é preciso que cresça com ele o arcabouço educativo que lhe dá sustentação. Se o mercado cresce, é preciso mais analistas e gestores de portfólio preparados, mais profissionais de relações com investidores preparados, mais educação para pequenos investidores. Educação qualificada e democratizada, na medida do necessário, é fundamental. Instituições como APIMEC BRASIL, IBRI, IBGC, AMBIMA, B3, ABRASCA, IBRACON, CFC, ANEFAC, ABIPEM e várias outras, com o apoio de instituições de ensino de alto nível, têm dado uma contribuição real para que exista educação qualificada voltada para o mercado de capitais. Quanto aos investidores e profissionais dos mercados de capitais interno e externos, especialmente os investidores institucionais, podemos afirmar que estes têm se tornado cada vez mais exigentes, demonstrando grande preocupação com os modelos de negócios, a estratégia, a sustentabilidade e os riscos, apenas para mencionar. Destacamos sua postura de exigir a verdade. Práticas de comunicação baseadas em escamotear a realidade, definitivamente, não são bem vistas por esses agentes e eles têm razão: no fundo, elas não passam de fake news, que desagradam investidores e depreciam o valor econômico e de mercado das empresas.
RI: Parece condição sine qua non a exigência de investidores, consumidores e profissionais a adoção de práticas ESG pelas empresas. Como o senhor percebe as respostas das empresas a essas pressões? E o amadurecimento dessas práticas no período em questão?
Haroldo Levy Neto: Vejo dois movimentos concomitantes. Por um lado, penso que houve uma importante mudança de cultura nos investidores, consumidores e, por consequência, no modus operandi dos profissionais de investimentos e das companhias. Ao mesmo tempo, percebo, conforme dito, certo esfriamento no campo das iniciativas socioambientais, por parte dos governos e das organizações, em decorrência da pandemia COVID e da inflação global. Consideremos, inicialmente, a mudança cultural citada. As catástrofes climáticas, infelizmente, têm feito com que todos, ou pelo menos, a grande maioria dos investidores, no mundo todo, coloque foco na questão do clima. Isso tem provocado mudanças de pensamento sobre o tema e colocado à mesa a necessidade de trabalhar melhor esse assunto, que é da órbita não apenas das companhias, mas dos governos e, é claro, de todos os cidadãos. Percebo clara evolução de uma consciência e de práticas organizacionais que, em tese, levariam muito mais tempo para mudar; ocorre que a dor das mudanças climáticas tem feito a cultura mudar. As mesmas inovações tecnológicas que têm feito alguns negócios desaparecerem da noite para o dia também têm ajudado no processo de abrir cabeças, forçando pessoas a saírem de suas bolhas e a mudarem seu modo de ver o mundo. Ao mesmo tempo, é preciso ter em mente que, ao lado da realidade ambiental, existe uma realidade social, estando estas duas dimensões frequentemente interligadas. E os riscos socioambientais são crescentes. É preciso romper outras bolhas e agir. Quanto ao arrefecimento por mim percebido no campo das iniciativas socioambientais, acredito que é preciso ação em prol da sustentabilidade. E para que exista ação, é preciso convencimento. Por vezes, pressão autorregulatória e, pontualmente, regulatória ou até legislativa. Os investidores dos mercados têm cobrado mudanças, é fato, mas parece ser necessário um trabalho mais intenso em relação aos sócios controladores e seus representantes nos conselhos de administração. Quando aqueles que detêm maior poder de decisão desejam que algo aconteça, as mudanças tendem a ser mais rápidas.
RI: O que poderia ampliar substancialmente o convencimento de sócios controladores e conselheiros de administração em prol de ESG e da sustentabilidade? Mais regulamentação da CVM, por exemplo? Mais mudanças legais? Ambos?
Haroldo Levy Neto: Sou favorável a alternativas e soluções criadas no âmbito dos próprios mercados financeiros e de capitais; em regra, meu pensamento é em prol da liberdade de escolha dos agentes do mercado. E sou partidário de educação institucional qualificada e continuada, que tem sido objeto da atuação de várias entidades do mercado e instituições de ensino, as quais devem ser enaltecidas pelo que têm feito. Educação é primordial. Ao mesmo tempo, a atuação da CVM e do Poder Legislativo é importante em situações específicas e até pontuais, nas quais os agentes do mercado tenham efetivas dificuldades de criar consenso sobre o que se deve fazer. Mas nesses casos, reguladores e legisladores necessitam ouvir em profundidade os variados agentes e ter sabedoria, no sentido de focar o benefício para o Planeta e o fortalecimento do mercado de capitais. O mercado é uma das mais importantes ferramentas de desenvolvimento socioeconômico que, se bem compreendida e utilizada, pode ser de imensa valia para um país.
RI: Em sua opinião, como ESG tem impactado o trabalho dos analistas de investimentos e as decisões dos gestores de portfólios?
Haroldo Levy Neto: Entendo que os fatores ESG estão e sempre estiveram incluídos na governança corporativa, um dos vértices da ferramenta. Só que agora, as questões ambientais e sociais estão destacadas no tripé ESG, estando mais explícitas e nominadas, devido às pressões de âmbito local, regional e planetário. Vejo isso de forma positiva, pois cria-se uma estruturação que favorece a evidenciação de indicadores, metas, iniciativas, resultados e tendências futuras. Os analistas de investimento sempre olharam as questões socioambientais, mas ainda têm grande dificuldade em obter informações; quando conseguem, existe a dificuldade de mensuração. Dessa forma, por vezes, terminam por assumir algumas premissas que nem sempre são as mais adequadas. Por isso, demandam muito mais informações das companhias, para as incluírem nas suas avaliações. Os aspectos sociais ainda estão sendo pouco olhados, a meu ver, mas já vemos sinais de mudança. ESG é uma jornada e a ferramenta ainda tem muito a crescer, inclusive metodologicamente, para ajudar o trabalho das empresas e dos profissionais de investimento. E destaco a importância da visão dos sócios controladores e conselheiros de administração, isto é, dos líderes que conduzirão a organização do presente ao futuro.
RI: O senhor entende que as práticas ESG adotadas pelas empresas são genuínas, voltadas à responsabilidade social e à preservação do meio ambiente?
Haroldo Levy Neto: Como acabei de afirmar, ESG é uma jornada e, em geral, não acontece da noite para o dia, ainda que, conforme dito, por vezes, a dor acelere o processo. E complementando alguns comentários feitos em respostas anteriores, o processo passa pela conscientização de sócios e líderes organizacionais e pela definição de um propósito organizacional, conectado com o futuro do Planeta. Pensando na sobrevivência e longevidade organizacionais, bem como no bem-estar de todos que orbitam ao redor da organização, além da sociedade como um todo. Há um longo caminho a trilhar: a meu ver, a grande maioria das companhias ainda não está preparada para atuar verdadeiramente em prol da sustentabilidade, seja pela falta de consciência que vem de cima, seja por desconhecimento de como fazer, seja pela falta (ainda) de capacitação profissional em sustentabilidade e ESG. Quais são as implicações desses problemas para os profissionais de investimentos? Podemos mencionar falta de informações, informações incompletas ou equivocadas. Lembrando que, para esses profissionais, existe também a dificuldade de conseguir informações padronizadas para fins de comparação. E como se não bastassem todas essas dificuldades, eis que emerge a variável que denominamos nesta entrevista imprevisível recorrente! Afinal, as mudanças têm sido potencializadas nas últimas duas décadas e não se vislumbra que deixem de ocorrer. Ao mesmo tempo, não precisamos ser pessimistas, pois quando avaliamos, com visão retrospectiva, o crescimento do mercado, o esforço educativo, a evolução das práticas de governança corporativa e os avanços conquistados, concluímos: é perfeitamente possível criar grandes melhorias e avanços expressivos. É preciso ter em mente a jornada e sua evolução.
RI: Qual é a sua opinião sobre o ISE B3 e sua evolução, com foco no compromisso com as práticas ESG das empresas participantes desta carteira?
Haroldo Levy Neto: O ISE da B3 é um índice criado em função de uma demanda de mercado, relacionada à preocupação com a sustentabilidade. Tem passado constantemente por revisões, o que é muito saudável. O ISE pode e deve sempre continuar esse processo, para se adequar às demandas e a critérios atuais. E falando em ISE, como sabemos, há muitos índices globais que contemplam as dimensões ESG com enfoques diferentes, voltados para interesses diferentes. É preciso ter em mente que as recomendações de investimentos devem contemplar o perfil do investidor para lhe oferecer o que é mais adequado ao seu nível de risco. Índices são criados devido a uma demanda específica e para um determinado mercado. Isso significa que não existe índice certo ou errado, melhor ou pior, mas que um dado índice deve ser adequado à finalidade para a qual foi criado. Ao mesmo tempo, temos que reconhecer: se diversidade é importante, padronização também é uma demanda que necessita ser contemplada, para permitir comparabilidade.
RI: Ainda sobre índices e métricas relacionadas à sustentabilidade: qual é a sua visão sobre aspectos como transparência, divulgação e padronização?
Haroldo Levy Neto: Esta é uma resposta necessariamente mais longa. Muito tem sido feito em relação à transparência e à divulgação, mas ainda pouco em relação à padronização. Temos muitos padrões já consagrados de divulgação de práticas de sustentabilidade e, entre eles, podemos citar:
Nestes últimos meses, têm ocorrido vários movimentos pelo mundo e no Brasil, no sentido de harmonização de padrões de divulgação das informações. A Security Exchange Commission (SEC) também tem novas exigências sobre a questão do clima, seguindo as orientações básicas da TDSD. E vários países da América Latina já têm alguma regulação pedindo informações sobre sustentabilidade; podemos citar México, Chile, Peru e Colômbia. A CVM já solicita às companhias abertas brasileiras, a partir de 2022, no Formulário de Referência, inserir dados sobre inventário de CO2, disparidade salarial, diversidade e outros aspectos ambientais, sociais e de governança. A IFRS Foundation iniciou um processo de união de várias entidades, que já atuavam nesse tema, para serem incorporadas ao ISSB – International Sustainability Standards Board, dentro da IFRS Foundation, em paralelo ao IASB – International Accounting Standards Board, que emite normas internacionais de Contabilidade. Foram incorporadas:
Além disso, foi feito um MOU – Memorando de Entendimentos entre a IFRS Foundation, para uma cooperação entre o GRI e o ISSB, visando harmonizar ao máximo as orientações sobre as divulgações de informações sobre sustentabilidade. No Brasil, foi criado pelo CFC – Conselho Federal de Contabilidade, o CBPS – Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade, para espelhar o ISSB. Este Comitê está sendo organizado e supervisionado dentro da FACPC – Fundação de Apoio ao CPC, nos mesmos moldes do que funciona o CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis desde 2005. Mesmo antes de colocado em funcionamento, a FACPC já enviou sugestões para as primeiras Consultas Públicas lançadas pelo ISSB. Com isso, podemos afirmar que o Brasil atua desde o início nas discussões do ISSB. Tivemos, inclusive, no mês de agosto, uma primeira reunião com Arturo Rodriguez, Líder Sênior de Mercado Ibero-América da IFRS Foundation, para traçar um plano de ação conjunto de atuação na produção e divulgação das normas que serão disponibilizadas em âmbito global.
RI: O senhor poderia comentar com os leitores da Revista RI um momento especial de sua longa e profícua carreira?
Haroldo Levy Neto: Eu teria vários momentos a mencionar. Tive uma carreira corporativa no Banco Itaú, e nessa trajetória, vivenciei experiências enriquecedoras e inesquecíveis: privatizações, lançamentos internacionais de ações e outros eventos notáveis. Essas memórias são de um valor inestimável e jamais serão esquecidas. Já no plano institucional, tive e sigo tendo a oportunidade de participar, em grande medida, de várias iniciativas que tornam o nosso mercado de capitais mais robusto. Destaco aqui minha participação na APIMEC BRASIL, no CODIM, no CPC e em vários outros centros de pensamento sobre como tornar as regras de mercado mais eficazes para as organizações e os investidores, sobre como desenvolver o mercado de capitais e, portanto, o nosso País. A satisfação de participar desses fóruns, onde tenho grandes amigos, antigos companheiros de grandes batalhas, não tem preço. Por fim, e retornando a ESG e à sustentabilidade, acredito que com iniciativas concretas em prol de um futuro melhor, nossos netos e bisnetos estarão a salvo. Se temos que criar um bom futuro, que isto seja feito por amor, não em função da dor. Sim, o lucro é necessário; sem ele, o futuro se torna incerto, mas o comprometimento de sócios e líderes empresariais com práticas socioambientais que considerem o futuro de nossas famílias é imprescindível.
Cida Hess
é economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestre em contábeis pela PUC SP, doutoranda pela UNIP/SP em Engenharia de Produção - e tem atuado como executiva e consultora de organizações.
cidahessparanhos@gmail.com
Mônica Brandão
é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como executiva e conselheira de organizações e como professora.
mbran2015@gmail.com